Prólogo

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O dia de hoje amanheceu mais cinza e triste na nossa ilha. Esta autora ainda não sabe como escrever a edição de hoje e ignorar esse marco. 

Nesta manhã, o cavalheiro que deu a vida por Gruffin e tornou possível que cada um de nós vivêssemos felizes aqui, nos deixou. Aos quarenta e oito anos, o nosso amado duque faleceu, deixando muita saudade e tristeza para sua esposa e os seis filhos do casal.

Nossos sentimentos à família Campbell.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Anthony Campbell sempre foi conhecido pelo charme e cavalheirismo. Era um homem de um e noventa de altura, tinha os cabelos negros típicos da família, herança da mãe, e os olhos azuis que ficavam em um tom entre os do pai e os da mãe, sempre foi muito atlético e tinha um sorriso de lado que era capaz de parar os bailes. Mas, ao contrário do que muitos pensavam, Anthony não era dado a libertinagens, tinha tido a sua cota de aventuras durante seus anos na universidade, mas nunca fora como a maioria dos seus amigos e como seu irmão mais novo. Isso também não significava que era um cavalheiro que sonhava em encontrar seu grande amor e viver feliz para sempre, na verdade, ele tratava o casamento como qualquer outro acordo que pudesse firmar, poderia ser vantajoso ou desvantajoso, dependendo de quem era o outro envolvido, e o amor poderia ser um bônus nisso tudo, ele sabia que o principal objetivo que esperavam dele era a perpetuação do legado Campbell com um herdeiro homem para o ducado, mesmo que a família nunca tivesse lhe dito isso, a sociedade se empenhava em faze-lo ter consciência de tal fato.

Era uma noite fria de outono, quase fim da estação. Toda a família Campbell estava reunida para um jantar, Beth acabara de retornar de seus cinco meses viajando pelo continente com o marido e havia ido para um jantar na casa dos pais para rever a todos. Estava sendo uma noite de muita conversa e diversão, Liam estava muito feliz de rever a filha novamente.

Anthony não imaginou que aquela seria a última vez que veria o sorriso do pai e, se soubesse disso, teria passado a noite toda ali com a família e não teria se recolhido tão cedo.

***

Era para ser mais um dia normal, Anthony iria auxiliar o pai com alguns problemas com as propriedades da família, iria para o clube com o irmão após o almoço e voltaria feliz para casa quando a noite estivesse caindo. Mas quando ele acordou com os gritos da mãe naquela manhã, já sentiu o peso cair sobre as suas costas.

Kate gritava, desesperada, a voz embargada pelo choro.

Ele correu para o quarto dos pais, sendo seguido por Emma e Joe. Ao abrir a porta, encontrou a mãe sentada na cama, chacoalhando o corpo pálido do pai.

- Mamãe, o que está acontecendo? – ele perguntou, aproximando-se dela.

Kate se jogou nos braços do filho mais velho e deixou que as lágrimas rolassem, ela soluçava e levou alguns minutos para conseguir falar.

- Seu pai me deixou. – Ela disse entre as lágrimas.

Anthony pensou não ter ouvido direito, se recusava a acreditar. Ele fitou o pai na cama, por cima dos ombros da mãe, ele estava de olhos fechados, parecia apenas imerso em um sono profundo, mas já estava pálido como nunca foi.

- Como...? – Joe questionou, se aproximando do pai e segurando a mão fria dele nas suas.

- Eu não sei. – Kate disse, ainda abraçada ao filho. – Ele estava bem, não reclamou de nada. Eu não posso acreditar...

Enquanto a mãe chorava abraçada a ele e Joe segurava a mão do pai, Emma observava tudo, parada à porta e com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Anthony ficou ali abraçado à mãe, sentindo o peso do ducado e das responsabilidades como chefe da família caírem sobre os seus ombros. Ele não se sentia preparado. Nem para ser duque e chefe de família, nem para viver em um mundo onde o pai não estivesse lá para lhe dar um abraço e um sorriso sempre que precisasse. Mas ele tinha que ser forte, pela mãe e pelos irmãos, tinha que assumir as responsabilidades. É em momentos como esse que rapazes se tornam homens, ele pensou tentando se encorajar.

Sempre seria difícil perder um pai, Anthony pensava, mas perder um pai saudável, sem nenhum histórico de doenças ou coisas do gênero, era muito pior, eles não tiveram tempo de se preparar. Liam era um homem saudável, até mais que o próprio Anthony, ninguém nunca imaginaria que aquilo poderia acontecer com ele, como alguém dorme e não acorda?

O resto do dia foi triste, repleto de apertos de mãos e cumprimentos pela morte do pai, o preto caiu sobre a toda a casa, todas as damas da família adotaram vestidos pretos para o sepultamento do corpo e usariam aquela cor durante todo o próximo mês, Kate provavelmente voltaria a usar roupas coloridas apenas em um ano ou dois.

Anthony ainda não acreditava, não era possível para ele que o pai realmente estivesse morto.

Logo depois que o corpo foi velado e sepultado, um agente da Coroa chegou para discutir com Anthony seu novo papel em Gruffin e no reino. Anthony não se importou se seria enviado à forca por isso, mas amaldiçoou o maldito rei Edward, seu tio, e todo o reino. Como poderiam querer que ele pensasse em Gruffin e suas responsabilidades quando ele ainda não conseguia imaginar um mundo sem o sorriso quase imperceptível do pai e os conselhos dele? Não queria saber das suas novas responsabilidades, mandou o agente de volta para o inferno de onde saiu e se trancou no seu quarto, deixando então que as suas lágrimas finalmente rolassem pelo rosto. Tinha sido forte pela família, mas agora precisava ser fraco e deixar-se chorar. 

Um amor nada nobreOnde histórias criam vida. Descubra agora