2 anos depois...
Olhei pro Kaio que corria naquele quintal, e gritei outra vez pra ele parar, mas tu escutou? Por que ele não.
Passei minha mão no rosto, e dei outro gritão. O menino parou na hora e veio andando devagar até mim.
Kamilly: O que foi que eu falei de correr? Tu vai se machucar, e não quero criança chorando no meu ouvido depois não, eu em.
Kaio: Eu tô brincando, mamãe. - fez careta pra mim, e eu cruzei os braços. - Não tem nada pra fazer...
Kamilly: Ajudar a limpar não quer, né?
Ele me encarou fazendo bico, e eu fiz sinal pra ele sair. Ele saiu correndo, e eu suspirei alto me sentando em uma cadeira ao lado da Letícia.
Letícia: Esse moleque é atentado pra caralho, viu. Não para um minuto quieto, meu Deus. - sorriu fraco, olhando o Kaio dar risada enquanto o Bob, nosso cachorro tentava lamber o rosto dele.
Kamilly: Ele parece demais com o Caíque. - murmurei, e ela me olhou apertando os lábios.
Letícia: Tu ama ele ainda?
Eu engoli em seco, e fiquei calada. Na boa, eu nem sabia o que responder, o cara sumiu faz mais de dois anos, e muita coisa mudou nesse tempo.
Meus pais não estavam morando mais aqui no Brasil faz quase um ano. Foram embora pro Uruguai, mas todo final de mês vem ver o neto. Por mais que os dois tenham ido embora daqui, tô ligada que eles não pararam de trabalhar pro PCC.
Meu pai continua contador, e minha mãe matando os caras que devem grana pra caralho pro comando, e não pagam.
Fiquei chocada quando soube que minha mãe fazia isso, ela não tinha cara disso não, véi, mas eu nem disse nada, é o "trabalho" dela né.
Letícia e Kauê praticamente casaram, já estão morando juntos em uma casa aqui na favela. Mesmo eles juntos, sei que ainda participam das paradas das festas que a Letícia vai. Eu morro só de lembrar disso.
E eu, bom, tô morando com o Kaio na casa que sempre morei com meus pais. Tô trabalhando de dia numa loja no centro, e de noite fazendo meu curso de Nutrição, só faltava mais um ano e meio pra acabar e eu me formar de vez.
Quem fica com o Kaio nesse tempo que eu estou fora é a Letícia, e quando não dá pra ela deixo com a vizinha. Sem elas duas eu estaria perdida.
Letícia: Ele não deu mais notícias? - me olhou, e eu neguei com a cabeça.
Desde aquele dia no hospital, quando o Kaio nasceu, e o Caíque foi embora, eu não tive mais nenhuma notícia dele. O cara sumiu mesmo.
Já tentei ligar, e tudo, mas ele simplesmente desapareceu.
Nem o Clebinho que é amigo dele sabe aonde ele está, ou se ela tá bem e tals.
Todo santo dia o Kaio fica perguntando do pai, e eu simplesmente ignoro, mudando de assunto ou algo do tipo.
Na boa? Eu já não tinha mais esperanças que ele voltaria.
Kaio: Ô mãe, tô com fome. - parou ao meu lado, me cutucando. - Quelo bolacha.
Kamilly: De novo, menino? - encarei ele.
Ele deu um sorrisinho, e eu bufei me levantando. Entrei em casa com ele, indo direto pra cozinha. Peguei a bolacha e dei pra ele, que sorriu e saiu correndo dali.
Kaio já estava com quase dois anos, iria completar amanhã. Já estava tudo organizado pra festinha que vou fazer pra ele no quintal daqui de casa.
Não chamei muita gente não, apenas os mais próximos mesmo.
Mas, como foi no ano passado...quem eu queria que estivesse aqui, não vai estar!