35. Aranhas na Casa de Agatha Polar

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DIONÍSIO DI SAULO

Delegacia Territorial Artropotana, Ártiko, Ilha de Artrópota.

12 de maio de 2019.

Noite
— Vocês enlouqueceram?! — berra meu pai conosco. — Têm sempre total liberdade de ir e vir, tanto que muitas vezes ninguém sabe onde estão... Mas isso? Provocar a morte de um homem? Carregar uma arma de Artêmesis na bolsa como um souvenir, Bianca?

— Nós não provocamos a morte dele...

— Mesmo sendo um invasor, o que acharam que poderiam fazer? Salvar Artrópota sozinhos? Vocês passaram seriamente dos limites!

— Mas pai...

— Agora, além de ter que dar conta das minhas responsabilidades e das de Klock, terei que me esforçar para manter a participação de vocês nesse caso oculta — diz ele, quanto abre a porta da sala onde estamos. — Já não posso contar com a ajuda do Alonzo, por estar abalado com a execução do primo... E mais essa agora! Pelo menos estão todos bem...

  Tuski sai, batendo a porta. Ele não está furioso de fato com o que aconteceu, e sim, com a possibilidade de quase ter acontecido algo mais sério conosco.

— O que acha que vão fazer conosco, Dionísio? — pergunta Jade, visivelmente nervosa.

— Por hoje, vão colher nossos depoimentos. Depois... Bem, não sei.

  Bianca alonga os braços e dá um longo suspiro:

— Mais um problema nas costas dos Zece X...

— Causado por você, Bianca! — acusa Matthew, andando de um lado para o outro. — Se não tivesse o perseguido, ele estaria vivo agora!

  Vinitsy está sentado no chão com Hayse ao seu lado. Está preocupado, como todos estamos, mas tenta um raciocínio:

— Pelo menos agora temos tempo para pensar melhor em relação ao Tafra...

— Acha que ainda temos chances de irmos para Tâmasus mesmo depois disso? Se nos pegarem saindo da ilha, é capaz de sermos expulsos! — responde Hayse.

— É bem provável mesmo... — digo. — Mas é uma chance única. Não podemos desperdiçá-la.

 BIANCA FRANCO

Restaurante Torquato, Avenida Squatermo Temo, Ciarta, Ilha de Artrópota.

12 de maio de 2019.

Tarde
  Hayse e Jade passaram o dia com os pais e agora que estamos juntos novamente, resolvemos dar um passeio para conhecer o restaurante que a mãe de Quamba montou, que se localiza na mesma avenida onde, no final, se encontra a casa de Agatha Polar. Sempre é agradável andar por aqui, especialmente num final de tarde. A brisa começa a ficar mais fresca e as ruas se iluminam. Amo a maneira como a luz banha as pedras das ruelas e molda as casas mais antigas daqui. Mamãe iria amar esse lugar.

  Não há um só dia que não pense neles. Mamãe, papai, Gony... Por mais que nossa despedida tenha sido seca e trágica, sinto que o tempo bom que passamos juntos compensou tudo. Aprendi que não adianta se culpar por brigas e outras coisas do passado — especialmente pelo tempo que perdi nas drogas, bebidas e farras —, já que o tempo não vai voltar. Não vou poder evitar que os erros do passado ocorram, mas posso aprender com eles e é exatamente isso que venho tentando fazer durante os meses que se passaram.

Noite
  Acabamos as refeições e dei um pulo no banheiro para retocar o batom. Me sinto exausta, ainda que não tenha feito muita coisa hoje. Estou voltando para a mesa, que fica próxima a vidraça do restaurante, quando vejo um homem passando do outro lado da rua. Meus pelos se arrepiam e sinto minhas pernas bambas, mas, ainda assim, quando dou conta já estou próxima à entrada, espreitando a rua. Os garotos vieram atrás de mim, preocupados:

Artrópota: Árvore-MármoreOnde histórias criam vida. Descubra agora