Capítulo 15. Você está fugindo

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Às vezes, fugir é mais fácil do que enfrentar a realidade...

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Aquilo era o melhor a se fazer, Sophie sabia que as coisas não podiam continuar como estavam e que logo Anthony descobriria a sua mentira. Então ela pediu as contas para a Sra. Campbell naquela tarde e foi para casa com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Ela só se obrigou a parar de chorar quando chegou na rua da sua casa, não queria que os irmãos a vissem chorar. Sophie sempre seria grata à Anthony pelo que fez por Ben, mas não podia continuar perto dele, seus sentimentos por ele estavam ficando cada vez maiores e ele só a queria como uma amante, ela não poderia aceitar algo assim. Precisava começar a procurar um emprego novo em breve, mas tinha algum dinheiro para sustentar a família até conseguir, então iria tirar um dia ou dois para apenas ficar com os irmãos e arrumar a casa.

As caixas ainda estavam todas empacotadas na sala da casa, tudo ainda estava uma bagunça. Nataly cuidava da casa, mas a irmã mais nova ainda não tinha tido tempo de organizar tudo, e tinham coisas pesadas para serem colocadas no lugar que Sophie não queria que a menina fizesse sozinha.

Ben estava sentado no chão da cozinha, brincando com um carrinho, e Nataly estava acabando de preparar o jantar. Sophie sorriu ao ver que o menininho já tinha voltado a ser ele mesmo de novo. Seus irmãos eram o mundo para ela, Sophie faria o que fosse preciso para que não faltasse nada para eles e para que eles fossem felizes, apenas aquele sorriso nos lábios do menininho já era pagamento suficiente.

- Você pediu demissão mesmo? – a irmã perguntou com um olhar preocupado.

Sophie suspirou, Nataly estava preocupada com a falta de emprego de Sophie, mas ela em breve arranjaria outro emprego e tudo ficaria bem.

- Sim, mas não se preocupe. – Ela forçou um sorriso. – Já tenho algumas entrevistas em alguns dias. – Sophie mentiu.

***

Depois do jantar, Sophie ficou com os irmãos no quarto deles, leu um livro e ficou ali enquanto os dois dormiam, então ela foi para a sala de estar da casa e começou a abrir algumas daquelas caixas enquanto sua mente vagava por pensamentos aleatórios.

Ela se lembrou de quando era pequena e passava horas vendo a mãe pintar, era algo muito bom, ela amava o cheiro da tinta e as conversas que tinha com a mãe; Sophie sonhava em se casar quando crescesse e ter um marido carinhoso e amoroso como seu pai era com a mãe, ela passaria o dia pintando também, e teria filhos, queria pelo menos três. Depois ela se lembrou de quando o pai a levava para passear pelos campos floridos perto da propriedade da família no interior, a mãe chegou a fazer uma pintura de Sophie nos ombros do pai naqueles campos floridos. Então Sophie encontrou um quadro pequeno, o único que havia guardado de todos que tinham na casa em que cresceu, era um quadro da janela do estúdio de pintura da mãe em uma noite chuvosa, a riqueza de detalhes com que a mãe pintava fazia Sophie até mesmo sentir o cheiro da grama molhada do lado de fora da janela. Mas Sophie não era mais uma garota sonhadora, tinha que trabalhar e criar os irmãos, não tinha tempo para pintar, e aquele quadro lhe trazia uma lembrança triste, a chuva lhe trazia uma lembrança triste, as lágrimas escorreram pelo rosto dela. Uma tempestade tirou-lhe tudo que ela mais amava no mundo, o terror que ela tinha de tempestades era algo que ela duvidava que um dia superaria, mas no meio de todo o seu pavor e lágrimas, de todas as tempestades que ela já passou, foi no abraço de Anthony que ela se sentiu segura. Ela se esforçava para não demonstrar aos irmãos o seu medo, eles já sofriam demais com aquilo também, e ninguém nunca soube ou, se soube, não se importou em ajuda-la quando ela tinha uma crise. Exceto Anthony, ele a tinha visto, tinha se importado e tinha se preocupado com ela, mas agora isso não faria diferença, aquilo não daria certo.

Ela chorou mais ainda com a lembrança dos braços dele ao seu redor e do beijo suave e carinhoso dele. Mas não podia fazer aquilo, não podia continuar, não daria certo. Anthony queria uma amante, queria uma dama que estivesse à sua disposição para quando precisasse, mas sem precisar assumir nenhum compromisso. Sophie sabia como era não ter um pai, então não podia se permitir aceitar a proposta dele, se rebaixar a ponto de ser apenas um objeto para um homem e correr o risco de ter um filho com ele, uma criança que viveria sem pai e que todos olhariam na rua e apontariam, o bastardo do duque. Nenhuma criança merecia aquilo.

Ela escutou um barulho e se virou, Nataly estava atrás dela.

- Também sinto falta da mamãe. – A irmã disse, parando ao lado de Sophie. – Esse quadro foi tudo que nos restou dela.

- Eu sinto muito. – Sophie abraçou a irmã.

- Não é culpa sua. – Ela consolou. – Você é ótima para mim e o Ben, nós não poderíamos estar melhor.

- Poderiam. – Sophie disse de maneira amarga. – Se eles estivessem aqui.

Nataly se afastou.

- Isso não é culpa sua. – A irmã olhou nos olhos cor de mel de Sophie. – Você não tem culpa, Sophie. E o papai e a mamãe não iriam querer que você ficasse se torturando pensando assim. Eles iriam querer que você fosse feliz.

- Eu estou feliz.

Nataly abriu um sorriso amargo.

- Não, você não está. – Ela negou com a cabeça. – Você está fugindo. Eu não sei do que, mas você está triste e fugindo. Faz dias que não vejo um sorriso no seu rosto, você pediu demissão do emprego na casa da duquesa, isso não é normal, Sophie, você gostava de trabalhar lá e sempre falava do salário generoso, não sei o que houve, mas algo aconteceu e você está triste.

- Nataly, você não precisa se preocupar, está tudo bem. – Sophie se esforçou para sorrir.

- É por conta do duque? Você está fugindo dele?

- O que? Não! Eu...

- Sophie. – Nataly disse em tom de advertência. – Eu vi como ele olhou para você quando esteve na nossa casa, ele se preocupa com você. Por que ele decidiu pagar o tratamento do Ben?

Sophie encolheu os ombros. Desde quando sua irmã tinha feito trinta anos e agia como sua mãe?

- Eu não sei. – Ela disse baixinho. – Anthony fez isso pela irmã, eu acho. Catarina pediu para ele nos ajudar.

- Eu acho que ele fez isso porque sente algo por você e quer você por perto, mas você está fugindo.

Sophie não podia continuar com esse assunto, ou iria admitir a verdade.

- Está tarde, vamos para a cama. – Ela disse já caminhando em direção às velas para apaga-las e depois foi para o quarto com a irmã, mesmo com Nataly protestando. 

Um amor nada nobreOnde histórias criam vida. Descubra agora