Capítulo 8

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Meu coração batia rápido, eu senti a pressão do sangue, senti outra vez as extremidades ardendo e então tudo parou. Era diferente, não era queda de pressão e teto preto por maconha, eu estava limpo, e meu coração batia rápido, a pressão sanguínea aumentava era totalmente diferente, tudo acontecia tão rápido que antes de eu me dar conta de tudo eu já não sentia mais nada. Não havia suor, não era cansaço, era uma falta de ar atordoante, era uma urgência incompreensível de todos os órgãos do meu corpo.

Então minhas mãos não se agarravam mais à rocha, meus pés não estavam mais suspendendo o meu corpo desfiladeiro acima, eu simplesmente estava suspenso no ar, eu flutuava.

Eu ia cada vez mais alto, eu alcancei o topo do desfiladeiro, mas continuei a subir, o mundo parecia um espiral ao meu redor, tudo parecia girar, eu tinha vertigens, mas sentia meu corpo subindo, o vento passando entre meus membros e o frio do início da noite tocando o meu corpo quente. Eu me sentia mais leve que o ar, quase como que invisível, como um fantasma, era como se eu não estivesse ali de verdade. Quanto mais alto eu ia mais o céu se iluminava, mais estrelas apareciam no céu e a cidade debaixo de mim se tornava só um borrão de luz avistado de canto de olho.

Eu tentei controlar a respiração, o frio na barriga se sobressaía ao calor do resto do corpo, era como descer uma montanha russa, mas aquele frio vazio na barriga não parava de repente, ele aumentava e quanto mais aquela sensação se abrandava dentro de mim mais minhas mãos ficavam quente e mais alto eu ia.

Respirei fundo, eu fechei os olhos e tornei a abrir na esperança de acordar daquele sonho, eu fechei os olhos várias vezes esperando ver o teto do quarto quando tornasse a abrir os olhos, mas eu não via, eu só via o céu, as estrelas e as nuvens cada vez mais próximos. Era desesperadora a sensação de flutuar sem destino.

Depois de tanto respirar e fechar os olhos sem cansar meu corpo relaxou, era como se meu coração não batesse mais e os meus olhos ficaram fixos no céu. Era lindo, no meio do desespero as nuvens próximas de mim e o céu estrelado eram lindos, um contraste inimaginável.

O frio na barriga foi diminuindo, como quando a gente se acostuma com a queda na montanha russa, parecia que meu corpo e os impulsos inconscientes já se habituavam à subida vertiginosa. Eu relaxei, se aquilo era um sonho eu não tinha o que temer.

A sensação que se seguiu foi de prazer, foi de paz. Eu senti meu corpo estabilizando-se no ar e de repente eu parara de subir, eu não tinha ideia de em qual altura eu estava, mas eu sabia que não estava subindo mais.

Eu girei o meu ombro e meu corpo obedeceu o meu comando, diferente da primeira vez, sem aquele desespero, eu consegui me virar e então eu eu estava de frente para o chão, e não mais para o céu. A cidade se confundia com o campo, o bosque e o desfiladeiro pareciam todos planos, não haviam montanhas ou serra, tudo parecia o mesmo borrão debaixo de mim e eu flutuava acima de tudo aquilo, como um astronauta em gravidade zero meu corpo estava suspenso no ar.

Eu fiquei estarrecido por longos segundos, no começo eu não conseguia sentir o meu corpo por inteiro, mas então eu sentia meus pés flutuando e minhas mãos se estendendo na direção do chão.

Eu quis descer, eu quis voltar ao chão, queria acordar daquele transe, acordar daquele sonho. Meu corpo foi cedendo ao silêncio da noite e da mesma forma que subiu no céu começou a descer, devagar e vertiginosamente eu via o chão se aproximando e os relevos tomando forma outra vez, os montes se erguendo e o desfiladeiro logo abaixo de mim.

Não era um sonho. Quando eu desci pelo desfiladeiro eu vi que não era uma ilusão, eu não estava sonhando com aquilo, nem imaginando eu realmente estava solto no ar, não era como nos sonhos onde eu me via de fora, onde eu assistia ao meu corpo flutuando, era diferente, era eu ali, o tempo todo fora eu.

VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora