Capítulo 20

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No dia seguinte antes de partir Rafael veio falar comigo, ainda era cedo, mas eu não tinha conseguido dormir muito, estava de pé já fazendo companhia a Diana enquanto ela preparava o café. Diana conseguia fazer aquele truque que Rafael me mostrara em outras escalas, ela conseguia atrair para si objetos que estavam do outro lado da cozinha e até mesmo acender o fogo sem isqueiros ou fósforos. Eu estava encantado com o que ela fazia e assim como Rafael dissera ela era atenciosa e bem disposta a ensinar.

Rafael desejou bom dia e perguntou se eu podia sair por alguns minutos com ele. Fui seguindo-o devagar pelas ruas calçadas e de trilhos antigos. As ruas estavam movimentadas, como estivera no dia anterior, muitos turistas passavam e famílias aproveitavam o domingo de sol pela praças e museus. Eu ainda não havia me acostumado a estar em uma cidade grande, pelo menos não livre, e ver tantas pessoas diferentes e estranhas, era um misto de sensação, insegurança e alumbramento. Recife era lindo à luz do dia, as cores dos prédios e sobrados antigos luziam contra o sol, e eu consegui perceber detalhes e cheiros que eu não havia notado no dia anterior.

— Eu só queria conversar com você — Rafael disse quando nos distanciamos do sobrado, — antes de eu sair de novo.

— Pois diga.

— Meu trabalho não é exatamente aqui em Recife — ele explicou. — Eu trabalho pela região, rastreando e resgatando, como você deve ter percebido. Eu não costumo ir longe, exceto com você que foi um caso à parte, eu sempre fico perto de Recife. Mas dessa vez é diferente é diferente também.

— Diferente como?

— Eu vou à Minas — ele respondeu. — Temos informação de um laboratório clandestino lá.

— Que tipo de laboratório? — Perguntei já imaginando o pior.

— Testes e replicações. Nem todos de nós somos capturados e apagados, quanto mais habilidades desenvolvemos maior o nosso risco de nunca sermos libertados.

— O que isso quer dizer?

— Você já deve ter entendido que o que a gente faz não é só voar, isso que tá dentro de nós não é um superpoder como nos filmes de heróis.

— O que é então?

— Ninguém sabe direito, experiência genética, alteração no DNA, projeto soviético, tem mil possibilidades. O problema é que isso se espalhou feito uma doença, nós nos escondemos há muito tempo, o suficiente para nos multiplicarmos. A gente não sabe muito, mas sabemos que os rastreadores cumprem o papel de higienização, de limpeza e de nos dizimar, eles nos querem em extinção. Mas tem quem tenta entender e isolar isso, o fator genético ou o que quer que seja. Já encontramos pelo menos outros dois laboratórios como esse, e conseguimos sabotar. É o que vamos fazer agora.

— Você vai para a toca do lobo.

— Mais ou menos isso.

— E como você... sei lá, sabotar esse laboratório? — Perguntei meio incerto daquilo, na minha cabeça parecia loucura.

Eu não queria me importar com Rafael, eu queria não ligar para ele e deixar que ele fosse naquela missão suicida sem ressentimentos, queria não me importar se ele morresse, e não me preocupar enquanto ele estivesse fora e não tivéssemos notícias, mas não era assim que as coisas funcionavam. Quando eu olhava para ele eu conseguia reconhecer o meu pai, nos traços físicos e no jeito de olhar, por mais que eu estivesse perdido ali naquela cidade rodeado de estranhos ele era, além de Geff, a única coisa familiar para mim, ele conseguia me remeter àqueles dias quando eu ainda não me importava e não me preocupava com perseguições e planos e comunidades. Por mais que ele dissesse que eu estaria seguro com Diana, que os outros cuidariam de mim por enquanto, e que logo meus pais voltariam para mim eu pensava naquele momento, no presente e na necessidade de tempos de paz, de poder contar com ele já que finalmente eu conseguia confiar.

VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora