Capítulo 8. A vida não é fácil para todos

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Homens. Como pode dois seres de mesma espécie, mas de gêneros opostos, serem tão diferentes?

Se os homens fossem um pouco mais inteligentes, se tornariam mulheres.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Sophie saiu de casa caminhando à passos rápidos. Como todos os dias, ela estava atrasada para trabalhar.

Anthony havia evitado-a durante toda a última semana, ela pensou que talvez ele tivesse desistido dela e, apesar de se sentir um pouco triste por isso, ela sabia que seria melhor os dois não se envolverem, principalmente para ela. Sophie tinha uma casa para sustentar e duas pessoas para dar de comer, não podia arriscar o emprego tendo um caso com o patrão, pois, apesar de ser Lady Katherine quem gerenciava a casa, Anthony era o chefe da família e, portanto, seu patrão.

Depois de meia hora quase correndo para chegar no trabalho na hora certa, ela finalmente passou pela porta dos fundos da casa e adentrou na cozinha, onde o mordomo esperava, como todos os dias, para designar as tarefas dos criados, embora ela já soubesse muito bem suas tarefas. Sophie sempre se mantinha afastada dos outros criados, não gostava da rede de fofocas que eles criavam por toda a ilha, eles cuidavam da vida de todo mundo e espalhavam todos os segredos dos patrões por algumas coroas de cobre. Ela nunca nem mesmo fez algum amigo em todos os anos que estava trabalhando para a duquesa.

- Sophie, pode entregar as correspondências da senhorita Emma, por favor? - pediu o mordomo quando ela estava prestes a sair da cozinha.

A Srta. Emma era a pessoa da casa que mais recebia correspondências, os criados sempre liam no envelope de quem eram, a maioria era da amiga dela, a Srta. Brithany Schorth, que mora do outro lado da cidade, mas Sophie nunca se importou em bisbilhotar. Ela fez que sim com a cabeça e pegou a pilha de cartas da mão do mordomo, logo em seguida subiu a escada dos criados e se dirigiu ao quarto de senhorita, à essa hora ela já deveria estar acordada.

Então Sophie deixou as cartas com Emma e arrumou o quarto rapidamente enquanto a dama de companhia da jovem penteava os seus cabelos. Ela saiu dali e estava cruzando o corredor para ir até o quarto da Srta. Catarina, a que ela mais gostava entre todos os irmãos. Mas assim que ela estava passando pela porta de Anthony, ela se abriu e ele saiu apressado, trombando com tudo em Sophie e fazendo com que ela derrubasse as toalhas em suas mãos.

- Qual é o seu problema? - Ele exclamou irritado enquanto ela se abaixava para pegar as toalhas.

- Meu problema? - Sophie se levantou novamente e olhou séria para ele. - Você que saiu pela porta sem olhar, parecendo que ia tirar a mãe da forca.

- É que eu pensei que os criados usassem os corredores de criados, não precisando circular pelos corredores principais com pilhas de toalhas nas mãos. - Anthony disse entredentes.

- Nós usamos quando eles existem, o que não é o caso neste andar da casa.- a mesma raiva que brilhava nos olhos azuis dele, começaram a escurecer os dela.- O que foi que eu te fiz?- ela indagou irritada.

- Perdão?

- O que foi que eu fiz para você me tratar assim? Em uma semana você me beija, na outra você me ignora e na seguinte me trata feito um cão sarnento.

Surpreso com as palavras dela, Anthony olhou para um lado do corredor e depois para o outro, para se certificar de que ninguém ouviu o que ela disse, então ele segurou o seu braço e puxou ela para dentro do quarto dele, trancando a porta em seguida. Sophie o encarou com desconfiança e raiva no olhar.

- Sophie, você não pode falar sobre isso no meio do corredor! - Ele grunhiu, irritado.

- Ah, não? Eu me esqueci. - Ela disse, irônica. - Me desculpe senhor, vou tentar melhorar.

- Sophie...

- Anthony! - ela cortou a fala dele.- Qual é o seu problema?

Anthony a encarou por uns instantes, parecendo refletir sobre o que falar.

- Talvez o meu problema seja o fato de você não ter mencionado que tem um filho. - Ele continuou encarando-a, e ela adquiriu uma expressão confusa. - Você deveria ter mencionado isso quando eu comecei a demonstrar interesse em você. Talvez você até seja casada.

