**Capítulo 56**

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Já tinha anoitecido a uma cota já. Meus pais tinham acabado de sair daqui, falando que iriam em casa só tomar banho e comer, e que já voltavam pra cá.

Kaio estava no berçinho ao lado da cama ali, e dormia igual a um anjinho. Ele tinha acabo de mamar, e cara foi foda em. É uma sensação estranha que você sente quando ele está te mamando, e te falar, foi uma dorzinha até que suportável que senti também.

Ficava olhando pra ele igual a uma bobona, reparando em cada detalhezinho em seu rosto. Tinha alguns traços do CK, como a boca, e os olhos também, já o nariz era igualzinho ao meu. Esse garoto é perfeito!

Passei a mão no rostinho dele, e dei um sorrisinho de lado. Fiquei ali calada só observando ele dormir.

A porta ali se abriu com tudo me dando um susto, e quando vi ele entrando, já fechei a cara.

Kamilly: Ta fazendo o que aqui? Como tu conseguiu sair de lá? - encarei ele sem entender, que me ignorou. - Sai daqui...

CK: Dá um tempo ae, fia, oxe. - negou com a cabeça, e tirou a blusa de frio. - Vim ver meu filho, quero saber de tu agora não.

Fiz careta pra ele, e cruzei os braços virando meu rosto. Ele veio se aproximando devagar do berço, e assim que chegou perto suficiente brotou um sorriso enorme em seus lábios.

CK: Caralho, véi, ele é lindão, minha cara. - falou baixo, e ele revirei os olhos.

Kamilly: Ele ainda tem cara de joelho, amado. - murmurei, e na mesma hora ele me olhou com a cara fechadissima.

CK: Dá um tempo ai, pô. Mina chatona.

Fechei a cara também, e me ajeitei ali naquela cama, me cobrindo com a coberta. CK sentou na cadeira que tinha ali, e ficou olhando calado pro Kaio.

Eu só fiquei olhando pra ele em silêncio também, e quando ele colocou a mão no rosto, e suspirou alto tive que perguntar:

Kamilly: O que foi? Você tá bem?

CK: Caralho véi, não consegui chegar a tempo pro parto. Tava mó trânsito da porra. - tirou a mão do rosto, e vi que ele estava quase chorando já.

Fiquei sem reação na hora ali. Não sabia que ver o Kaio nascendo era tão importante assim pra ele, sei lá. Quando ele sumiu naqueles meses achei que estava pouco se fodendo pra tudo, e agora isso.

CK: Pô, eu só peço uma parada pra tu...- me olhou, e eu fiz sinal pra ele continuar. - Não me priva de ver meu filho não, cara. Ele já é tudo pra mim.

Engoli em seco desviando o olhar, e por um momento eu me senti mal por ele, por ter falando aquelas coisas pra ele algumas semanas atrás. Agi como uma criança, e não pensei direito. O que aconteceu entre eu, ele e minha família não tinha que envolver o Kaio, mas eu fui egoísta e pensei só em mim.

Kamilly: Como você conseguiu sair de lá de baixo?

CK: Apaguei o Nunes e me soltei. Eu cheguei aqui era sete da noite, mas tinha que esperar seus pais saírem. - suspirou, e finalmente me olhou nos olhos. - Queria ver você também.

Desviei o olhar dele para os meus dedos e respirei fundo.

CK: Eu vou voltar pro Rio essa madrugada...- murmurou, e na mesma hora olhei pra ele.

Senti uma dorzinha no peito, mas não disse nada, fiquei na minha.

CK: Não sei quando vou voltar não, ou se eu vou conseguir voltar...

Kamilly: Como assim?

CK: Se eles descobrirem do teu pai, e souberem que eu sabia dele a anos, eles vão cobrar vacilo meu, e pode pá que não vão só me afastar de ficar de frente da favela. - suspirou. - Grego é bem capaz de me matar...

Na mesma hora que ele disse aquilo um medo se apossou de mim, e eu segurei o choro que veio com tudo.

Por mais que ele tenha vacilado, não aguentaria ele morto.

CK: Posso pegar ele? - balancei a cabeça concordando, e ele pegou o Kaio do berçinho.

Eu apenas fiquei olhando para os dois em silêncio, e com um sorrisinho no canto da boca.

CK: Pô, amo tu e ele, tá ligada? - olhou por um tempo pro Kaio, e depois me olhou novamente. - Tenho uma conta ai com uma grana do caralho, vou deixar a senha e as porra tudo pra você usar esse dinheiro. Comprar as paradas que ele precisar e tals, e tu também.

Kamilly: Não precisa, Caíque. Meus pais já estão me ajudando.

CK: Nem vem, pô. Já que não vou conseguir ajudar pessoalmente, vou ajudar dessa maneira ai.

Kamilly: Por que você não fica, Caíque? Se junta com o PCC, ou sei lá, só não vai embora, cara...

Ele negou com a cabeça e se levantou, ignorando o que falei. Ele colocou o Kaio de volta no berço, e beijou sua testa.

CK: Tô partindo já. - ele me olhou, e eu neguei com a cabeça. - Fica bem, pô. Cuida dele por mim, ae.

Kamilly: Para, Caíque, você tá falando como se não fosse voltar nunca mais, credo. - fiz careta, e meus olhos se encheram de lágrimas.

CK: Ala, pô, vai chorar mermo? - deu uma risada fraca. - Pensei que tava com ódio da minha cara.

Kamilly: E eu tô...mas não quero que você vá embora...

Ele sorriu de lado, e se aproximou mais de mim. Beijou minha testa, e desceu a boca até meu ouvido.

CK: Amo tu, pô.

Ele sem dizer mais nada, pegou uma sacola que estava embolada na blusa de frio, e colocou dentro do berçinho do Kaio. Caíque deu as costas, e saiu dali fechando a porta.

Senti mó parada ruim no peito, e me segurei para não chorar.

Peguei aquela sacola, e abri a mesma vendo um ursinho de pelúcia beje ali, com um coração escrito Papai te ama. Sorri de lado, e deixei o mesmo nos pészinhos do Kaio. Tinha um papel ali também, com o nome de uma conta, a senha e mais algumas paradas.

Coloquei minhas mãos no rosto, respirando fundo, e ali eu meio que senti que tudo iria mudar daqui em diante...

Vida LokaOnde histórias criam vida. Descubra agora