***Trilha sonora especial para o capítulo, um embalozinho para quem ainda não conhece o choro, ritmo popular carioca. Boa leitura!
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No fim da tarde Rafael voltou para casa sem dizer onde estivera ou que esteve fazendo e ninguém perguntou. De repente aquele dia tomou ares de despedidas, dava para sentir no olhar de Rosa, que já estava se acostumando em ter a gente ali com ela, como companhia durante o dia e a noite, e também na relação dela com Diana, e mesmo na intimidade de Rafael e José. Mas não podíamos ficar, não nos era permitido, pelo menos Rafael e eu não.
Rafael havia levado um par de óculos sem grau para que eu usasse e cobrisse pelo menos parte do meu rosto. Eu coloquei e Diana riu um pouco no começo, mas depois admitiu que não havia ficado ruim, havia até mesmo dado um ar mais sério para mim.
— Quando eu te vi pela primeira vez você parecia só um garotinho meio perdido e franzino. Olha só para você — ela disse me apontando no espelho. — Foi feito um homem.
Quando Diana falou aquilo ela assumiu de novo aquele tom de voz maternal e que era gostoso de se ouvir, era como um alento no meio da solidão que era estar longe de casa e sempre fugindo.
Ela amarrou os cabelos no topo da cabeça, fez uma maquiagem bem marcada e bonita, pintou os lábios de vermelho e sorriu para mim com os dentes impecavelmente brancos. Diana era uma muito bonita, de todas as formas e pontos de vista.
Rosa adorou a ideia de ir para a roda de choro com a gente, ao contrário de Rafael e José que preferiram ficar em casa.
Pouco antes de sair Rafael me chamou para conversar do lado de fora da casa, me estendeu um telefone celular e disse que eu deveria ligar para algum dos meus amigos, deveria avisar que passaria no dia seguinte na cidade e que queria que eles fossem comigo para sumidouro, para uma tarde no parque aos pés da cachoeira.
— Não seria melhor se eu fosse com você? — Eu perguntei receoso de fazer aquela ligação. — Não sei se eu consigo voltar para casa. E talvez fosse mais fácil se eu sumisse com um de vocês, com Diana talvez, ou então ir para Minas com você.
— O ideal é que estejamos separados — Rafael respondeu. — Eles precisam acreditar que não estamos juntos, que nos separamos quando deixamos Geff para trás. Você vai voltar para casa porque é a única coisa que conseguiria fazer sozinho, seria o único lugar para onde iria se não estivesse mais com a gente.
— E se eles me alcançarem? — Eu perguntei tremendo com o celular na mão. — E se algo der errado?
— Enquanto você estiver com os seus amigos por perto eles não vão pegar você.
— Mas eles quase pegaram a gente em Recife — eu contestei.
— Dessa vez é diferente — Rafael me garantiu. — Confia em mim. Além do mais Geff precisa ir com vocês.
— Você compreende o que você está me pedindo para fazer?
— Sim — Rafael respondeu sério. — E eu te prometo que é a última vez que eu te peço para fazer algo assim, e é a última vez que eu vou te pedir para confiar em mim.
— Eu confio em você — respondi sem hesitar.
Rafael esboçou um sorriso, mas não terminou de sorrir, antes que dissesse algo Diana apareceu na porta chamando por ele.
— Faz a ligação — ele disse me dando as costas e indo ver o que Diana queria.
Eu fiquei encarando o celular por longos segundos sem saber se ligava ou não, se tinha coragem para isso ou não, se conseguiria falar alguma coisa ou se as palavras sumiriam de repente como pareciam já sumir. Eu só tinha que digitar um número, que fosse o de Lena, que fosse o de Jonas ou o de Augusto, qualquer um dos muitos números que eu sabia de cor, era só discar e dizer que eu estava voltando, que eu tinha saudades, e mentir dizendo que estava tudo bem, que estava tudo certo e que eu estava indo de volta para eles.
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VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Novela JuvenilVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...