— Eu estava noiva — Diana me contou. — Sonhava em ter uma casa talvez como essa, encher os quartos de filhos e ser feliz.
Diana teve muitos homens em sua vida, teve muitos amores e muitas ilusões, mas sempre foi resiliente, sempre objetiva e determinada em seu projeto de felicidade. Com vinte e três anos conheceu Paulo, um homem cinco anos mais velho que ela e que naquele momento pareceu ser o homem ideal. Ela se entregou como nunca antes, ela se deixou ser levada por uma paixão idealizada e se deixou ser enganada por uma paixão que ele idealizou também. No fundo nenhum dos dois se amavam, mas viam um no outro uma espécie de segurança, talvez aquela mesma que Diana transparecia até então. Se acomodaram em um namoro sem grandes emoções.
— Eu acreditava que o amava — ela disse. — Eu juro que acreditei que aquilo de alguma maneira era amor. A forma como ele me tratava, o jeito como dormíamos juntos, a delicadeza e o carinho no agir.
Mas Diana não sentia mais aquele fulgor do primeiro encontro, com o tempo deixara de sentir o tesão dos beijos e o prazer no meio da noite. Mas então ele apareceu com um anel e um pedido. Diana viu ali tudo sendo resumido, os seus sonhos, a sua vida. Por mais que não o amasse perdidamente ao ponto de morrer por ele, ela gostava de Paulo o bastante para poder viver com ele. Seriam felizes, ao menos ela imaginava que seriam, teriam uma boa casa, talvez dois ou três filhos, ela cuidaria das crianças e das coisas da vida e ele seguiria com o bom emprego e provendo o bom futuro que ela queria para si e os filhos, mesmo que para isso fosse preciso abdicar em parte da sua vida e de uma parte dos seus sonhos particulares também. Ela aceitou.
Escolheu um vestido de noivas de conto de fadas, véu e grinalda e cerimonia na praia, ali mesmo, perto de Recife. As melhores amigas seriam madrinha, seria levada ao altar por sua mãe orgulhosamente por cumprir o lugar do pai ausente, e teria os sobrinhos abrindo caminho para ela. Tudo era perfeito, como traçara em pensamentos e como desenhara mil vezes antes de dormir e esquecer.
— Mas é que a gente não quer conhecer quem a gente ama, ninguém quer ver o pior na pessoa que desejamos. E às vezes nós queremos tanto aquela pessoa que ficamos cegos para o que é tão fácil de se ver.
Na véspera do casamento eles dormiram juntos, cama chique de hotel com flores e um dossel. Ele a beijou e a teve uma última vez antes das núpcias oficiais, antes da lua de mel e de trocar o anel em seu dedo. Então Diana se convenceu que aquela sua dúvida muda no canto do peito talvez fosse só insegurança, talvez ela o amasse sim e o amasse de verdade, a ponto de morrer e viver por ele, até que a morte os separasse.
Naquela noite Diana acordou no meio da noite de um sonho triste, um sono agonizante onde ela sentia-se afogando e afundando nas profundezas escuras de um lago. Ela acordou no susto e tateando no escuro procurou por Paulo entre os lençóis ao seu lado na cama, mas ele não estava lá, ele não estava mais no quarto e já naquele momento ela sentia que ele já não estava mais com ela.
Saiu do quarto à procura dele, andando nas pontas dos pés para não acordar ninguém na casa, passou pelo corredor vazio, checou o banheiro e só foi dar com a sombra dele na sala. Ele não estava sozinho, ele se embrenhava em uma forma animalesca sobre o corpo de sua irmã mais velha, ele a possuía como quem possui um animal, nus sobre o tapete da sala ele desonrou aquela casa, desonrou Diana e toda a sua família.
Diana não teve fôlego nem forças para fazer nada, ali mesmo ela se quedou paralisada e enquanto o choro lhe escorria pelo rosto ela assistiu aquele ritual profano até que os dois se fundiram em um gemido e a besta se deu por saciada.
Antes que Paulo voltasse para o quarto ela fez o caminho de volta ainda na ponta dos pés e se deitou um minuto antes de ele também voltar e se deitar ao seu lado como se nada tivesse acontecido, como se aquele tempo todo ele estivesse ali adormecido.
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VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Teen FictionVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...