Rafael partiu naquela tarde, eu não o vi saindo, mas quando saí do quarto vi pelo olhar de Diana e pelo tom apreensivo da sua voz que ele já tinha saído. Eu não esperava que ele se despedisse, eu não esperava que ele avisasse, mas ao mesmo tempo eu queria que ele tivesse dito algo.
Naquele dia choveu, o barulho das ruas logo cessou com os primeiros respingos, assim como as famílias e visitantes inundaram as ruas do Recife Antigo logo se dispersaram e o silêncio tomou o fim de tarde.
Eu não tive fome, estava me sentindo estranho, de um jeito nervoso e em alguns momentos agonizante, talvez estivesse finalmente enlouquecendo, aquilo tudo era loucura, não me surpreenderia surtar logo naquele momento no meio de tudo aquilo.
Quando saí do quarto eu não fui atrás de Rafael, de certa forma eu até desejava que ele não estivesse mais ali, seria melhor não cruzar caminho com ele, não depois do que eu havia feito. Eu não me reconhecia, e não conseguia explicar para mim mesmo porque tive aquela reação.
No fundo eu estava desesperado, eu ainda não conseguia aceitar que estava afastado de casa por definitivo e correndo o risco de ser levado contra a minha vontade para um lugar pior. Era difícil ter como porta voz de boas e más notícias apenas Rafael e então tê-lo partindo para outra missão e me deixando ali à deriva entre as dúvidas e incertezas. E havia o medo, sempre o medo, de sair sozinho, de fazer algo errado, ou qualquer coisa que nos denunciasse, eu não queria cometer erro algum e ser penalizado ou mesmo expulso da comunidade, eu não queria que qualquer coisa ruim acontecesse e com isso eu tinha medo de fazer qualquer coisa, até mesmo chegar na varanda do quarto e ver o movimento da rua, eu tinha medo de sair e até mesmo de conversar com os outros.
Quando Rafael partiu eu só tinha Geff, mas por mais que eu o amasse e ele quisesse o meu bem ele não poderia me ajudar muito ali, ele não podia me explicar o que estava acontecendo, ele me consolava durante a noite, mas durante o dia eu tinha muito medo, e tinha medo de ficar sem ele também.
— Você se machucou? — Diana perguntou quando eu saí do quarto.
— Não — eu respondi.
Eu me sentei em uma poltrona na sala e ela ficou comigo lá, por alguns minutos em silêncio, mas depois falando de algumas coisas aleatórias sobre o dia e o clima. Eu não estava muito afim de conversar, respondi retoricamente e deixei o diálogo morrer. Depois de alguns minutos beirando já o tédio me virei para Diana e perguntei o que tinha naquela cidade e quais os lugares que poderíamos ir para nos divertir.
— Está chovendo — ela respondeu.
— E dai? — Perguntei dando de ombros. — Eu não vou ficar preso nessa casa esperando alguma coisa acontecer.
— Tem alguns bares por aqui — ela respondeu por fim. — Algumas casa noturnas também.
— Então vai se trocar.
— O que? — Ela perguntou num sobressalto. — Eu não vou sair na chuva.
— Vai sim — eu rebati determinado. — Eu vou sair e as regras são claras, eu não posso sair sozinho, mesmo que eu vá com Geff, você vai comigo.
— Eu não saio assim — ela insistiu na negativa. — Eu não gosto dessas coisas.
— Mas vai gostar — respondi me levantando e indo na direção das escadas. — Meia hora, e vamos sair.
Ela deu um sorriso tímido e se deu por vencida.
Geff no começo não gostou da ideia. Reclamou do tempo e não entendeu a minha súbita vontade de sair. Eu praguejei e disse que estava cansado de ficar parado, que eu não iria ficar ali de braços cruzados esperando alguém me dizer o que podia ou não fazer. Em tese éramos livres, podíamos circular pela cidade e supostamente viver uma vida normal. Quando disse que Diana iria conosco ele pareceu convencido e se levantou para trocar de roupa também.
VOCÊ ESTÁ LENDO
VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Fiksi RemajaVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...