Ela não fazia ideia do que ele estava falando. Filho? Que filho?

- Nunca imaginei que tivéssemos um compromisso. - Ela finalmente rebateu. - E eu não lhe devo satisfações da minha vida pessoal, mas eu não tenho um filho, nem um marido. Nunca tive.

Desta vez a confusão tomou conta da face de Anthony, enquanto ele a encarava.

- Mas eu... vi você. - Ele falou em voz baixa, muito confuso. - Com um menino de cerca de... cinco anos, muito parecido com você.

- Oh, céus. Agora você me segue por aí?

O que ele estava fazendo para vê-la com o menino no colo? Ela nunca andava por Royal Waterside com o menino, isso só podia indicar que ele estava atrás dela.

- Aquele é o meu irmão, e ele tem quatro anos. – Ela esclareceu, irritada.

- Eu não estava te seguindo. - Anthony revirou os olhos com impaciência. - Ele estava deitado no seu ombro como se você fosse a mãe dele.

Cansada, Sophie suspirou pesadamente e passou a mão pelo rosto. Sophie nunca gostou de falar sobre esse assunto com os outros.

- Sabe, senhor Campbell, a vida não é fácil para todos. - Sophie disse ríspida. - Meu irmão me trata como se eu fosse sua mãe porque sou eu quem o cria, nem todos crescem com pais presentes e amorosos ao redor. Nossos pais morreram quando eu tinha dezessete anos, a Nataly tinha dez e o Ben era só um recém-nascido, eu crio os dois desde então. É por esse motivo que eu valorizo muito o meu emprego, mas eu não vou ficar nesta casa sendo tratada feito um animal. Então, ou o senhor me trata com um pouco mais de respeito, ou pode assinar minha demissão hoje mesmo.

- Sophie, eu...

Mas antes que ele pudesse completar a frase, ela saiu do quarto, batendo a porta atrás de si e caminhando rapidamente, entrando no quarto de Cat.

- Hum... não está com uma cara muito boa hoje. - Cat disse assim que a viu.

- Ah, não. Está tudo bem. - Sophie forçou um sorriso e colocou as toalhas sobre a cama. - Trouxe as toalhas para o seu banho, creio que já devem tê-lo preparado.

- Sim, estava esperando as toalhas. - Cat disse, se levantando da cama. - Você se importa de me ajudar a arrumar o cabelo depois? A Olly ainda não apareceu.

- Claro que eu não me importo, ainda preciso esperar que seu irmão e sua mãe acordem para fazer meu trabalho. - Sophie comentou com simpatia.

- Anthony ainda não acordou?

- Ele sim, me referia ao senhor Joseph.

- Ah, aquele porco passa a noite toda em bordeis e depois dorme até tarde todos os dias, nada fora do normal. - Catarina disse, já no banheiro. – Mas, para o infortúnio dos criados, ele atrasa todos os serviços da casa.

- Creio que não seja adequado eu comentar sobre isso. – Sophie disse, já se colocando a arrumar a cama.

- Já eu, creio que seja totalmente adequado, afinal, é o seu trabalho que Joe e sua bunda dorminhoca atrasam. – Cat gritou do banheiro. – Mas vamos deixar isso de lado, você me ajudará com o penteado e enquanto me ajuda, vai me contar o que está te preocupando.

Ela soltou um suspiro cansado e começou a arrumar o quarto de Catarina, recolhendo a roupa usada que a menina tinha deixado sobre a cama no canto do quarto. Os últimos dias não estavam sendo fácil, Sophie estava trabalhando o dia todo e passando a noite em claro, mal pregara o olho na última semana, mas a filha da sua senhora não tinha nada a ver com isso, ela não iria começar a encher os ouvidos de Catarina com os seus próprios problemas.

Sophie sentia falta de ter amigas com quem conversar, quando os pais morreram, suas antigas amigas pararam de falar com ela e ela começou a trabalhar muito para sustentar os irmãos, mas ela sabia que Catarina não podia ser sua amiga, ela era apenas uma camareira, nem uma dama de companhia ela era. 

Um amor nada nobreOnde histórias criam vida. Descubra agora