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Voar sempre foi fascinante pra mim, desde os doze anos quando comecei a ir passar férias na França com meus avós, que sempre adorei viajar, adorava ter a sensação de quase tocar nas nuvens, de ver aquela imensidão azul do céu. Eu olhava fascinada para as aeromoças com sua desenvoltura, simpatia e belos uniformes sempre prontas para ajudar e servir alguém e eu me perguntava como seria trabalhar ali, sempre nas alturas, sempre no céu indo de lugar em lugar.

E foi naquele verão aos doze anos que eu disse pra mim mesma que me tornaria uma aeromoça também, só não sabia que seria tão difícil.

Meu pai é Louis Benoit, ele nasceu na França, veio para o Brasil adolescente e por aqui ficou, se formou em direito e com um amigo, abriu um escritório que foi crescendo e hoje ele é muito bem sucedido. Minha mãe Bárbara é uma ex modelo, conheceu meu pai numa festa, se apaixonaram, ela largou a carreira de modelo para ser a esposa ideal e dois anos depois eu nasci.

Minha mãe sempre foi amorosa comigo, mas também muito exigente com minha educação, então tive aula de etiqueta, fiz aulas de inglês, francês e também fiz balé. Eu não tive muitas amigas na infância por ter uma rotina cheia durante o dia, eu sempre cedia as vontades da minha mãe porque queria vê-la feliz.

Mas aos dezoito quando terminei o ensino médio, a pressão mudou, e agora era o meu pai que praticamente exigiu que eu cursasse direito para que futuramente pudéssemos trabalhar juntos. O que me fez sair de meus pensamentos e prestar um pouco na aula de direito penal.

Fiz algumas anotações no meu caderno, contando os minutos para a aula acabar e eu pudesse sair. Na faculdade onde eu estudo, tem o curso de ciências aeronáuticas e um ano antes eles estavam atrás de alunas para o curso de comissária de bordo, eu me interessei e fiz minha matrícula.

Convenci meus pais a me deixarem cursar depois de ameaçar trancar o curso de direito pra ir morar com meus avós. Não foi fácil conciliar os dois cursos mas eu consegui terminar o curso de comissária, alguns meses atrás eu soube que uma companhia aérea estavam recebendo currículos, enviei o meu, eu sabia que as chances seriam poucas mas não custa sonhar.

Saí da sala conversando com uma colega quando vi Diego parado me esperando no corredor. Fui até ele que me deu um pequeno beijo nos lábios, demos as mãos e o seguimos para fora.

- E então? O que vamos fazer hoje a noite? - ele perguntou.

- Não sei... Minha mãe falou que nunca mais te viu, talvez você possa jantar lá em casa.

Diego era um bom rapaz, estava terminando administração, era bem educado e bonito, nos conhecemos no ensino médio, começamos a namorar e foi ótimo até meu pai descobrir que ele era rico, vinha de boa família e começar a bajular os pais dele com jantares, festas e coisas do tipo e tudo se tornou ainda mais insuportável quando começou a pressão pra um casamento em breve, Diego sempre dizia que me amava e que não ligava para toda essa pressão porque o casamento seria inevitável para nós dois.

Então dois meses depois disso ele me pediu em casamento para a alegria dos nossos pais, tivemos um jantar de comemoração e agora nossas mães planejavam nosso dia especial, só de pensar nisso eu sentia um arrepio na espinha e não de um jeito bom.

Estava me arrumando para o jantar quando meu celular tocou na cama, quando peguei vi na tela que era um número desconhecido, ia deixar tocar mas então resolvi atender.

- Alice Benoit? - perguntou uma voz masculina depois que eu atendi.

- Sim, sou eu... quem é?

- Aqui é Arthur, coordenador do RH da Continental Airlines, eu dei uma analisada no seu currículo e gostaria de entrevistá-la.

Abri minha boca surpresa com aquela ligação inesperada, respirei fundo algumas vezes antes de responder.

- Sim... entendi, quando?

- Amanhã as 14h...

- Ótimo, estarei lá.

Desliguei o telefone com minhas mãos suadas e o coração disparado, ouvi vozes lá fora do quarto, me acalmei e terminei de me aprontar para o jantar.

Amor à Bordo Onde histórias criam vida. Descubra agora