Capítulo 34

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— Parece que vai chover — Jonas falou quando descemos do carro na várzea onde costumávamos estacionar nas vezes em que íamos ali.

Sumidouro sempre foi um lugar para onde gostávamos de ir quando não dava para ir para muito longe, a cidadezinha ficava há mais ou menos cinquenta minutos de carro e a Cascata Conde D'Eu era a maior do estado do Rio de Janeiro, sempre era um lugar bacana para passar uma tarde e distrair longe de casa e dos nossos parentes. Ali era o lugar perfeito para um último encontro, já que eu não tinha tempo para planejar uma viagem melhor com meus amigos e tinha urgência em desaparecer.

Quando saímos Rafael tomou a estrada sentido Minas e nós seguimos pela serra sem pressa até chegar em Sumidouro. Não paramos em lugar algum, como Augusto ia na frente Geff só nos seguiu, e só paramos quando chegamos na área específica para estacionar antes de entrarmos na pequena trilha.

— E desde quando você tem medo de chuva? — Eu perguntei para Jonas. — Você é quem mais se anima com esse tipo de aventura.

Ele riu desconfortável mas não respondeu, só deu de ombros e vestiu um casaco que havia trago. Os outros também se agasalharam, e eu me arrependi de não ter pego roupas mais quente quando estivera em casa, mas logo Augusto resolveu meu problema. Ele havia levado uma mochila e dentro da mesma estava o casaco de lã que ele havia me dado de presente no dia do meu aniversário e que consequentemente eu havia deixado no carro no dia da fuga.

Eu agradeci por ele ter se lembrado do casaco e principalmente ter guardado para mim, aquilo era importante, e seria bom pelo menos dessa vez poder sumir com uma lembrança física dele. Quando vesti o casaco vi que ainda tinha o seu cheiro e foi ainda mais confortável saber que depois que eu partisse dali poderia continuar sentindo-o.

Estava ventando bastante na várzea, mas assim que entramos na trilha entre as árvores o vento amenizou, mas não serviu de consolo. Era uma tarde típica de inverno, a previsão era de chuva e eu contava com isso, mas embora não chovesse ainda logo chegaríamos à cascata e a queda d'água de cento e vinte metros estaria respingando água fria para todas as direções.

— Vamos gente! — Eu gritei tentando soar natural e positivo. — Isso é para ser divertido. Geff com certeza trouxe algo para a gente fumar, quando chegarmos a gente esquenta o corpo.

Quando chegássemos lá teríamos tempo para conversar, para dissimular um pouco mais, e fingir que tudo estava voltando ao normal, eu teria algumas poucas horas de paz com os meus amigos e então na hora certa eu me levantaria e teria de ir embora, eu teria de sumir diante dos olhos deles, para sempre. Para mim era dolorido imaginar a partida e abandoná-los ali sozinhos, deixá-los no meio do nada encarando uma cachoeira gigantesca e um rio transbordando no final. Mas não tinha jeito mais fácil de fazer aquilo, precisava ser do jeito difícil.

A trilha não era muito longa, nem difícil, o lugar era de fácil acesso e estávamos indo para a ponta de uma pedra de onde dava para ver a queda d'água de um ângulo bastante privilegiado. Os outros caminhavam devagar, mas depois me dei conta de que eu era o único que tinha pressa, que tinha urgências. Eu fui andando na frente sozinho e tomando distância sem perceber enquanto eles conversavam entre si coisas banais. Então Geff apertou o passo e me alcançou.

— Nós precisamos conversar — ele disse com a voz grave.

— Não temos nada para conversar — eu respondi tentando soar indiferente.

— Temos sim! — Ele grunhiu. — Precisamos falar sobre o que aconteceu.

— Geff o que quer que você diga não vai desfazer o que você fez. Então deixa as coisas como elas estão. E finja que está tudo bem, eu estou me esforçando, você deveria ser melhor nisso do que eu.

VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora