Capítulo 10

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Eu estava suando e não conseguia respirar direito, eu forçava o ar para dentro dos pulmões, mas ardia, minha garganta rangia e eu esfregava os olhos com as mãos suadas tentando acordar de vez.

— Tá tudo bem? — Geff perguntou se virando com a voz modorrenta com sono. — O que foi? — Ele se levantou e pôs as mãos nas minhas costas. — Respira devagar, calma.

Eu fui segurando o desespero da respiração e lentamente fui me acalmando enquanto Geff massageava minhas costas e respirava devagar comigo me mostrando como manter o ritmo do fôlego.

— Tá tudo bem — ele disse. — É só uma crise de apneia. Você teve um pesadelo.

Eu engoli em seco pedi desculpas por tê-lo acordado. Ele não reclamou, disse que não tinha problema, afinal já era quase dia.

— Se importa se eu fumar um cigarro? — Eu perguntei sentindo as mãos tremendo.

— Você acaba de sair de uma crise de apneia e quer fumar? — Ele perguntou com um leve tom de sarcasmo.

— Vai me acalmar.

— Tenho coisa melhor para gente fumar — ele disse. — Quem sabe assim você volta a dormir?

— Eu não vou conseguir dormir de novo.

— Tá chovendo muito — ele disse abrindo o ziper da barraca e o deixando entreaberto. As gostas de chuva respingavam na entrada da barraca, mas ele pareceu não se importar. — A gente não vai poder sair direito hoje então é melhor você dormir um pouco mais.

Ele se sentou e acendeu o cigarro de maconha.

— Desculpa — eu pedi e ele levantou o olhar para mim sem entender.

— Pelo que? — ele balbuciou com o cigarro no canto da boca.

— Por ter te acordado, sei lá — falei com a mão na testa e escorado no joelho.

— Não precisa se desculpar — ele respondeu depois de soltar a fumaça, depois estendeu o cigarro para mim e perguntou: — Você consegue se lembrar?

— De que? — Perguntei sem saber do que exatamente ele falava.

— Do sonho — ele respondeu.

— Sim — admiti. — Quer dizer... mais ou menos.

— Eu também estava no meio de um sonho quando acordei.

— E com o que você sonhava?

— Com minha casa — Geff respondeu. — Tinha cheiro de café fresco e bolo recém saído do forno. E você?

— Com a chuva — respondi. — E a cachoeira.

— Lena é quem sempre diz que sonhos são só reações do nosso cérebro reorganizando nossas memórias e vontades, ou algo assim.

— Lena manda a gente jogar no jogo do bicho toda vez que sonha com algum animal — eu disse rindo.

— Mas ela nunca ganhou nada.

Terminamos de fumar e Geff voltou a dormir, eu disse que tentaria dormir um pouco também, mas não consegui, dei um ou dois cochilos mas acordei logo com o barulho da chuva. Quando o sol nasceu eu desisti de tentar dormir mais, peguei o celular mas ali o sinal era pior que na Praia do Sono. Fiquei jogando um jogo qualquer durante uma hora e então ouvi o barulho de Lena saindo da barraca assim que a chuva deu uma trégua. Saí também e a ajudei a secar o fogareiro e a fazer um pouco de café. Quando ficou pronto eu peguei uma caneca e levei para Geff, pensando no sonho que ele tivera com café, imaginei que ele fosse gostar. Ele acordou sem resmungar e bebeu o café grato.

VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora