12-O Rei Sol

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Os poucos instantes que estive no reino leste não me passaram boa impressão, em momento algum os elfos foram receptivos ou ao menos tentaram me ouvir, se bem que em nenhum reino foi assim, acho que já estou me acostumando a ser amarrada e arrastada de um lado para o outro.

Conforme andávamos pude perceber o terreno mudar, não era mais plano como antes, agora era ingrime e escorregadio, o cheiro de grama úmida se fazia presente e já estava ficando enjoativo, não sabia por quanto tempo estava andando mas sinceramente estava cansada, o sol quente não ajudava e uma ligeira dor, como uma agulhada,  começou a incomodar minhas costelas e nariz, talvez o efeito do feitiço de Calic esteja passando, isso não é bom.

Toda vez que eu diminuía o passo ou parava por segundo, senti minhas costas serem cutucadas por algo culminado, esses caras não dão paz.

Eu até poderia dizer que estava com medo, mas depois de tudo que passei nos últimos dois reinos, aquilo já não me assustava, talvez eu estivesse apreensiva, isso sim, eu temia não chegar a tempo e o feitiço espirar, se eu não conseguisse falar com o rei, eu poderia dar adeus a minha casa para sempre.

-Não pare fada medíocre, cansada por não poder usar suas asas? Ah, é mesmo, você é tão insignificante que não as possui, isso só te torna ainda mais baixa, alem de invadir nossas terras você cheira a feitiçaria- com a fala do elfo eu pude perceber três coisas, primeira, eles se acham demais, o que os torna tão superiores assim? Ninguém merece, eu até reviraria meus olhos se eles não doessem tanto, em segundo, os sussurros estavam ficando mais baixos, e isso era preocupante, quanto mais longe da divisa mais fraco os feitiços ficavam, e em terceiro, os elfos falam de modo diferente, é como se suas línguas fossem presas ou duras, como um sotaque, é diferente, seria até charmoso se não falassem tanta baboseira.

-Mór, vamos parar aqui, precisamos checar as raízes assim como Arkiem nos pediu-escuto uma nova voz falar, essa soa mais calma e menos ríspida, é aveludada, mas tão travada quanto a outra.

- Deixe o rei te ouvir chama-lo pelo nome, você será rebaixado até estar no nível de um mero colhedor- a voz , com tom de superioridade, de antes se faz presente e se querem saber, se já tenho raiva da voz imagina quando eu ver o rosto- Fique de olho na prisioneira, vou conferir como tudo esta para poder reportar ao rei- ouço passos se distanciarem, "finalmente".

-Me desculpe- ouvir aquilo era novidade- Mór é arrogante assim mas não é má pessoa, é da nossa raça entende? Nós elfos temos sede de poder, quanto mais alto nosso cargo mais gananciosos e arrogantes ficamos, mas ainda possuímos coração- o elfo que ficou ao meu lado começa a se explicar e por um momento fiquei com dó do outro rapaz- Meu nome é Sha, sou membro principal do 2º escalão da guarda real, Mór é capitão geral e líder de todos os escalões, por isso a arrogância, ele é quase tão importante quanto o braço direito do rei.- sinto minhas pernas tremularem, elas estavam cansadas assim como eu, sinto dois pares de mãos segurarem meus ombros e me forçarem para baixo, me fazendo ajoelhar- deve estar cansada, perdoe-nos por não lhe proporcionar uma pausa , fada ou não, ainda é uma garota, acho que Mór perdeu a noção disso, por favor não reporte nada ao rei, eu lhe peço - estranhei a declaração e o pedido, mas não falei nada, tinha medo de perguntar, senti o sol que antes batia contra meu rosto ser coberto, o rapaz havia se colocado a minha frente- O que houve com suas asas e as raízes delas? Não as vejo marcadas em sua omoplata - pude escutar o barulho de uma rolha ser retirada de um frasco- Sede? Abra a boca- fiquei receosa com o pedido , mas em questão de segundos senti uma mão gentil em meu queixo e algo gélido em meus lábios, os abri pouco a pouco sentindo um liquido doce e refrescante descer por minha garganta- É chá de cobishi com raiz de lagagan, é ótimo para saúde, muitos preferem ele quente, mas com o calor que faz aqui tomar ele gelado é o ideal - sinto ele aproximar mais um vez o frasco da minha boca, tomo mais alguns goles antes de retirarem o recipiente de perto de mim-Logo terminaremos a subida, assim que chegarmos ao topo, vou pedir ao Mór para seguirmos de foléa o resto do caminho, será mais rápido e como os ventos la encima são mais fortes poderemos voar com tranquilidade, quem sabe estar no ar não te faça bem, já que é comum da sua raça- com tudo aquilo eu tinha um monte de perguntas na cabeça, porque ele pediu para não reclamar com o rei? O que é foléa? Como assim ventos mais fortes? Nós vamos voando? Temos que subir mais? Claro que eram muitas e lógico que não pronunciei nenhuma, senti uma mão em meu braço- Venha, levante-se- Mais um vez sinto um par de mão puxarem meus ombros pelas laterais.

Ahtera- O despertar de Baltazar- Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora