Um Cliente Especial

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- Senhorita eu não pedi isso! - alguém grita e eu me viro vendo uma cara azeda e gorda cheia de insatisfação direcionado a mim.

O cliente estava do outro lado da bancada vermelho de raiva segurando um copo com um líquido igualmente vermelho. Lembro que ele foi um dos clientes que atendi e o olho confusa com o que ele quer dizer.

- Desculpe, senhor, qual o problema?

- O problema é que eu não pedi essa bebida de hibisco gelado não sei o que - ele fala raivoso- Eu exijo que você troque essa merda dessa bebida, se eu me lembro bem eu pedi um chocolate quente,  sua preta imunda!!

Olho para ele chocada, abro a boca para rebater mas minha boca fecha e abre como um peixe, olho em volta mas todos estão alheios ou fingindo muito bem que não ouviram. Alguém toca em meu ombro e eu vejo que é Carmen, a proprietária . Qualquer um pensaria nessa situação que Carmem ia intervir em minha ajuda, mas olhando para seu rosto eu sei bem que eu não estou sendo produtiva e que é melhor eu resolver esse problema logo antes que alguem reclame que a fila está demorando.

- C-claro senhor, vou trocar para já - murmuro me virando para preparar o chocolate quente.

Carmem olha para mim mais uma vez e eu sei que vem bronca. Eu odeio ela com todas as minhas forças, ela e essa cafeteria ridícula dela. Suspiro trêmula pensando em minha realidade: imigrante ilegal, trabalhando em uma cafeteria com uma chefe sádica ultra capitalista, morrendo aos poucos de exaustão, com dinheiro escasso vivendo em uma república com quatro pessoas desconhecidas, e sofrendo racismo escancarado em Londres.

Tento respirar profundamente para isso não me afetar muito, e olho para o alto ouvindo meu mantra : Você consegue, você consegue, você consegue. Quase choro, mas forço as lágrimas ficarem onde estão e me viro forçando um sorriso.

- Aqui está senhor, mais uma vez me desculpe pelo mal entendido.

- Tá, tanto faz - ele pega o copo e se vira indo embora.

Respiro fundo mais uma vez, e em minha mente simulo que eu pego uma arma e atiro nas costas dele, derramando a bebida na sua cara e gritando em seu ouvido : QUEM É O IMUNDO AGORA?
Sorrio mais ainda com a ideia.

-Bom dia, como vai ?

Viro os olhos para o próximo cliente e dou de cara com uma miragem em minha frente. Todo o vestígio  sanguinário da minha mente cai e é substituída pelo choque quando olho para a pessoa em minha frente. Era um homem, um lindo homem que eu já vi antes. Ele era alto magro e forte, totalmente proporcional, seus cabelos eram loiros escuros como mel, ele tinha uma barba que marcava seus rosto e os seus olhos eram tão verdes como a grama do Hyde Park sob a luz do sol, ou como esmeraldas, o que é uma definição mais bonita.

- Eu conheço você - falo meio que o acusando.

Recebo em troca um sorriso deslumbrante com um leve olhar de surpresa.

- Acho que conhece mesmo.

- Você não é aquele cara que fez um super herói? - pergunto tentando lembrar o nome dele.

- Não, acho que não.

- Você acha muita coisa - levanto as sobrancelhas em tom de desafio.

- É claro, adoro supor coisas.

- Hmm - falo em desconfiança, me dando conta da realidade - Desculpe, o que deseja? - pergunto sob seu olhar hipnótico tentando manter um tom profissional.

Antes mesmo dele falar ouço um arquejo atrás de mim e sinto Carmem me afastar da minha posição indo atender o cliente em meu lugar.

- Senhor Lencastre!! Ora mas que prazer ter um cliente tão especial em minha cafeteria - ela diz sorrindo deslumbrante e o reconhecimento me bate.

James Lencastre, é claro!! Ele era um ator famoso, eu me lembro de ter visto um filme dele, na verdade eu me lembro de ter visto varios filmes dele. Ele era famoso por fazer vários filmes de comédia romântica e alguns de ação, logo era o cara perfeito que a mulherada era apaixonada e eu estava incluída nisso.

Me chuto mentalmente por ter passado a chance de ter pelo menos pedido uma foto com ele quando ouço meu nome sendo chamado por Carmem.

- Minha melhor funcionária é Isabella, ela vai continuar atendendo o senhor, com licença - ela sorri para ele uma última vez e me lança um olhar gélido, e eu me pergunto o que ele falou para ela.

- Então, sr. Lencastre, o que vai querer? - pergunto de novo.

- Vou querer um café puro tamanho médio , por favor, Isabella - ele pede dando de novo seu sorriso perfeito.

Meu nome em sua boca me dá calafrios e eu tento a todo custo não gritar igual uma fã maluca e pular em cima dele. Em vez disso respiro aliviada pelo simples pedido, e me afasto para fazer o pedido. Tento fazer o melhor café que eu ja fiz em toda a minha vida, me concentrando para não deixar cair nada no chão, sentindo seu olhar quente em minhas costas. Não sei o porque, mas sinto em meu âmago que preciso agrada-lo, talvez seja por ele ser famoso ou talvez seja porque ele era lindo para caralho, as duas opções fazem sentido.

- Aqui está um café preto médio - deixo o café na bancada - São três libras.

Ele pega sua carteira pegando o dinheiro e algo a mais que eu vejo que é um cartão. 

- Ouça, eu vi como aquele homem a tratou - ele começa me olhando intensamente- É uma vergonha para dizer no mínimo o que aconteceu, e sua chefe bem, parece ridícula em questões do bem estar de funcionários.

Ele faz uma pausa em busca de uma resposta, eu acho, mas tudo que eu faço é ficar quieta chocada demais para responder.

- Sei que muitos passam a mesma situação que você.Não posso mudar a vida de todos, mas posso mudar a sua, se quiser - ele pega seu cartão e coloca na minha mão- Me ligue se quiser algo melhor e maior para sua vida Isabella, eu posso conseguir algo assim para você.

Com isso ele deixa o dinheiro na bancada, pegando o seu café e sai da cafeteria, deixando um rastro do seu cheiro amadeirado e uma eu chocada demais pela sensação elétrica que passou no meu corpo quando sua mão tocou a minha.

Tentando reprimir um suspiro, guardo o cartão no meu bolso levantando o olhar para o próximo cliente e forço um sorriso, não esquecendo do maravilhoso sorriso de James Lencastre.

Cinquenta Tons de RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora