VINITSY DRAGOMIR
Roşia Montană, Romênia.
13 de dezembro de 2018
Manhã
— Chave inglesa número 7 — ele parece não ter ouvido, embora estejamos próximos. — Pai! Hahaha! A chave inglesa 7!— Ah! Perdão, filho. Aqui está.
— Pai... Essa é a número 4!
Saio de baixo do carro que estava consertando para ver o seu rosto.
— Grigori Dragomir, eu o conheço como a mim mesmo! Vamos, pai, há dias tenho notado o senhor estranho. O que está acontecendo?
— Às vezes me esqueço de que você já é quase um adulto. Se parece tanto comigo... Já até tomou as rédeas da oficina!
— Pai... Não me enrole! Tem algo a ver com a história da minha mãe?
— Não fique mencionando essa história à toa, Vinitsy! Isso já tem décadas e faz parte do nosso passado tamasiano! Além do mais, muitos tamasianos fugidos ainda frequentam nossa oficina...
— Eu sei, eu sei... Somos os únicos por aqui que trabalham com tecnologia tamasiana...
— Se você sabe, também deve saber o que acontece se algum deles descobrir algo!
O tom amigável do início da conversa some rapidamente. Me arrependo de ter tocado nesse assunto, mas é a minha história também! Como evitar?
— Desculpa, pai... Mas é estranho não entender o que está acontecendo...
— O que você pode saber, já sabe. Sabe até além disso. Sua mãe e eu poderemos não estar ao lado de você e da sua irmã e não se sabe quando isso pode acontecer.
— Sim, e também sei que não há como acontecer isso conosco...
Ele dá um suspiro cansado e indiferente.
— Filho, vá para casa. Já acabou seu trabalho por hoje.
— Ainda não acabei com o carro...
Sou interrompido com seu gesto indicando a saída. Ele nunca recusa ajuda, por que isso agora? Talvez queira ficar sozinho.
Ou talvez esteja esperando alguém.
※※※
Ando três quarteirões e já estou em casa. Não é lá uma mansão, mas suporta nós quatro confortavelmente. A casa está quieta à primeira vista, mas conforme avanço, ouço o borbulhar das panelas na cozinha e posso sentir o cheiro de seu conteúdo. Minha mãe realmente é a melhor cozinheira da Romênia.
— Devíamos abrir um restaurante — digo, abraçando-a por trás enquanto a beijo. — Todos deviam ter a oportunidade de provar esse tempero.
— Ah! Quem dera pudéssemos, filho... Sabe que vontade não me falta, mas tenho medo...
Os fantasmas do passado insistem em disputar espaço com os bons momentos que temos em família.
— Um dia não teremos mais medo, mãe. Tudo vai se estabilizar e poderemos abrir um negócio em Artrópota, quem sabe!
Ela hesita. Seu rosto fica sério e ela larga na panela a colher de pau que tinha em mãos. Se afasta e, dando as costas para mim, diz:
— Onde está seu pai? Por que não voltou contigo?
— Ainda na oficina. Ele me dispensou, parecia afobado...
Sem resposta. Quase nada mexe com o humor de Ramira Dragomir dessa maneira, exceto por uma coisa...
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Artrópota: Árvore-Mármore
De TodoO que pode dar errado no paraíso? Há milênios, um grande reino com tecnologia muito a frente do seu tempo foi criado no interior da Romênia com o intuito de guardar as Grandes Riquezas da Terra. Batizado como Tâmasus, esse recanto que outr...