Esta autora deve dizer que ficou completamente encantada com o baile de Lady Evans na noite de ontem, devo também deixar, antes de mais nada, os parabéns a ela.
Agora, indo ao que realmente interessa, devo dizer que a Sra. Calante Berbrook mais uma vez errou na escolha de vestidos para as filhas, tornando a querida Anastácia um tomate muito maduro, o que chocou um total de zero pessoas. Vale mencionar também a escolha de cor de Alice Brown, ela realmente acertou o tom.
Falando dos cavalheiros, como essa autora citou em uma das colunas de ontem, os irmãos Campbell estavam presentes, elegantes e charmosos como sempre. Essa autora se casaria com qualquer um deles durante o baile se tivesse oportunidade.
TABLOIDE DE GRUFFI, por LADY EMYLINE.
O dia estava extremamente calmo, a casa silenciosa e Anthony trancado no escritório durante todo o dia. Uma chuva batia contra o vidro da janela, fazendo um barulho tranquilo que embalava o trabalho de Anthony, analisando os últimos relatórios que recebeu dos viscondes da ilha.
Já era quase quatro da tarde quando Anthony sentiu fome e se forçou a sair do escritório para comer. Todo o restante da família partira pela manhã para uma temporada no rancho da família, em Gwendolin. Kate achou que isso faria bem a todos, inclusive à Anthony, que não fora por conta do trabalho, Kate sabia que ele precisava ficar sozinho para colocar os pensamentos no lugar.
Ele abriu a porta do escritório e começou a caminhar em direção à cozinha, mas parou ao ver Sophie no corredor, fitando o lado de fora da casa através da janela. O dia estava chuvoso de novo, escuro como a noite, e agora uma tempestade forte caía do lado de fora da casa, com raios e trovões.
- Sophie? - ele chamou enquanto se aproximava, mas ela não se moveu nem mesmo um centímetro. - Sophie, está tudo bem?
Aquilo intrigara ele um pouco, ao ver ou ouvir a tempestade, ela simplesmente congelara e ficara sem reação. Isso aconteceu no quarto dele há alguns dias, isso estava acontecendo agora...
- Sophie? - ele se aproximou mais dela. - Soph...
Antes dele terminar, ela se agarrou a ele em um impulso e continuou encarando a chuva cair e os raios cortarem o céu do lado de fora, com a cabeça em seu peito e os braços ao redor dele. Então Anthony sentiu algo molhar sua camisa e percebeu ela soluçar e tremer, ela estava chorando?
- Shhh, calma. Está tudo bem. - Ele disse, abraçando-a, não sabia o que estava acontecendo, mas pareceu ser o melhor a se dizer. Aos poucos ele foi se afastando da janela com ela agarrada a ele. Ele a virou de costas para a janela e isso pareceu começar a acalmá-la. - Está tudo bem...
- Sr. Campbell? - ela exclamou, mas sem se afastar dele.
- Eu disse para me chamar de Anthony. – Lembrou ele, com a voz ainda reduzida a um mero sussurro. - Está melhor?
- Estou melhor, o senhor não precisa ficar aqui comigo.
- Eu posso ficar com você. - Ele disse enquanto ela ainda chorava abraçada a ele. - Vou ficar aqui até você parar de chorar e ficar tudo bem.
Ela permaneceu ali, agarrada a ele, com a cabeça sob o queixo e o rosto contra o peito dele, as suas lágrimas escorrendo até a camisa de Anthony e molhando-a. Ele deixou que Sophie o apertasse no abraço e fez o mesmo com ela.
- Você quer que eu converse com você ou é melhor ficar em silêncio? - ele perguntou a ela.
- Conversar pode me ajudar. – Sophie falou em um cochicho abafado contra o peito dele.
- Certo, hã... sobre o que eu posso falar? - ele pensou em voz alta, refletindo.
- Qualquer coisa. - Ela pediu baixinho.
- Entendi... Quando eu era pequeno, a minha irmã também tinha medo da chuva. Toda noite que chovia, ela levantava chorando e corria até o meu quarto, por que ela tinha medo dos meus pais brigarem com ela, mesmo tendo certeza que eles nunca fariam isso. - Ele contou, se lembrando de todas as vezes que Beth o acordara. - Ela me cutucava e fazia eu rolar para a beirada da cama, então ela subia na minha cama e se enfiava debaixo das minhas cobertas com seu urso de pelúcia que ela tanto amava dormir. Ela pedia para mim a abraçar e dizer que tudo ficaria bem. E eu fazia isso. Eu passava o resto da noite acordado, enquanto ela dormia nos meus braços. Mas aí a gente cresceu, eu fui para a universidade e acho que ela perdeu esse medo.
- É um medo bobo e infantil...
- Não, não é.- ele a interrompeu. - Ninguém pode julgar o medo dos outros sem conhecer os motivos que o desencadeou. Você tem o direito de ter medo de qualquer coisa que seja.
- O senhor tem um medo? - ela levantou a cabeça por um momento, encarando os olhos azuis dele, ele hesitou um pouco para responder. - Eu estou me intrometendo demais? Tudo bem se não quiser responder.
- Não, não tem problema. Eu tenho um medo sim, medo de não ser bom para a minha família. - Ele disse com os olhos se tornando escuros enquanto fita os olhos cor de mel dela, a poucos centímetros da boca que ele tanto desejou beijar.
- Tenho certeza que é um ótimo filho e irmão para a sua família. – Sophie o tentou confortar, encarando-o com os olhos marejados.
- É algo inevitável, eu sei que sou bom, mas eu continuo duvidando disso. Tenho medo de não ser um bom chefe de família como meu pai foi.
Ele olhou para ela e seus rostos se aproximam mais, o olhar dele caiu para os lábios dela, levemente rosados, e ele se aproximou mais. Um pouco mais próximos e os lábios deles se tocariam, ele se inclinou levemente para poder beijá-la a sua língua percorreu a boca dela, apreciando o sabor doce, Sophie instintivamente abriu os lábios e deu passagem para a língua dele, que encontrou a sua em uma dança suave enquanto as mãos dele permaneciam na cintura dela e as mãos dela no peito de Anthony.
O beijo foi lento e suave, Anthony se esforçou para mantê-lo assim e não a devorar no meio do corredor, sentindo o gosto dela, que ele tanto imaginou como era. Mas em nenhum de seus sonhos com ela aquilo fora tão bom quanto a realidade. As mãos dele percorrem as costas dela e descem até a bunda, explorando todo o corpo dela, os lábios dele se afastaram dos dela e desceram pelo pescoço, sentindo a pele macia dela em contato com seus lábios, ele cola ainda mais o corpo ao dela para que ela possa sentir o quanto ele a deseja.
Já sem fôlego, Sophie se afasta dele e olha nos seus olhos, ardentes de desejo, de desejo por ela. Mas ela não podia fazer aquilo, não podia continuar ali, ou iria ceder a ele.
- Eu não posso fazer isso! - ela disse, já se virando para sair dali. - Eu preciso ir para casa.
- Sophie, espere... – ele tentou para-la, mas não conseguiu.
Anthony ficou parado ali, olhando-a sair, debaixo de chuva, e ficou se perguntando se ela retornaria para trabalhar amanhã, ele não devia ter deixado ela sair, ainda mais com uma tempestade, e sabendo como ela tinha medo de tempestades.
Ele deveria se desculpar por ter beijado Sophie. Anthony havia obrigado Peter a se casar com Beth por causa de um beijo, embora o deles tivesse sido um pouco mais intenso que o dos dois, mas mesmo assim, algo do tipo poderia comprometer a honra de uma dama e obrigar um homem a se casar. Ela não era uma dama da alta sociedade, era apenas uma criada, mas merecia pelo menos um pedido de sinceras desculpas dele.
O dia já estava encerrado para Anthony depois daquilo, ele não conseguiria mais trabalhar, então foi para o seu quarto e se jogou na cama com um sorriso bobo no rosto. Se sentia como quando tinha beijado pela primeira vez, a felicidade borbulhando dentro dele e duro de desejo apenas por um simples beijo, santo Deus, como poderia estar daquela forma novamente apenas por um beijo? Um simples e inocente beijo sem nenhuma inocência no qual ele nem mesmo tinha explorado o corpo dela como queria. Mas aquilo tinha sido diferente de tudo que já fizera com outras damas, aquilo era mais profundo.
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Um amor nada nobre
Ficción históricaLivro 2 da série Família Campbell. Toda a família Campbell é abalada por uma tragédia, mas Anthony é o que mais foi afetado, segundo ele mesmo pensa. Obrigado a deixar de ser quem é e se tornar quem precisa ser, Anthony ainda tem que lidar com seus...