Sol

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Era segunda-feira e eu estava na frente do prédio de James segurando a alça da minha bolsa com força, meio que tremendo e meio que nervosa.

O assunto que eu evitei o fim de semana inteiro com a ajuda de Lia e dos rapazes me atingiu em cheio quando eu acordei, e estava me esmagando nesse exato momento.

Quando passei pelo lobby fiquei feliz que Henry não estava lá, não queria fingir um sorriso educado e compartilhar memórias brasileiras, na verdade eu nem sei se queria estar ali.

Olho para minha roupa mais uma vez, mas é mais para ocupar a mente do que realmente preocupada com o que eu estava realmente vestindo. O sol apareceu depois do final de semana chuvoso e frio e apesar do aumento da temperatura eu estava com frio, então fiquei agradecida pela escolha apesar de estar parecida com Lia : calça preta, blusa preta, bota de cano baixo preta e casaco preto.

O elevador se abre e eu encaro o hall hesitando para entrar. Paro por um momento e fico tentada a voltar, mas tomo coragem. Eu não era uma covarde, tinha que resolver isso, tinha que encarar isso.

Com isso em mente atravesso o arco do hall para a sala e meu coração para. Ele estava lá, lindo como sempre, sentado na cadeira da ponta da mesa de jantar tomando seu café mexendo no celular, com a mesa posta.

Tudo parecia tão normal, como se nada tivesse acontecido, como se não existisse quarto rosa, como se não estivéssemos nos beijado no sofá ao nascer do sol. Mas então ele levanta seus olhos e sei que tudo foi real, e não sei se rio de alegria ou se choro de apreensão e medo.

Seu rosto parecia surpreso e tinha uma leve pitada de satisfação. Suspiro internamente vendo que ele estava lindo de morrer com uma calça jeans, suéter branco e um sapato social. Ele ficava lindo de qualquer jeito e isso era injusto com o resto da humanidade.

- Bom dia - ele me cumprimenta.

- Oi - respondo.

Me sento na cadeira e começo a me servir sentindo seus olhos seguindo todos os meus gestos. Comemos em silêncio. Eu por que estava com fome e muito nervosa para começar a falar e ele, bem eu não sei  por que ele não falou nada. Educação talvez. Ou pena.

Quando termino, levanto meus olhos para ele e encontro ele me encarando. Ele não desvia o olhar e eu também não, apesar de que eu estava louca para fazer isso, era muito intenso, quase como olhar para o sol, você queria ver mas se queimava.

Era isso? Eu era como Ícaro voando perto do sol e ia acabar morrendo?

Que tipo de análise era essa afinal? Eu estava ficando definitivamente louca. Chega! Eu precisava tirar esse fardo de dentro de mim, e precisava agora.

- Como foi seu final de semana? - James pergunta.

Suspiro de alívio pela sua deixa e dou um leve sorriso.

- Bem, foi investigativo - respondo - E, produtivo.

E foi mesmo. Fiz uma faxina extraordinária na casa de Josh para ocupar a minha mente e também pesquisei muito sobre o tema, até conversei com alguns praticantes que tiraram muitas dúvidas minhas, apesar de eu ainda ter bastante dúvidas.

- E o seu? - pergunto realmente curiosa, não ouvi falar dele o que me deixou um pouco triste mas agradecida.

- Eu fiquei aqui, decorando falas, sai só para correr.

- Ah - exclamo - Correr é bom.

Ele sorri e no mesmo instante fica sério, e eu sei que ele estava pensando sobre a madrugada de sexta-feira. Ele suspira e junta as mãos em cima da mesa num sinal claro que ia fazer uma anunciação.

- Olhe, Bella, eu sinto muito, não deveria...

- Pode parar - o  interrompo - Não diga mais nada.

Ele me olha confuso e eu suspiro. E dessa vez enquanto eu falo, olho nos seus olhos.

- Eu estava com medo - revelo - Quando você revelou tudo sobre você eu pensei que fosse loucura e por um momento eu quis me afastar - suspiro - E então você me explicou mais sobre o assunto, e por fim me beijou e falou aquelas coisas bonitas e românticas, o que foi totalmente injusto já que eu estava decidida a fugir, mas você me convenceu a pelo menos pensar.

Mordo meu lábio nervosa, era difícil revelar sentimentos.

- E então eu passei o final de semana inteiro meio que pesquisando, meio que evitando pensar no assunto, até conversei com Lia sobre isso.

- Você falou disso para Lia? - ele pergunta chocado.

Quase rio de sua expressão, mas levanto as mãos o reconfortando.

- Não falei sobre o que era, só revelei que algo muito grande afetava nosso relacionamento.

Ele assente aliviado e depois me encara me encorajando a continuar, e eu continuo.

- Então, juntando todos os conselhos, a pesquisa, meus pensamentos, que foram muitos. Eu pensei, por que não tentar?

Dou de ombros fingindo indiferença, mas vejo satisfeita sua expressão chocada se tornar em um lindo sorriso iluminado. Talvez ele fosse o sol, um sol que eu conseguia enxergar, tocar.

- Bella, isso é sério? - ele pergunta ainda chocado.

- Uhum - concordo.

Num ímpeto ele se levanta e me arrasta para seus braços. Sinto seu cheiro e me aconchego no seu abraço, feliz por me sentir em casa. Era isso, seus braços eram minha casa, talvez era isso que eu precisava, precisava dele para me guiar para meu verdadeiro eu, que não eu ainda não sabia qual era, mas tinha uma ideia que tinha a ver com isso.

Seus incríveis olhos verdes me encaram e sinto sua mão percorrer meu rosto em um carinho que seguia um rastro quente. Delicadamente ele se aproxima mais e me beija profundamente. Suas mãos ainda em meu rosto não querendo me deixar sair. E eu não queria sair. Era bom demais, perfeito demais. Seu beijo me deixava em paz e em um turbilhão ao mesmo tempo.

Ele se afasta encostando a testa na minha, mas ainda de olhos fechados e eu aproveito para recuperar minha respiração.

Seus olhos se abrem e ele me olha sério, mas ainda com um brilho intenso no olhar.

- Agora você é minha Bella - ele sussurra - Toda minha.

Cinquenta Tons de RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora