Capítulo 28

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Quando chegamos ao Rio de Janeiro estava chovendo, fazia muito frio o que não fazia a cidade se parecer em nada com aquela cidade onde eu fiquei isolado por três meses no início daquele mesmo ano. O Rio sempre fora muito ensolarado, mas quando a chuva nos abraçou e o frio apertou eu me tranquilizei por de repente tudo parecer um pouco diferente de como eu me lembrava.

— O que fazemos agora? — Eu perguntei para Rafael assim que atravessamos a ponte Rio-Niterói. Era a primeira coisa que eu dizia desde que deixamos Geff para trás, fora a primeira coisas que eu consegui dizer desde que voltamos à estrada.

— Vamos pedir exílio temporário — Rafael respondeu. — Vou deixá-los com a comunidade local, em Paquetá e enquanto isso vou dar um jeito de nos tirar daqui.

— Você vai se separar de nós mais uma vez? — Eu perguntei não gostando da ideia. — E se algo acontecer e...

— Não vai acontecer nada — Rafael respondeu.

— Você disse a mesma coisa em Recife — eu retruquei.

— Eu preciso mesmo te lembrar porque as coisas ficaram daquele jeito em Recife? — Ele grunhiu de volta.

Não, ele não precisava, todos nós já sabíamos que tudo aquilo só acontecera porque eu insisti em levar Geff comigo, e Rafael não estava errado em me responsabilizar por aquilo, nada do que acontecera fora culpa dele, estarmos dirigindo por dias não era culpa dele, termos de fugir não era culpa dele, era culpa minha, tudo era culpa minha.

— Diana vai ficar com você — Rafael continuou. — Ela vai cuidar de você e te treinar.

— Treinar? Para que? — Perguntei emburrado. — Para fazer o mesmo que você?

— Para você poder se defender — ele respondeu. — Você precisa aprender a segurar uma arma sim, a sua vida pode depender disso, e precisa aprender mais habilidades, precisa saber usar o que você tem ao seu favor.

— Eu já disse que não quero fazer parte dessa cruzada — eu resmunguei.

— Mas você já faz parte. Guilherme eu só preciso que você faça o que eu estou te pedindo, que você confie em mim de verdade, pelo menos dessa vez.

Eu não respondi, eu já estava em débito com Rafael, eu não podia mais continuar batendo o pé e ditando as coisas que eu faria ou não, se não fosse por ele talvez eu já estivesse perdido ou teria sido entregue aos rastreadores muito antes de me dar conta de que era Geff quem os levava até nós.

No centro da cidade Rafael estacionou o carro de qualquer jeito próximo a Praça XV, desci e o segui acompanhado de Diana até a estação de barcas. Eu não gostava muito da ideia de voltar para o mar, nos últimos dias havíamos tido contato demais com as águas e nada de muito bom aconteceu quando entramos em barcos. Mesmo assim eu o acompanhei até as barcas sem dizer nada, compramos bilhetes e embarcamos.

Chovia então havia pouca gente na estação e dentro da barca, nos ajeitamos em poltronas mais isoladas no segundo piso da barca e em silêncio fiquei vendo o mar pela janela fechada enquanto nos distanciávamos do cais.

— Eu fiquei aqui quando seu pai me disse que tinha te mandado para o Rio — Rafael falou alguns minutos depois.

— Se você sabia o que estava acontecendo por que então deixou ele me internar?

— Não é tão simples quanto parece, Guilherme. Eu não sabia se você tinha o mesmo dom que nós ainda, isso não costuma acontecer na sua idade e quando acontece é sempre mais tarde, depois dos vinte.

— Isso não anula o meu atestado de louco — retruquei em tom ácido.

Desembarcamos pouco menos de uma hora depois na Ilha de Paquetá e só depois de alguns dias ali foi que eu entendi porque os principais entrepostos das comunidades ficavam em ilhas ou perto do mar, tinha algo a ver com a gravidade, a lua e as ondas, qualquer coisa assim, as cidades costeiras eram as que abrigavam as principais cúpulas das comunidades volitares.

VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora