Quando voltamos do supermercado Rafael estava na sala, inquieto e andando em círculos sobre o tapete de crochê que Diana mesmo crochetara.
— Graças a Deus — Diana disse soltando as sacolas do mercado no chão e partindo para um abraço aliviado. — Você voltou.
Rafael não precisara de nada eu já percebera que algo não estava bem, pelo seu olhar e pela forma como abraçara Diana com certo distanciamento eu sabia que algo havia de errado e que nada de bom viria dele dali em diante. Eu mal tive tempo de me sentir aliviado, mal tive tempo de ficar feliz e tranquilo por ele ter voltado inteiro antes de ele falar.
— Voltei. Mas precisamos ir embora agora.
Diana se afastou dele com certo choque no olhar, só então ela percebera a mesma atmosfera que eu, só então ela sentia a preocupação no olhar de Rafael.
— Precisamos? — Perguntei. Era a primeira coisa que eu falava para ele desde que nos enfrentamos no dia da partida.
— Não façam nada agora — Rafael pediu tentando parecer calmo. — Continuem fazendo o que quer que estivessem fazendo. Tem olhos nós dois prédios da frente e provavelmente ouvidos nas paredes.
— Do que você está falando? — Eu perguntei.
— Eles estão nos vigiando, Guilherme — Diana respondeu voltando a pegar as sacolas que deixara no chão e fingindo interesse em guardar as compras.
Fomos todos para a cozinha e nada confortáveis guardamos as compras juntos enquanto conversávamos.
— Guilherme liga para Geff — Rafael pediu quase num sussurro. — Diga que ele não pode voltar para casa, vamos encontrá-lo no metrô daqui uma hora.
— Para onde vocês vão? — Diana perguntou pegando uma sacola de farinha e guardando no armário sobre a pia.
— Olinda — Rafael respondeu. — Você fica Diana, e sem truques. Eles estão espreitando, mas não vão nos abordara até que tenham certeza de alguma coisa. Eu vou levar Guilherme e Geff comigo e se em dois dias eles não forem forem embora, ou atrás da gente, você saí daqui também. Eu já avisei aos outros, só precisamos avisar ao Luís. Você pode tentar falar com ele?
— Por que eles estão aqui? — Perguntei.
— Eu não sei — Rafael respondeu. — Não sei se me seguiram, ou se já estavam aqui antes de eu chegar. Talvez tenham vido atrás de mim, ou talvez tenham vido atrás de você.
— E o que fazemos então?
— Fugimos — Rafael respondeu seco. — Não podemos fazer nada contra eles aqui. Precisamos avisar Justus antes de tomar qualquer decisão. Você vai no seu quarto, pega seus documentos e os de Geff e vem comigo.
Eu aquiesci e deixei os dois a sós enquanto corria para o quarto para pegar minhas coisas, mas ainda pude ouvir Rafael mudando o tom de voz de seco para afetuoso pedindo para Diana ser cuidadosa, para ir atrás dele caso acontecesse alguma coisa e para ligar caso precisasse dele ali.
Eu peguei meus documentos com um olho no quarto e o outro de canto na janela, tentando ver qualquer movimento estranho nos prédios da frente, mas eu não conseguia ver nada, eu não sabia o que Rafael tinha visto e nem porque ele temia tanto. Mesmo assim fiquei com medo e peguei depressa as minhas coisas e desci as escadas.
Quando voltei Rafael vi que Rafael tinha uma arma no cós da calça nas costas, ele procurava por alguma coisa na sala, subiu nos móveis e então encontrei no alto da estante em um vaso de louça um molho de chaves.
— Liga para Geff agora — ele pediu. — Robson já está chegando, assim que ele vier para ficar com Diana nós vamos.
Eu senti as minhas mãos começando a tremer enquanto eu tentava ligar para Geff, de repente eu começava a sentir a seriedade e a urgência da situação. Eu havia me deixado envolver pelos dias calmos e amenos, eu havia me esquecido por ora de Rafael e dos problemas que ele sempre parecia ser o anunciador.
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VOLITARE | (Romance Fantasia Gay) | COMPLETO
Teen FictionVocê já sonhou que estava voando? Você já sonhou que estava caindo? Guilherme ficou internado durante três meses em um hospital psiquiátrico depois de uma suposta tentativa de suicídio e recorrentes sonhos e visões. Embora os médicos atestassem su...