08. Frutos

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PRINCESA CIARA

Castelo Prime T, Tâmasus, Romênia.
18 de agosto de 1971

Manhã
Novamente Riko me assusta com aquela máscara ridícula que ele comprou naquela feira de estranhezas mês passado. Sempre que pode, me perturba de uma maneira diferente, principalmente dizendo que sou a mais nova de nós três. "Nascemos juntos, isso não faz sentido" eu sempre digo, mas nunca adianta. No fundo eu gosto de brincar com ele, mas prefiro minha prima Eleonor, filha da tia Elizabeth. Nos damos muito bem. Dériko tem a Tuski, filho do Comandante Saulo, amigo de papai. Mas Elói... Sempre tão observador, quieto... Sempre fazendo arte, literalmente. Gosta de pintar algumas cenas do nosso cotidiano e sempre o vejo estudando a anatomia humana. Acho legal ele gostar de arte, mas seria muito legal que ele interagisse conosco também. Somos jovens de 15 anos em um lugar completamente desconhecido pelo resto da humanidade. Não é incrível?

Papai e mamãe não nos deixam sair muito. Algo a ver com aquela vila ao sul, Scorpion Place. Dizem que são perigosos, mas nunca soube de nenhum mal feito por eles. Ainda assim, temos aulas de defesa pessoal três vezes por semana, além de aulas de linguagem, como as de língua inglesa (fora as aulas normais da escola). "Escola", já que também estudamos no Castelo. É como uma prisão, mas é agradável na maioria das vezes. Os filhos de funcionários da Coroa e nós herdeiros estudamos nesse sistema escolar.

※※※

Saindo da biblioteca, vejo Riko vindo em minha direção como uma locomotiva.

- Onde está a minha máscara? - diz ele, quase gritando.

- Não sei, não fiz nada à ela.

- Sabe como gosto daquela máscara! A quero de volta agora!

Aquela máscara é a coisa favorita que Riko tem. Foi adquirida em uma das primeiras manifestações culturais que fomos. Antes, só papai e mamãe iam, mas aquela foi uma ocasião diferente. Talvez por isso seja um objeto tão importante... Por simbolizar um dos raros dias que saímos da rotina. Ela tem formato oval, é preta com relevos dourados e possuí três chifres em sua testa, que se cruzam formando um tridente de ponta cabeça.

Papai surge, provavelmente atraído pela gritaria:

- Não quero saber de brigas aqui dentro, principalmente por motivo tão banal. Não vejo Ciara reclamar de seus devaneios com essa máscara, filho, então não vejo motivos para ela ter dado algum fim a isso. Eleonor e Tuski estão aguardando vocês no Salão para o almoço. - diz ele, abrandando a severidade no tom de voz e se colocando entre eu e meu irmão, envolvendo-nos com seus braços.

- Perdão, Ciara. Não quis ser grosso. É que aquela máscara é meu objeto favorito de todos! E...

- Trate disso mais tarde, depois do almoço. - intervém papai - A propósito, sabem onde está o irmão de vocês? Não está em seu quarto, nem no ateliê...

- Já deve estar no salão. - digo - Aceito suas desculpas, Riko.

1Nos dirigimos até o salão, mas me recordo que não fechei a porta da biblioteca, tamanho foi o susto com Riko. Volto o olhar para trás, mas a porta já estava fechada. De pé, em sua frente, Elói nos observava, sereno.

PRÍNCIPE ELÓI

Castelo Prime T, Tâmasus, Romênia

Tarde
Ciara passou duas horas dentro daquela biblioteca e não notou minha presença no setor de arte. Não me incomodo com isso como parece. Não gosto muito de me relacionar, prefiro observar relações. É dessa forma que aprendo a conviver. Acho que puxei esse comportamento do meu avô, Elói III, ou de mamãe. Não faz muito sentido, mas acho que é isso.

Artrópota: Árvore-MármoreOnde histórias criam vida. Descubra agora