Capítulo 5

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P.O.V. Melissa:

Se continuar tudo bem, amanhã eu saio desse lugar. O cheiro do hospital é estranho. É um bem diferente de qualquer lugar existente. Meio triste, até.

─ Mel, olhe o que eu achei. ─ minha irmã diz e estende sua mão, segurando um álbum de fotos da família. ─ Pegue.

Procuro pelo Chris, ao redor, e o mesmo não me dá respostas.

─ Você escolhe se quer pegar, ou não, Mel. ─ diz, após um tempo.

Estendo minha mão para pegá-lo e Jessica joga sobre ela.

Quanta lembrança. Havia me esquecido ─ exceto no subconsciente ─ de boa parte delas.

Enquanto ainda admiro o álbum, vejo uma mulher entrando pela porta, tal essa, que intitula-se de psicóloga.

Minha família se senta no sofá e a mulher arrasta uma cadeira até próximo da cama onde estou.

─ Como você está se sentindo, Melissa?

Eu não queria conversar agora...

─ Você não precisa falar agora, está bem? Não nas primeiras seções. Depois, para eu conseguir te ajudar, precisamos nos comunicar.

Ela continua:
─ Está bem. Notei que você adquiriu medo das pessoas. Existem dois tipos de atitudes que as pessoas tomam após o seu tipo de trauma. Que são: querer voltar a vida e abraçar as pessoas, matar a saudade, recuperar o tempo perdido. Já o seu caso, você se fechou para não sofrer mais, parou de falar, não quer contato com pessoas e isso é completamente normal na sua situação. Você concorda com o que eu disse? ─ concordo, mexendo a cabeça. ─ Muito bem. Me foi dito que você pergunta por tudo que deve fazer. Era assim onde ficava?

Afirmo. Ou até menos.

─ Pois bem. As pessoas sentem medo de seus sequestradores, mas também não se sentem seguras longe deles. Você se sente assim em relação a alguém, ultimamente?

Volto minha atenção à ele, mas já estava olhando para mim, antes.

─ Hm... Acho que compreendi. Olhe, Melissa, você está no controle aqui, está bem? Não precisa da permissão de ninguém, para nada. Ninguém aqui irá te machucar, ou te forçar a fazer qualquer coisa que não queria. É provável que só vá entender isso daqui a alguns meses, mas tente repetir essas palavras a si mesma, ok?

Certo... Acho que entendi.

Após alguns minutos, amulher se levanta e deixa o local.

(...)

Já estou há dias acordada, mas eu não consigo dormir. Quando consigo tirar uma soneca, sonhos me perturbam. Parece que aquele lugar me prende. Entende por que eu não quero falar sobre? Já não basta todos esses anos. Só quero esquecer tudo.

18:37. Sinto como se meus olhos estivessem caindo sobre si próprios. Começo a ficar com dor de cabeça e um pouco tonta.

Quando viro meu olhar, minha visão fica turva e demora um tempo para estabilizar-se. Fixo meu olhar em algum aleatório ponto situado em qualquer extensão branca que se encontra à minha frente. Tento ficar acordada, mas meus olhos desmoronam sobre si mesmos, de tão cansados.

•P.O.V. Melissa:

Olhe onde você me meteu, J.!

Você veio porque quis, W.!

─ Porque eu quis?! Você estava com tanto medo desse seu amigo, que me obrigou a vir! ─ reconheço a voz de um deles de algum lugar. Bem distante. Mas nunca consegui saber quem é de fato. Eles se identificam como letras, para não sabermos seus nomes.

Consigo escutar sua conversa.

─ Escute, o E. é meu amigo, ok? O B. é irmão dele, e precisava de ajuda. Eu não poderia deixá-lo na mão!

─ Então, por que não veio sozinho?! Tem pessoas aqui, J.! Pessoas!

─ Então saia, W.! Saia de uma vez!

─ Como?! Sabe que o E. vai me matar! Por que colocou a gente nessa?! Pra ajudar dois irmãos que se dizem ser seus amigos?! Não pensou na sua própria família, J.?!

─ B. vai morrer se não ajudarmos ele. Fique ou saia, W. Mas não atrapalhe nosso plano.

─ W.! J.! ─ alguém entra na sala esbaforido, e finjo não estar ouvindo nada.

•P.O.V. Chris:

Precisei sair, por alguns minutos, mas já estou voltando. Não consigo ficar vendo-a assim, por muito tempo.

Assim que volto, a vejo dormindo. Acho que ela ficou tão cansada que, mesmo não querendo, acabou adormecendo.

Fico um tempo admirando-a. Sério, não tem absolutamente ninguém que eu já vi a qual permanece tão linda enquanto dorme, se não a Melissa. Nem eu entendo, às vezes.

Solto uma pequena risada, enquanto estou sentado na poltrona, e os pensamentos tomam conta de mim.

Ela abre os olhos, um pouco assustada. Deve ter sido outro sonho. Queria tanto poder trocar de lugar com ela... Eu a amo tanto...

─ Não faça essa cara. Eu não sou um monstro.

Ela olha para baixo, como se estivesse se desculpando por algo. Acho que falei besteira.

─ Não, não, não. Eu estava brincando. Você pode fazer o que quiser.

Às vezes esqueço que essa não é a mesma Melissa que conhecia.

─ O que foi, E?!

─ O B. está precisando de ajuda! Meu irmão não está nada bem.

Certo, vamos ver se entendi: B. e E. são irmãos, e B. está doente. Então, para ajudar seu irmão, E. decidiu sequestrar pessoas para encontrar uma cura. Para isso, chamou J. e W., que também são irmãos. Porém, W. não concorda com isso. Vamos ver se tenho uma chance de sobreviver nesse inferno... Preciso da ajuda desse W.

Acordo e vejo Chris sentado à minha frente. Ele solta um sorriso ao olhar para mim, e perceber que acordei.

Isso me lembra os velhos tempos.

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Próximo capítulo na quinta-feira

Talking To The Moon [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora