Levanto de supetão da cadeira quase derrubando meu copo, falando sem voz um pedido de desculpa e correndo para a varanda da casa.
- James! Quero dizer, sr. Lencastre! - digo eufórica - Espere, como sabe que esse é meu número? - pergunto desconfiada.
Ouço uma risada do outro lado e meu coração da uma guinada.
- Estava esperando sua ligação, mas estava em uma reunião quando você me ligou, então eu liguei para esse número e uma garota muito estranha atendeu e passou para você.
- Era minha companheira de quarto - explico vagamente, tímida.
Jesus amado, como eu virei uma boba assim tão rápido?
- Escute Isabella, eu não estava blefando sobre aquela proposta, eu quero mesmo ajudar você - ele falava sério, o que me deu calafrios.
- C-claro, e-eu também quero ser ajudada- confesso com um fio de voz.
- Que tal nos encontrarmos amanhã para discutir sobre isso? - ele sugere - Tem um restaurante japonês que eu adoro, eu te passo o endereço, sete horas está bom para você?
- S-sim está perfeito.
- Te encontro lá então,boa noite Isabella - ele diz desligando a linha, sem esperar minha resposta.
Encaro o telefone procurando por mais ilusões, mas não, era real, James Lencastre e eu vamos ter um encontro. Olho em volta para ver se alguém mais ouviu, mas estava sozinha.
Com o coração na boca volto para a cozinha com os outros me observando atentamente.
- Aconteceu alguma coisa? - Carl pergunta mais interessado em uma fofoca do que preocupado.
Consigo fingir um sorriso de despreocupação e evito seu olhar pegando meu copo e tomando uma golada do refrigerante acabando com o líquido dentro do copo. Como eu sinto falta do meu guaraná antártica .
- Nada, era só minha mãe - minto.
- Ah ok - ele dá de ombros e volta a atenção para seu namorado.
Pelo canto do olho observo Josh e Lia me encarando, mas eu os ignoro e vou para meu quarto deitar, andando devagar pela casa velha tentando controlar minha respiração.
A casa era de Josh. Ele herdou da avó e como negócio ele abriu como uma república. Era uma casa de dois andares e dois quartos, três se contar com o do sótão, e infelizmente um banheiro. O primeiro andar era onde ficava a cozinha com uma pequena mesa de jantar e uma sala de estar e uma pequena varanda, com o chão velho de madeira e paredes recém pintadas. No segundo ficava o banheiro e dois quartos : um de Josh e um dividido com Carl e Alex. E o sótão que era o "terceiro" andar era onde ficava meu quarto com Lia.
Quando chego no meu quarto suspiro trêmula, mas fico na dúvida se é pelo fato de que James Lencastre me ligou marcando um encontro comigo ou se é pelo fato que eu subi dois lances de escada, coisa que eu nunca me acostumei.
Deito exausta na cama observando a pequena vista que a janela me proporciona.
Minha mente estava a mil. O que ele ia propor? Seria um emprego? Sexo? Ele queria que eu fosse a prostituta dele ou algo assim? Ou um tipo de empregada doméstica? Ou era algo que eu não sabia fazer e veria a oportunidade cair das minhas mãos?
Tudo era tão confuso e tão animador. E eu não conseguia tirar ele da minha mente. O sorriso dele era impossível de resistir, e aposto que ele sabia disso e sabia como usá-lo. Agora pensando bem, me lembro que quando via um filme dele eu ficava vidrada em cada gesto dele, principalmente os gestos românticos que ele fazia para a mocinha, de algo pequeno como um carinho na bochecha para algo grande como salvar ela de um sequestro.
E tinha a aura dele. Eu não acreditava nisso de aura, mas ele com certeza tinha uma, e estava transparecido nos olhos dele, como se guardasse um segredo profundo aka Christian Grey.
Seria isso então? Ele era um sádico?Inconscientemente pego meu celular pesquisando pelo nome dele. A página do Wikipédia abre mostrando seus trabalhos e sua vida. Ele era lindo mesmo, gostoso de morrer. Tinha 38 anos, solteiro, sem filhos, participado de vários filmes, tinha dois irmãos, o pai morreu e sua mãe era branca.
Então pelo menos ele não era um sádico que gostava de bater em meninas que pareciam as mães. Mas isso não quer dizer nada, ele poderia ser um sádico racista que gosta de bater em mulheres negras como um escravocrata.
Estremeço com o pensamento lembrando do cliente racista de hoje. Eu nunca passei por tanta humilhação em toda a minha vida, e o fato que eu esperei por alguém vir a meu socorro era ridículo. Rio sem humor com a possibilidade. Ninguém viria a meu socorro, talvez meus pais e Isadora, minha irmã, mas eles estavam longe, e eu estava sozinha.
Mas ele veio como um socorro, não veio?
Não diretamente, mas com um tipo diferente de socorro.Pare!
Nada de esperanças, não se permita ficar esperançosa, ele era de outro patamar e talvez ele se sentiu muito generoso na hora e para pagar de boa pinta resolveu me ajudar, isso era o mais provável. Eu só estava no lugar certo, na hora certa e na situação certa.
Ouço o barulho de notificação do meu celular e abro a mensagem, vendo que é uma dele. Era marcando o endereço do restaurante japonês, fazendo o pânico crescer em cima de mim. Eu odiava comida japonesa, eu odiava qualquer comida que vinha do mar ou rio.
Culpa de minha mãe que também odiava e me ensinou a odiar, mas eu realmente não suporto o cheiro, é angustiante é como um cheiro de chulé molhado que sempre me dava ânsia.
Começo a digitar que não gosto de comida japonesa para ele mas apago antes de mandar, talvez não seja tão ruim assim. Quem sabe eu acabo com a minha aversão, e tambem não quero parecer mal educada, então não respondo nada e bloqueio meu celular, colocando ele para carregar e virando de lado.
Antes mesmo que eu perceba caio no sono com a mente totalmente inundada em um sorriso luminoso e em olhos verdes hipnotizantes.
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Cinquenta Tons de Rosa
RomanceAo atravessar o oceano Atlântico e pousar na ilha inglesa, Isabella pensou que a sua vida ia mudar e para melhor. Mas a capital Londres a recebeu com um forte tapa de realidade e com dinheiro escasso a garota tenta sobreviver na cidade trabalhando e...