Paladar Infantil

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No outro dia, entro na cafeteria de Carmem pelas portas da frente, confiante e decidida. Mas recebo uma confusão de gritos e pedidos de desculpas, e quando chego mais perto Carmem estava tentando limpar o café da camisa de um cliente que gritava com ela.

Quando ela me vê sua cara passa por todos os tons de vermelho possíveis e num ato de coragem eu sorrio divertida de volta.

- O que está fazendo sua imprestável? Venha ajudar! - ela diz toda arrogante me oferecendo o pano para eu limpar o chão.

Me aproximo mais dela olhando com nojo o pano que ela estava me oferecendo  e mais nojo ainda quando eu encaro seu rosto.

- Vim aqui pedir demissão, e como não temos contrato não será necessário nada além do meu aviso, que é o que estou dando - falo empertigando meus ombros - Boa sorte, acho que vai precisar.

Me viro sem esperar resposta, tendo o gostinho de ver sua cara chocada se transformando em raiva absoluta.
Caminho em direção ao apartamento de James renovada e com um friozinho na barriga. Era a mesma sensação de sábado,borboletas malditas que não paravam quietas.

Passo em uma vitrine vendo meu reflexo por um momento satisfeita com minha roupa, quer dizer mais ou menos. Poderia ter algo mais formal, mas essa roupa era o mais próximo que eu poderia ter de uma roupa social. Calça jeans, uma blusa branca simples de algodão, um casaco preto, meu allstar branco e uma bolsa tote, que era grande o suficiente para carregar o Macbook e mais coisas.

A caminhada foi rápida, e quando vejo já estou na porta de seu prédio. Entro no lobby vendo outro cara que não era Henry, era um cara grande e careca que quando me viu fechou a cara.

- Bom dia - falo indo direto para o elevador.

- Ei, o que esta fazendo? - o homem careca grita.

Olho para ele chocada observando ele sair da sua posição do outro lado da bancada, em ato ele pega meu braço com força e me arrasta pelo lobby.

- O que você está fazendo? - pergunto com raiva - Eu trabalho aqui com James Lencastre, tenho o código da penthouse.

- Ha! E eu sou o Batman - ele me joga na rua - Vai enganar outro garota, você não é bem vinda aqui - ele diz fechando a porta.

Tento abrir mas ele estava segurando muito forte, e depois de alguns segundos vejo dois homens grandes e fortes se posicionando na porta mostrando bem que eu não ia ter a chance de entrar.

Quase grito de frustração, mas em vez disso resolvo ligar para James. Chama dez vezes e desligo quase jogando o celular novo, mas me contenho, o celular não é meu é de trabalho.

Olho para a porta derrotada, vendo que os homens a abriram para uma mulher branca idosa que me olhava com curiosidade. Eu devia ser algum inconveniente na vida deles, e para ser sincera eu estava me sentindo um inconveniente.

- Isabella? - James surge do nada, parando sua corrida - O que está fazendo aqui fora? - ele pergunta.

Paro um momento para absorver o que estava vendo, ele estava tirando os airpods do ouvido e seu rosto estava todo suado e com uma expressão confusa no rosto. Dou uma olhada rápida em seu corpo suado focando nos músculos descobertos dos braços brilhando de suor.

- Ah eu hm - me forço a ser coerente - Eles não me deixam entrar - digo apontando para os seguranças guardando a porta de entrada do prédio.

Ele franze o cenho e eu vejo uma nuvem de irritação subindo sob sua expressão. Sem falar nada ele pega minha mão e me arrasta para dentro do prédio.
Os seguranças confusos me deixam entrar e quando nos aproximamos do elevador ouço a voz do porteiro careca.

- Ei você! Falei que não era... - ele para de falar quando vê James e nossas mãos entrelaçadas.

- Falou o que? - James pergunta com um tom sombrio.

De repente o cara ficou mudo abrindo e fechando a boca sem saber o que falar mais, parecendo chocado demais para formular uma frase.

- Foi o que pensei - James me empurra delicadamente para dentro do elevador.

As portas se fecham e sinto o elevador subir, James solta minha mão passando a suas mãos no cabelo frustrado. E eu passo a minha na calça tentando limpar o suor que eu não sei bem se era meu ou dele.

- Isso não vai acontecer de novo - ele declara, olhando para mim com intensidade.

- Tudo bem.

Entramos no seu apartamento e ele vai direto para o quarto falando que ia tomar um banho e dizendo para eu ficar a vontade.

Respiro fundo ainda  nervosa pelo ocorrido e me sento no sofá, ligando o IPad e revisando a rotina de James.
Eu não fazia ideia que a vida dele era ocupada demais, ele estava na pré produção de um filme, ele comandava  uma rede de academias por todo o país com sua marca e ainda tinha ações em várias empresas no país e no mundo.

O que estranhei era que ele era presunçoso demais, ele não era bagunçado na verdade ele era organizado demais, ele próprio tinha organizado a semana e só o que fiz foi reorgazinar alguns emails os respondendo de acordo com suas anotações.

A secretária dele, Janet, também tinha mandando um email para mim falando sobre cada aspecto da vida profissional dele, então não entendi o porquê ele precisava de mim, mesmo que ele já estivesse explicado, era uma coisa estranha, mas se ele diz que precisava não era eu que ia contraria-lo.

- Você chegou muito cedo - ele diz saindo do quarto e indo para a cozinha.

O cabelo estava molhado pelo banho e ele vestia uma blusa social branca com as mangas arregaçadas, calça social preta e um par de sapatos social preto.

- Sério? - pergunto olhando a hora.

Era sete horas da manhã, era cedo, mas nesse horário eu estava a todo vapor na cafeteria de Carmem.

- Sim, aqui começamos as oito - ele diz concentrado em fazer seu café da manhã.

- Ah eu não sabia, me desculpe - digo.

- Não precisa se desculpar por ser eficiente Bella - ele diz - Já tomou seu café da manhã?

Faço uma careta, balançando a cabeça, eu acostumei a não tomar. Quando se acorda  cinco e meia da manhã, seu estômago não estava preparado para ovos e bacon, e também não gostava da comida da manhã britânica, parecia um almoço.

- Mas o café da manhã é importante - ele diz, e de novo tenho a sensação que ele fala como se eu fosse uma criança - Vou fazer para você .

- Não precisa! Eu não gosto de ovos e bacon no café da manhã, é pesado demais - confesso.

Sua sobrancelhas se erguem em surpresa e ele entorta a cabeça para o lado confuso e curioso.

- Então do que gosta?

- Ah quando eu morava no Brasil eu bebia leite com toddy e pão ou torrada ou tapioca, não gosto de café - digo fazendo uma careta - Eu sei que eu tenho um paladar infantil mas é o que gosto - dou de ombros.

- Paladar infantil - ele fala vagamente e vejo sua mente ir e voltar para outro lugar - O que é toddy? E tapioca? - ele pergunta decidido com o celular em mãos.

Eu rio estranhando sua reação, mas balanço a cabeça, aqui é um lugar de trabalho, eu deveria estar cuidando dele não ele de mim, apesar que essa ideia me dá um arrepio só de pensar.

- Ah esquece isso - falo erguendo o IPad- Você tem que tomar seu café logo, daqui a pouco você tem reunião com o seu agente e logo após  com a produção do filme - lembro.

Ele olha para mim assentindo com a cabeça, não sem antes de eu ver um semblante triste passar por seu rosto.

- É claro - ele diz vagamente - O dia começou - suspirando ele come seu café.

E eu volto meu olhar para o IPad tentando a todo custo não olhar para ele e me perguntando no que ele estava pensando.

Cinquenta Tons de RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora