A entrega antes do fim

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Capítulo 23 – A entrega antes do fim

Não foi somente a dor nos olhos pela mudança de luz que a mostraram que estava em um lugar diferente, mas o próprio lugar. Agora aqueles olhos âmbar contemplavam outro mundo da vida de Snape. Antes estava nos sonhos dele, a parte mais guardada, mais preservada e escondida. Sua ingenuidade, seus pecados, seu amor e seu afeto, sua infantilidade escondida. Agora estava na realidade dele, o sofrimento vivido, a dor, o muro de tijolo escuro que ele ergueu para impedir que qualquer um pudesse passar, para proteger-se dos males que os outros podem lhe causar como sempre causaram.

Tentando respirar fundo, sentou-se na cama e colocou a mão no rosto tapando os olhos e tentando organizar todas as informações que recebeu. Sentiu seu coração pesar com as lembranças do Snape sofrendo todos os abusos nas mãos de seu pai, sua mãe o negligenciando por seu próprio sofrimento nas mãos daquele homem e o amor louco e desgovernado por Lilian. Hermione vira as memórias que Snape entregara para Harry, mas naquelas memórias haviam apenas as imagens rasas que ele precisava que Harry visse para seguir seu caminho, mas agora a verdade fora estampada em seus olhos. E era uma verdade tão forte, cruel e pesada que sentia um peso gigante em suas costas. Como falar com Snape agora, como olhar em seus olhos e não julgá-lo e como olhar e não ajuda-lo? Aquele homem precisava de ajuda, uma ajuda que não lhe foi dada antes causando o que hoje era o comensal.

Olhou novamente para o quadro pendurado acima da cama. Era incrível como uma mesma pessoa podia ter duas vidas tão distintas. Baixou os olhos da moldura e saiu do quarto dirigindo-se pelo corredor gelado que a fazia sentir-se cada vez mais vazia e triste. Com a distância diminuindo, suas pernas começaram a doer e pesar, assim como seu estômago que embrulhava. Não sabia o que diria ao encontrá-lo, muito menos o que fazer ou pensar. Com dificuldade desceu o último degrau da escada e olhou para a sala de estar. O piano estava no mesmo lugar, parado, sem ninguém retirar de si as mais belas e tocáveis melodias.

Seu coração apertou, e uma vontade grande de encontrá-lo se apoderou dela, queria ver o dono daquelas lembranças tão tristes e intensas, precisavam conversar seriamente, ninguém o ajudou antes, mas ela estava disposta a ajudá-lo. Procurou na cozinha, na biblioteca e na sala de jantar, nada, tão pouco encontrou algo nos quartos. Uma preocupação cresceu dentro da menina, não sabia quanto tempo estivera vendo aquelas lembranças. E se Voldemort o tivesse chamado? E se ele estivesse fazendo exatamente o que desejaria jamais pensar? E se estivesse machucado?

Maldito coração traiçoeiro que lhe faz sentir diversas emoções diferentes. Amor e ódio, repulsa e querer. Tentando segurar as lágrimas se perguntava por que o amava tanto? Por que o queria mais que tudo naquele momento? E por que, finalmente por que, achava que aquela era a melhor decisão a tomar? Respirou fundo secando uma lágrima e abriu as cortinas da janela que dava para o jardim. Ele estava ali, parado, sua capa estava pendurada no galho de uma árvore próxima e ele olhava para a lua que banhava seu peito coberto apenas com uma camisa branca.

Devagar Hermione, vestindo somente o sobretudo, abriu a porta e foi para fora sentindo o vento em sua pele nua e seus pés descalços. Ele não se virou, mesmo sabendo que ela estava vindo em sua direção. Ela cruzou os braços e parou atrás dele. O calor de seu corpo a contagiou, a chamou. Colocou as mãos em suas costas e as esfregou sentindo cada pedaço daquele corpo, abraçou-o forte colocando suas mãos em seu peito entrelaçando seus dedos aos dele e descansando a cabeça em suas costas.

As lágrimas finalmente desceram ao ouvir o coração dele bater lentamente enquanto o seu acelerava com a tristeza que sentia. Ele a respeitou e não disse nada, apenas continuou olhando para a lua, até que a voz fininha foi ouvida.

- Sinto muito.

- Não sinta.

- Mas eu sinto. Você não deveria ter passado por tudo aquilo, ter sentido tudo aquilo. Aquele homem, que ódio dele. Eu quero te ajudar, eu quero muito poder te ajudar, como posso fazer isso?

A Decisão de Hermione (Snamione)Onde histórias criam vida. Descubra agora