Três horas depois estávamos em um quarto de hotel no centro de Teresópolis. Pegamos um quarto no alto do prédio, e ficamos de encontrar meu pai no terraço, onde havia um lounge e um bar que àquela hora do dia ainda não estava funcionando. Rafael havia pensado em tudo, dissera o melhor caminho para o meu pai, o convencera a dar voltar pela cidade e observar se estava sendo seguido e depois ir para o hotel onde nos encontraria. Fica no alto do prédio era o melhor lugar pois se no final meu pai tivesse sido seguido ali seria o meio mais fácil de fugir e não ser seguido.
Eu estava começando a entender como aquilo funcionava, como organizar os pensamentos e prestar atenção aos meus batimentos cardíacos até que acontecesse. Em momentos de tensão parecera mais fácil, mas quando estava tudo calmo era difícil pensar e me concentrar, sentir todo o corpo ao mesmo tempo não era simples, mas acontecia e quando eu me dava conta eu já estava no ar.
Enquanto meu pai não chegou Rafael não nos deixou mais sozinho, estava desconfiado demais e preocupado com a demora de meu pai, com medo de que algo tivesse acontecido. Mas nada aconteceu, meu pai apareceu e assim que me viu correu para um abraço, algo que não era tão comum da parte dele.
Rafael disse um oi encabulado, era claro que os dois se conheciam, provavelmente a história de Rafael era verdadeira, assim como a parte em que os dois não se entendiam e não se davam bem.
Meu pai havia levado uma mochila com algumas coisas que eu poderia precisar, roupas, documentos e coisas assim. Geff ficou de canto fumando um cigarro enquanto observava o reencontro nada feliz.
— Te seguiram? — Rafael perguntou depois que meu pai entregou a bolsa.
— Não — ele respondeu.
— Pai, o que está acontecendo? — Eu perguntei sério. — Você sabia disso tudo?
— Mais ou menos — ele responde cabisbaixo. — Na verdade eu não acreditava muito.
— Ele é mesmo meu irmão? — Eu perguntei apontando para Rafael.
Meu pai fez que sim com a cabeça e me segurou para que eu prestasse atenção ao que ele disse.
— Ele vai cuidar de você — ele falou tentando me transmitir segurança. — Ele vai te ajudar com isso. É só por um tempo, enquanto eu e sua mãe pensamos no que fazer. A gente vai te buscar depois, a gente vai dar um jeito.
— Que jeito? — Eu perguntei incrédulo.
— Eu não sei, um jeito. Você só precisa tomar cuidado. Se precisar de alguma coisa pede ao Rafael, eu vou dar um jeito de mandar para você, dinheiro ou o que for.
— Eu não quero ir com ele — eu respondi.
— Eu sei filho, eu sei. Mas você tem que ir.
— Para onde ele vai me levar? — Eu perguntei segurando uma vontade de chorar. Eu acreditava que vendo o meu pai ele desmentiria tudo aquilo, ele diria que não tinha nada acontecendo e que ele pudesse me levar de volta para casa, como uma criança acreditando em fábulas, eu acreditava que meu pai pudesse se redimir de alguma forma e me levar de volta com ele.
— Recife — Rafael respondeu quando meu pai não soube ao certo o que falar.
— O que? — Eu perguntei não querendo acreditar.
— Eu tenho amigos lá que vão nos ajudar.
— Nós vamos encontrar você depois — meu pai disse mais uma vez tentando me acalmar. — Vamos dar um tempo, depois vamos levar tudo para onde você estiver, vamos voltar a ser uma família.
Eu quis gritar com o meu pai, eu quis retrucar e dizer que nós não éramos mais uma família, que havíamos deixado de ser muito antes de eu nascer, que tudo aquilo era loucura e que eu não podia ir embora com aquele estranho que eu acabara de descobrir ser meu meio irmão. Mas não adiantaria, meu pai não tinha culpa daquilo, pelo menos não de eu ter de ir embora, não de eu precisar fugir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Teen FictionVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...