25. Maximus

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MATTHEW MAXIMUS

Sioux Falls, Dakota do Sul, Estados Unidos.

13 de dezembro de 2018

Manhã
Me encaro no espelho, mas não reconheço o que vejo. Esse reflexo não passa da visão de como papai quer que eu seja no futuro: uma cópia dele. Um terno alinhado e feito sob medida com dinheiro que ninguém sabe de onde vem... Parece um cenário comum, hoje em dia.

Além do terno, toda a propriedade com essa mansão com cômodos enormes e exagerados, o vasto jardim, os funcionários, os animais, de nada disso se sabe a origem. Não entendo como um homem que seja o chefe da família possa esconder tanto sobre sua vida como faz o senhor Oswald Maximus. Estou me aprontando para um de seus almoços de negócio com todos os sócios ridiculamente falsos e de conduta duvidosa que papai tem, mas esse parece ser diferente. Ele quis que eu me arrumasse de maneira especial, que não ficasse um só fio de cabelo desalinhado em minha cabeça, que meus dentes estivessem no auge da alvura e minha postura monarquicamente ereta. Devo agir de fato com toda a elegância que eu conseguir, elegância essa que a senhora Olga Pardió, minha mãe, parece ter naturalmente.

Ela entra em meu quarto com um frasco nas mãos e vê minha expressão estranha quanto ao espelho:

- Filho... Como você está lindo! A roupa ficou ótima em você... Está até um pouco parecido com ele.

Ao dizer isso, noto nela um sorriso forçado, como aqueles que as pessoas dão pra acalmar ou algo assim. Mamãe parece tensa.

- Eu não estou lindo, esse nem mesmo sou eu. O que ele quer me montando dessa maneira? Papai sabe que não gosto do jeito como ele trabalha e nem dessa gente estranha com quem convive...

- Faça um esforço para agradá-lo pelo menos por hoje, Matt. É importante pra ele que nada dê errado. Importante para todos nós - diz ela, se aproximando para esguichar o conteúdo do frasco. - Esse é um dos perfumes mais antigos de seu pai. Ele o usava quando nos conhecemos, é extremamente raro.

Detesto esse perfume e a sensação que ele me dá. Vou até a janela pegar um ar e posso ver uma movimentação atípica no jardim, além de muitos mais seguranças do que o habitual.

- Sim, conheço a história: você elogiou seu cheiro e ele quis guardar o perfume para sempre, o mesmo perfume, do mesmo frasco. Agora, mãe, que carros todos são aqueles lá embaixo no jardim? Há bem mais do que costuma ter.

Ela vem de encontro comigo na janela para observar também. Delicadamente, leva a mão até sua boca num sinal de surpresa, e não parece ser das boas.

- Oh... Eles já estão chegando...

- Não é muito cedo para chegarem num almoço? E "eles" quem?

- Você vai ver... Agora deixe-me dar uma olhada em você - diz, se afastando para ter uma visão mais abrangente. Me analisa de cima a baixo e percebe algo. - Matthew, você esqueceu a coisa mais importante que deveria usar hoje! O anel do seu pai. Onde está?

Mamãe não está preocupada em si em agradar meu pai, ela parece querer mais que eu fique confortável com a situação. Ainda assim, cada detalhe importa. O anel que mencionou é uma joia antiga que foi dada de presente do papai para mamãe, firmando assim um noivado. O anel me foi dado quando completei 10 anos de idade, mas praticamente nunca o usei. Tem duas pedras, uma verde e outra azul, que completam-se, formando um coração humano. Não sei sua origem, mas parece bem original.

- Está numa caixinha dentro de uma das gavetas da cômoda. A segunda, se não me engano.

- E por que ainda não o colocou? - pergunta ela enquanto pega a caixa e o coloca em meu anelar direito. - Aqui, agora sim. Fique aqui em cima até que seu pai suba, para que vocês desçam juntos.

Artrópota: Árvore-MármoreOnde histórias criam vida. Descubra agora