Cinquenta Tons de Rosa

Amigas e Seus Conselhos

Caminhamos em silêncio por quase uma hora. Lia não fez perguntas, e eu estava agradecida por isso.

Enquanto caminhávamos eu observava o ambiente em nossa volta. Morávamos em um subúrbio longe do centro de Londres, o que era estranho, por que a nossa volta só existiam famílias com crianças pequenas e casais apaixonados. E a nossa casa era uma república de jovens.

As casas eram praticamente iguais e tínhamos que prestar muita atenção para não entrar na casa errada.

Quando avistamos um parque nos sentamos em silêncio em um banco e ficamos lá, observando as estrelas. Estava totalmente consciente que Lia estava querendo perguntar por que eu estava agindo daquela forma, mas eu não queria falar, nem poderia na verdade.

- Como estão você e Josh? - pergunto querendo puxar assunto.

Observo Lia, ela estava usando suas roupas pretas de sempre e seu cabelo cacheado estava todo bagunçado, mas ela estava bonita.

- Estamos bem - ela suspira- Quer dizer, mais ou menos.

Ela roe as unhas em nervosismo e percebo que é um tique nervoso.

- Por que? O que aconteceu?

- Ah não é algo importante.

Suspiro, eu precisava de um drama diferente, estava precisando de qualquer coisa que tirasse da minha mente James e fraldas.

- Lia, você pode contar comigo, sou sua amiga, certo? - a encorajo.

E imediatamente me sinto um pouco egoísta, eu deveria querer saber não porque eu queria me livrar dos meus problemas, mas sim porque eu gostava de Lia e queria que ela confiasse em mim. Me agarro ao espírito desse segundo pensamento.

- Certo - ela assente.

- E então? Devo matar Josh ou algo do tipo?

Ela ri e meu coração se aquece. Gostava disso, gostava de ter alguém que contasse comigo.

- É que, bem é complicado - ela começa - Josh me revelou algo sobre ele que afeta muito nosso relacionamento, quer dizer, afeta todo o nosso relacionamento.

Prendo a respiração, com medo de que por algum motivo ela esteja sofrendo o mesmo problema que eu.

- O que tem ele ? - pergunto curiosa.

Ela me olha hesitante como se falar fosse difícil e imadiatamente eu entendo que estou sendo invasiva demais.

- Desculpe, não deveria ser tão intrometida, não é da minha conta - digo me chutando internamente.

- Tudo bem - ela limpa a garganta - Bem, ele não é hm...monogâmico, ele quer outra pessoa no nosso relacionamento.

Olho para ela chocada, o que aconteceu com esses caras? O que aconteceu com o velho relacionamento normal ? Será que eu estava ultrapassada? Será que eu era chata demais?

Estremeço com o pensamento e a encaro em expectativa.

- E você? O que você pensa sobre isso?

Lia encolhe os ombros, em um sinal claro de confusão.

- Eu não sei, quer dizer eu sou totalmente aberta a tipos de diferentes de relacionamentos - ela suspira trêmula- Mas estou com medo, tipo muito medo. E insegura - ela faz uma careta- Eu nunca fico insegura com ele, e isso é muito estranho.

- Então você deveria falar sobre suas inseguranças para ele - seguro sua mão- Tenho certeza que ele vai querer saber disso.

Lia franze a testa em dúvida.

- Não sei, ninguém gosta de inseguranças, nem eu gosto.

- Mas todos gostam de sinceridade Lia - me aproximo dela - E o que mais importa, você quer fazer isso?

- E-eu...eu acho que sim? - ela suspira - Eu sou louca por ele, e estou disposta a tentar, e não é como se ele me intimasse a fazer isso,certo? Eu só quero que sejamos felizes e se é isso que ele é, se é isso que ele gosta eu estou aberta a isso.

- Certo - concordo.

- E não vai ser do nada, temos que  concordar gostar de outra pessoa, os dois, e temos que criar regras e outras coisas, eu acho - ela respira - Uau, sim, tenho que conversar com ele.

Ela levanta decidida e eu faço o mesmo, mas eu a impeço de ir.

- Lia, espere - digo e ela que me olha confusa - Podemos...podemos ficar por mais um tempo?

A encaro profundamente, não quero voltar para meus pensamentos, eles são loucos, confusos demais. Se eu ficar parada tenho certeza que irei surtar e correr, agora não sei se correr para James ou correr de volta para o Brasil. Os dois estão na mesma intensidade.

- Ok - ela concorda.

Sentamos de novo no banco e ela me abraça sem falar nada. Olho para ela e ela me olha preocupada, sua mão vai para meu rosto e então eu percebo uma lágrima caindo dos meus olhos, que ela cuidadosamente secou.

E é como uma barreira que acabou de explodir e eu não consigo segurar mais o choro, choro soluçando, como um bebê, e o pensamento me deixa chorar mais ainda.

- Ah Isa, o que está acontecendo? - Lia pergunta acariciando meu cabelo.

Não respondo, em vez disso me afasto do seu abraço e seco minha lágrimas. Não quero deixar ela preocupada com meus dramas. Forço um sorriso mas tenho certeza que pareceu mais uma careta e Lia não pareceu convencida.

- Nada - digo - Não está acontecendo nada.

- Isa, você pode falar comigo. Somos amigas, certo?

Aceno trêmula, era verdade, éramos amigas, e ela acabou de me confidenciar algo do seu relacionamento. 

- É James - confesso temerosa - E-ele, quer dizer, eu e ele  nos beijamos.

Não a encaro, estava nervosa demais, se eu olhasse para ela acabaria contando tudo, e não estava preparada para isso.

- Isso é ótimo ! - ela diz - Quer dizer isso é ótimo, não é?

- Não sei - suspiro- É mais que isso, ele também tem um segredo que afeta nosso relacionamento, e eu não sei se estou preparada para isso Lia.

Por um momento ela não diz nada, mas então ela segura minha mão e eu tomo coragem para olhar seu rosto.

- Isa, você precisa ser sincera com ele. Se você realmente gosta dele, e se ele gosta de você ele vai tentar entender.

- Mas isso é ele - insisto - É a vida dele.

- Então, o que você quer fazer? Desistir e recusar ou aceitar e continuar?

- Eu não sei - confesso.

- Isa, você vai ter que saber, porque é a sua vida.

Olho para ela, não sabendo o que falar.

- Sei que está com dúvidas, mas você vai ter que tira- las com ele, e não evita-lo.Pense como a minha situação, se você realmente gosta dele, talvez tentar não seria tão ruim assim, seria?

Penso por um momento sobre isso e aceno.

Tentar.

Sim, talvez não seria tão ruim assim.

- Obrigado Lia - a abraço e ela ri.

- Obrigado você - ela responde me apertando mais forte - Amigas são para isso.

Fecho os olhos aproveitando o momento.

- Sim, são mesmo.