Narrador (3° pessoa)
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens – a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como ínctus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie – tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na coragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milênios mais tarde explode em amor
E da matéria da vida no infinito.Eles eram mais antigos que o silêncio...
Vinícius de Moraes
ෆ
Ao abrir os olhos, Alex tentou entender onde estava. A cabeça e o corpo todo doíam demais, ele mal conseguia se mexer. Demorou um pouco, mas lembrou-se do que havia acontecido. Ele sofrera um acidente de carro. Ana Júlia e Mia tentaram manter o veículo sob controle, mas fora impossível.
E, estranhamente, ninguém veio socorrê-lo, nem ambulância ou carro dos bombeiros. Foi quando Alex se deu conta de que já não estava mais dentro do carro, porém, também não se encontrava em um hospital.
Então, um pensamento surgiu de sobressalto: Onde estavam suas filhas?
Sua última lembrança era dos gritos das garotas, chorando apavoradas. Depois de alguns instantes de verdadeiro pânico, Alex olhou para frente e para os lados e se viu, de volta à sua antiga casa... Sua e de Emily, quando ainda eram novos. Mas, eles não estavam mais exatamente no morro. Porém, ele tinha total certeza de que aquela era a casa.Olhou para as mãos — não havia mais rugas nem manchas. Aquelas eram as mãos de um homem de vinte e poucos anos, e não de setenta e quatro.
E foi quando a porta se abriu logo atrás dele.
— Oi, amor! Você demorou muito. Cheguei a pensar que não viria mais — a voz suave, familiar e doce soou logo atrás dele. Alex arregalou os olhos. Não podia ser verdade. Ele se voltou apressado e... ali estava ela, de pé parada bem à sua frente: Emily! Angustiado, com os olhos cheios de lágrimas, Alex a puxou para si em um abraço desesperado.
Era ela mesma, de carne e osso. Não se tratava de uma ilusão, era tudo real. Quando se afastou, Alex segurou o rosto de Emily com ambas as mãos.
Ela sorria, com os olhos repletos de lágrimas.
E finalmente eles se beijaram; um beijo urgente, pelo qual os dois pareciam ter esperado durante muito tempo.
— Isso é um sonho? Por favor, diga que é tudo verdade, senão eu vou enlouquecer! — Alex suplicou, com a face colada no rosto de Emily.
— Não, meu amor, isso não é um sonho. Nós estamos mesmo aqui, juntos novamente — Emily falou com suavidade, com o coração disparado dentro do peito.
— Então eu estou...
— ...Morto. Como eu — Emily o olhava com imenso carinho. Alex analisou cada detalhe do rosto dela, e depois para as próprias mãos. Era como se ele tivesse regressado no tempo. Mesmo sem um espelho tinha certeza de que tudo voltara a ser como era antes.
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Tudo Por Ela
Roman d'amourAlex é um traficante que nunca se "apaixonou na vida", até se encontrar frente a frente com a garota dos seus "pesadelos"... Emily é uma garota sonhadora mas que preferiu viver com seu irmão no morro ao ir com seus pais até México Morar cm sua tia...