09. Longe de Casa

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PRÍNCIPE ELÓI

Tâmasus, Romênia
20 de agosto de 1971

Tarde
Não posso acreditar que consegui! O plano da corda com a árvore deu certo e finalmente estou do lado de fora... É uma pena que não tenha acontecido antes, já que é um centro tão lindo. A sensação de euforia é única, mas tenho que me conter. Por onde começo?

O trânsito nas ruas não varia só em diferentes modelos de automóveis. Há gente. Muita gente. Todos diferentes e sem estranhar as diferenças alheias. Penso que cada um tem seu próprio mundo interior, sua própria história, e meu encanto só faz aumentar. Ando até o lado comercial: feiras, mercados, lojas, teatros, shopping e tudo mais. Mas a fascinação não parece saciar minha curiosidade. Ainda... Falta algo.

Tâmasus tem cerca de 600 quilômetros quadrados de área total e aproximadamente de 12 mil habitantes. Não é enorme como os grandes centros do Mundo Externo, mas, para um lugar completamente escondido e protegido por uma barreira de energia, tem certo tamanho sim. Então não fica difícil andar para vários lugares, como o Museu De História Natural De Tâmasus, onde há várias espécies pré-históricas que, com sorte, o resto da humanidade jamais tomará conhecimento. Gostaria que meus irmãos estivessem aqui comigo, mas são certinhos demais. Estão certos, na verdade, mas para onde vão aqueles que não se arriscam pelo que querem?

Sei exatamente para onde ir agora: Scorpion Place. Conheço os perigos e quero arriscar. Há sempre Guardas Reais indo e vindo de lá para garantir que está tudo seguro, mas quero visitar apenas por ser um lugar inédito para um Di Tâmasus. Não acho que será fácil entrar lá usando essa máscara, mas se não for possível, acredito que não haverá problema. A última aparição pública de meus irmãos e eu foi há 5 anos, então creio que não serei reconhecido por ninguém.

※※※

Estou há uns 30 metros dos muros erguidos pelos Escorpiões para se separarem do resto do reino. Com isso, eles criaram uma cidade inteira dentro de Tâmasus: a última estimativa feita concluiu que há cerca de 6 mil pessoas morando dentro de Scorpion Place, o que é a metade da população tamasiana. Alguns, pelo que sei, são bem pacíficos e alheios à toda essa situação de conflito. Por outro lado, há os que defendem a divisão das Riquezas com a própria vida. Suas ideias começaram a surgir em 1945 junto com o fim da Segunda Guerra Mundial do Mundo Externo, mas apenas em 1955 eles começaram a organizar-se no que mais tarde se tornaria essa enorme comunidade. Todo esse esquema, por mais que contrariasse as ideias de mamãe, foi "aceito" de bom grado pela Coroa (por papai, nesse caso) como forma de passar uma ideia flexível e respeitosa à liberdade de expressão, mesmo que a própria monarquia já signifique um regime autoritário.

Deixo os pensamentos políticos de lado por um instante. Não são responsabilidade minha. Quem deve se preocupar com isso é Dériko, o tão esperado próximo Rei de Tâmasus. De longe, posso ver que há duas pessoas paradas na única entrada para Scorpion Place, como uma espécie de guarita. Parece que não precisam de muitos guardas, já que quem está fora não quer entrar e quem está dentro não quer sair. Já imagino como poderei passar por elas, mas algo me chama atenção: há um buraco no chão que passa por debaixo do muro e aparentemente dá acesso ao lado de dentro do lugar. Parece ter sido feito por um cachorro grande ou algo assim. Acho que posso passar por ele sem ser visto...

Não há muitas pessoas por aqui. Preferem manter distância, mas mesmo assim, me esgueiro com cuidado até o tal buraco, longe do campo de visão das tais pessoas na guarita. Me abaixo para ver do outro lado e realmente é uma passagem. Começo a tentar entrar, de barriga para baixo no chão de terra. A calçada começaria há alguns centímetros para dentro e já posso ouvir os sons da cidade. Quando já entrei até o peito, ouço alguém se aproximar e parar atrás de mim. O sangue nas minhas veias gela instantaneamente.

Artrópota: Árvore-MármoreOnde histórias criam vida. Descubra agora