Na semana seguinte Geff começou a trabalhar com Luís e Robson no porto, ele carregava caixas e aprendia a operar máquinas, não era um trabalho fácil, mas Geff parecia gostar. Ele chegava em casa cansado a noite e se deitava ao meu lado enquanto eu lhe contava sobre o que Diana me ensinara e as histórias que dela eu ouvia.
Parecia que éramos felizes, sei lá. Eu não tinha notícias de Rafael, mas com os dias eu deixara de me preocupar, deixara de esperar e imaginar o pior. Diana me ocupava e entre uma receita de bolo e outra ela me ensinava como mexer a massa sem usar as mãos.
Aqueles eram dias tranquilos, dias em que eu não precisava pensar e me torturar com o medo da fuga, ou com o ressentimento do abandono, eu conseguia sorrir e o cheiro de bolo no forno era como sonhar. Eu me acostumava a ideia de que ali era o meu novo lar, que ali começaria a minha nova vida, mas ainda tinha medo do que poderia acontecer, eu ainda entendia pouco e não queria mais ter inseguranças.
Vez ou outra tornávamos a sair, Diana gostava da noite e me fazia bem circular pela cidade como uma pessoa normal, voltamos algumas vezes para jogar sinuca e em outros fins de tarde quente saíamos para beber maltado não muito longe dali. Quando Geff precisava trabalhar até de noite Diana e eu íamos para o prédio abandonado coma vista para a ponte e para o mar e ficávamos fumando maconha e tentando fazer acrobacias enquanto o dia terminava, o sol se punha e a noite vinha.
Diana então me explicou o uso das forças, duas forças essenciais que muitas vezes podiam salvar a nossa vida. Não era algo fácil de se fazer, não era simples como voar ou controlar a gravidade, mas não era impossível, uma delas inclusive eu já tinha conseguido.
Eu havia estudado algo parecido com aquilo no ano passado, nas aulas de física eu precisei quebrar a cabeça para entender a força nuclear, mas ali, do jeito que Diana explicava tudo era mais simples e mais fácil de entender. A força fraca enfraquece e repele qualquer matéria, qualquer corpo, quase da mesma forma que acontece em nível atômico, a força fraca impedia o contato e o toque da matéria. Foi o que eu havia feito com Rafael, eu o havia empurrado e empurrado a mim em direções opostas, ele não conseguia me alcançar porque a força que exercia era invisível como dois ímãs que não se repelem. Ela me mostrou como funcionava, ela veio correndo na minha direção e eu corri na direção dela pelo terraço do prédio e quando nossos corpos estavam prestes a se chocar ela fez acontecer, com força nossos corpos foram empurrados para trás nos afastando de novo.
A segunda era a força forte, exatamente o contrário da força fraca, ao invés de repelir o outro a força forte atraía, como o ímã atrai o metal, quando ela demonstrou nossos corpos foram atraídos e eu senti meus pés sendo arrastados sobre o chão até que eu me colei a ela, por mais que eu tentasse me desprender eu não conseguia, ela de fato me prendia a ela.
As duas forças eram de extrema importância, a força fraca já salvara muitos de serem alvejados por balas e até mesmo serem capturados, e a força forte era fundamental em um resgate e no voo alto no céu carregando outro volitare, na maioria das vezes ferido ou incapaz de voar. Eu lembrei daquela noite com Geff no quarto, quando nos beijamos e voamos juntos, eu não o segurava no ar com força, ele flutuava comigo, tão leve quanto eu.
Mas as duas forças eram cansativas, o efeito não durava muito tempo e quando acabava nosso corpo ficava exausto e pesado demais até mesmo para voar. As duas ações não eram como brincar com a gravida, ou com a energia elétrica ou as ondas de rádio, era extremamente cansativo e uma última carta na manga que só usávamos quando necessário.
Eu estava contente por poder aprender com Diana, era um alento saber que mais pessoas podiam fazer o mesmo que eu, e que aquilo não se resumia a voos descontrolados e sonhos estranhos no meio da noite. Havia uma infinidade de possibilidades e era bom ter alguém com Diana paciente o bastante para me ensinar e me fazer despertar aquilo tudo que havia dentro de mim.
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VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Novela JuvenilVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...