42-Despertar

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Era estranho, uma das piores sensações que ja tive, não sentia nada, era como se não tivesse corpo, também não via nada, era só breu, sem barulho, sem batimentos, sem forças.

Eu não pensava, só existia, era como estar dormindo mas sem sonhar, só que la no fundo você sabe que não vai acordar, nunca vai, eu poderia dizer que perguntas me rondavam a cabeça, mas estaria mentindo, naquele momento, nada passava, nada vinha, era uma imensa lacuna.

Não sei se é possível ter consciência sem corpo, também não sei se estou exatamente consciente, mas eu ainda to aqui.

Não sei por quanto tempo as coisas ficaram assim, não sei por quanto tempo eu estou assim, só sei que em algum momento, a agonia de não poder gritar sumiu, deu lugar ao conforto e a conformidade, e por um instante, uma pequena fração de segundos, eu senti, eu finalmente senti, era quente, formigava, mas passou, foi tão pouco, mas não tem mais, só vazio novamente.

O mais estranho é que havia algo me puxando, mas sempre que eu achava que tudo ia acabar, sempre que o vazio começava a fazer sentido e eu me entregava a inconsciência, algo me puxava, um calor infernal, uma queimação forte, era a unica coisa que eu sentia por pouquíssimos instantes.

"vamos...acorde, eu..."

Eu o que? eu ...eu ouvi, isso é possível? eu estou pensando? sim , eu, nossa, finalmente, algo tomou conta da minha consciência, perguntas, são tantas, mas são tão boas, isso é reconfortante.

"ela vai acordar, ela tem que acordar"

Eu tenho? Mas porque eu não acordo? Ah é mesmo, eu não estou dormindo, é algo maior que isso, meu "sono" não era momentâneo, meu "sono" era eterno, então porque ainda esperam que eu acorde? Porque eu não acordo?

"ele já acordou, porque ela ainda ta assim? "

Isso são vozes? Quem já acordou? Eu quero acordar também, eu preciso, eu não aguento mais, eu estou aqui, e por um momento luz, muita luz, o ar me invadiu, e podia senti-lo correr por meu corpo e encher meus  pulmões me aliviando do sufoco, uma batida em meu peito se fez presente, um estalo na cabeça.

-Princesa!-

o breu veio de novo, infelizmente, a unica coisa que podia dizer que mudou, é que agora eu sinto, sinto toques, o calor, o frio também, sinto uma estranha luz, um carinho, aos poucos a consciência foi retornando a meu corpo, ou sera que foi o corpo que retornou a consciência? Eu não saberia dizer, sei que eu finalmente abri os olhos, e para minha sorte, a luz não os incomodou, ela era fraca e calorosa, minha cabeça doía um pouco, mas nada se comparava ao imenso alivio de ouvir meus próprios batimentos, meus olhos lacrimejaram, e aos poucos me possibilitaram a visão da paisagem.

Um imenso vitral com cortinas brancas e pratas o ladiando, a fraca luz do entardecer, ah o entardecer, era tão lindo, tão colorido, os tons de laranja, vermelho e rosa me agradavam os olhos me fazendo sorrir, os três sóis resplandeciam gloriosos, era tudo lindo, Ahtera era linda, e eu finalmente estava podendo vê-la.

Virei meu rosto para o lado na tentativa de ver o resto do comodo, triste escolha, uma pontada me veio a cabeça, ninguém merece, suspirei e puxei o ar forte na tentativa de fazer aquilo para, levei a mão as têmporas as massageando, eu podia tocar, soltei um riso sorrateiro ao encara minhas mãos, eu podia tocar de novo, podia sentir, observei os dedos curtos cobertos por minúsculos flocos de neve, como senti falta de ver isso, abaixei a mão e voltei a olhar ao redor, era um quarto, meu quarto, eu estava na cama de frente para a enorme porta adornada de cristais de gelo, ao meu lado uma pequena mesinha redonda com uma jarra de água, sentada logo a beira da mesa, estava Luna, toda torta enquanto dormia assentada em uma cadeira.

Ahtera- O despertar de Baltazar- Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora