Capítulo 14. Ela foi embora

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...

Quando uma pessoa tão importante na nossa vida vai embora, nós ficamos sem saber o que fazer, mas devemos seguir em frente, pois, por mais difícil que seja, a vida deve continuar. 

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

(Coluna publicada depois do falecimento de Liam Campbell, o antigo duque de Gruffin.)

O humor de Anthony não estava nada bem no dia seguinte, ao descer as escadas e adentrar na sala de estar do andar debaixo, ele viu alguns buquês de flores, três de rosas, um de tulipas e alguns de outras flores que ele não se importou em identificar. Aquilo tudo certamente era para Emma, a única dama disponível da casa, e tudo isso fazia Anthony ficar ainda mais estressado, nunca gostara de ver outros homens tentando cortejar suas irmãs.

- Flitworth? Ele tem cinquenta e nove anos! – Anthony disse, observando o cartão de um dos buquês de rosas.

- O marquês? - Emma perguntou, se virando para ele.

- O próprio.

- Cruzes. – Ela fez uma careta de nojo. - Nem que fosse o último homem desta ilha.

Mas isso não bastou para acabar com o mal humor de Anthony, ainda havia mais uns sete pretendentes que enviaram flores e que ela teria que descartar para que ele pudesse se sentir melhor. E mesmo que isso acontecesse, o mal humor dele não era apenas pelos pretendentes de Emma, mas também por ainda não ter decidido o que fazer com relação a ele e Sophie.

- Não está atrasado? – Emma perguntou, tirando o irmão de seus próprios pensamentos.

- Não. - Ele disse, simplesmente, e depois, porque aquela era Emma Campbell e ela iria fazê-lo dar detalhes de qualquer forma, acrescentou: - Não vou para a embaixada hoje, vou receber o visconde de Gwendolin para uma reunião aqui em casa pela manhã e de tarde o advogado da família.

- Michael virá aqui hoje? - ela perguntou, demonstrando mais interesse do que deveria.

- Não sabia que eram íntimos assim. - Anthony disse, levantando uma sobrancelha.

- Não somos. - Ela apressou-se em responder, corando. - Apenas gosto de conversar com ele, sempre que vinha para reuniões com o papai, ele tomava um chá conosco. É um homem bom.

- Não me diga que tem interesse em Michael. - Anthony encarou a irmã, já imaginando que tipos de ameaça teria que fazer para o advogado. Michael não era um homem ruim, mas tinha um vicio em jogos que acabaria consumindo todo o seu dinheiro antes que completasse trinta anos.

- Claro que não! - Emma exclamou, revirando os olhos. - O vejo apenas como o advogado da família, nada mais que isso.

- Sei... - Ele declarou, saindo da sala de estar e deixando Emma com os seus cartões com declarações de amor, repletos de clichês como "seus olhos são belos como a imensidão dos céus" ou "nem mesmo o mar se compara com a beleza dos seus olhos", típicas frases usadas com damas de olhos azuis.

***

Anthony passou o dia todo no escritório de casa, recebeu o visconde Gwendolin, o advogado da família e vários dos pretendentes de Emma que queriam pedir-lhe autorização para cortejá-la, alguns rapazes que nem mesmo tinham barba no rosto e outros homens tão velhos que tiveram que sair no meio da conversa para ir ao banheiro. Mas o que o deixou mais surpreso foi ver alguns dos homens que na temporada anterior haviam cortejado Beth, deduziu ele que esse último grupo era dos que apenas queriam o dote generoso que o pai deixara para as filhas, ou o status de ser casado com uma Campbell e o parentesco com o duque.

Mas, na opinião de Anthony, a melhor parte do seu dia foi a reunião com o visconde. A ocasião clareou a mente com relação ao assunto que pairava sobre sua cabeça durante os últimos dias, Sophie. Anthony descobriu que, na verdade, o secretário do visconde se chamava Bernard e que tinha trinta e seis anos, era casado e já possuía três filhos. O que levou Anthony à conclusão de que Sophie realmente inventara a história a respeito do pretendente, ela havia mentido para ele. E, contrariando a toda a lógica do universo, ele não se sentia nem um pouco mal pela mentira dela, pelo contrário, se sentia feliz pois poderia ir em frente com seu plano.

Agora que tinha a total certeza de que o caminho estava totalmente livre para ele ter Sophie somente para si, Anthony podia começar a pensar em que faria a seguir. Ele já tinha admitido para si mesmo que a amava e tinha dito isso a ela, também decidiu que iria enfrentar toda a sociedade, se fosse preciso, ele iria pedir Sophie em casamento e fazer de tudo para que ela aceitasse, não importava o quão difícil seria ter que lidar com a sociedade, ele tinha o apoio da mãe e isso já era muito melhor que nada.

- Está com cara de idiota. - Emma apareceu na sala de estar, tirando-o de seus pensamentos.

- Ah, que bom. - disse ele sem nem ter ouvido o que ela disse. - Espere, o que foi que disse?

- Que está com cara de idiota. - Repetiu ela, rindo. - Quer conversar?

- Não, não quero conversar.

- Tem certeza? Dizem que sou uma ótima ouvinte.

- Só se for ouvinte detrás de portas. - Ele disse secamente, encarando-a.

- Também. - Ela agradeceu, sorrindo. - Obrigada pelo elogio.

- Não foi um elogio.

- Prefiro tomar como se fosse.

- Não tem nada para fazer, não? - ele disse impaciente.

- Na verdade, estou totalmente disponível para ouvi-lo.- Emma falou com um sorriso de superioridade.

Se impertinência fosse crime, Emma receberia três centenas de pena máxima.

- Bom, eu tenho o que fazer. - Ele se levantou. - E tente não ouvir detrás da minha porta.

- Ah, isso será inevitável. - Ela dispensou a fala do irmão com um movimento das mãos. - Preciso de informações para a coluna de fofocas das irmãs Campbell.

Anthony riu ao ouvir isso, principalmente por ser ele mesmo quem mencionou a ideia para a irmã.

- Ganhará muitas coroas com isso, pode apostar. - disse ele, saindo da sala e subindo as escadas.

Decidiu que já estava na hora de resolver o Assunto Sophie, então, ao chegar na porta do seu quarto, ele tocou o pequeno sino dos criados do lado de fora e entrou no quarto, fitou a porta por cerca de um minuto até que alguém bateu, ele disse para entrar. Mas, para a sua surpresa, não foi Sophie quem entrou, foi uma mulher de cerca de trinta anos, cabelos negros e com uma cara de quem acabou de chupar limão.

- Precisa de algo, senhor? - a mulher perguntou, prestativa.

- Preciso falar com a Sophie. - disse ele, observando-a com as mãos na cintura.

- Quem?

- Sophie, a camareira. - Esclareceu ele.

- A camareira agora sou eu. O senhor precisa de ajuda?

- Como assim? O que aconteceu com a Sophie? - Anthony questionou, forçando-se a acreditar que ela havia apenas mudado de cargo dentro da casa e não que tivesse ido embora. Talvez a mãe dele tivesse promovido Sophie como dama de companhia de Catarina, como a menina queria havia semanas.

- Ela foi embora, senhor. - disse a mulher. - Mas eu ficaria feliz em poder ajudar.

- Ah, não. - Ele disse, forçando um mísero sorriso enquanto seu mundo desabava. - Apenas ela pode me ajudar, muito obrigado.

A mulher deu de ombros, olhando feio para ele por fazê-la perder tempo e saiu do quarto depois de fazer uma mesura mínima e educada.

Ela havia ido embora. Havia se demitido do emprego, mesmo depois de ter dito que precisava muito do trabalho. Sophie estava fugindo de Anthony, isso só podia ser um sinal de que ela também tinha sentimentos por ele, não é? Ele rezava para que sim. Mas o que diabo ele faria agora? Onde encontraria Sophie? 

Um amor nada nobreOnde histórias criam vida. Descubra agora