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- Oi pai... acabei de chegar de Nova York.

- E está fazendo o quê aqui? Aqui não é hotel ou você se cansou de ser rebelde e decidiu voltar pra casa?

Meu pai aprendeu bem o português, mas o sotaque francês sempre esteve presente e quando estava irritado aumentava ainda mais a influência francesa.

- Não pai, não cansei de viver a minha vida e de ter meu emprego, que me paga muito bem aliás, tenho um apartamento e estou conseguindo pagar minhas contas.

Omiti algumas coisas, mas ele realmente não precisa saber de todos os detalhes.

- Já que tocamos nesse assunto, sua mesada está cortada e seus cartões bloqueados!

- Tudo bem, já tenho outras contas em outro banco e tenho novos cartões... - essa conversa está andando em círculos - Por quê você é tão contra eu ser comissária?

- Porque essa não era pra ser a sua vida Alice, investimos muito na sua educação pra você se transformar nisso.

- Só porque não é a vida que o senhor escolheu então não serve? Eu não estou fazendo nada de errado, nem nada ilegal, o senhor deveria se orgulhar ou pelo menos respeitar.

- Mal saiu de casa e acha que é dona de si, eu sabia que isso ia acontecer, bom, eu respeito tanto sua decisão que quero você fora da minha casa, pegue as suas coisas e saia daqui!

Nesse instante vejo Diego entrar na sala, sempre com um sorriso amigável nos lábios, ótimo, não terminei uma discussão e já vem outra. Diego vem até mim e faz menção de me beijar, mas eu me afasto e beijo sua bochecha de leve.

- Oi Diego... podemos conversar  lá fora? - caminhamos até o jardim.

- Senti saudade Alice, que bom que está de volta... - A forma como ele falou me irritou.

- Eu não estou de volta, não vim pra ficar porque desisti, eu vim por causa do meu trabalho, amanhã vou embora.

- Mas sua mãe comentou que talvez você ficasse de vez, até insistiu pra eu marcar a data do nosso casamento.

- O quê? Não acredito nisso, pensei que a minha mãe tinha aceitado! - Eu estava surpresa com essa revelação.

- Ela pensou que você iria cansar rápido e que voltaria pra casa, e sei lá Alice, eu também queria que você estivesse cansada ou até que não tivesse dado certo pra você voltar pra casa e a gente seguir com nossa vida.

Eu nunca senti tanta raiva e mágoa como agora, todos estão contra mim, todas as pessoas que eu amo. Explodo de raiva.

- Vocês estavam torcendo contra? Isso é inacreditável e absurdo! Eu nem sei dizer o quanto estou magoada, olha Diego, não tem como seguir com a " nossa vida", eu vou continuar no meu emprego, e vou continuar fazendo o que eu quero. -  respirei fundo tentando me acalmar um pouco - Não tem como mais a gente casar, queremos coisas diferentes e você não respeita minhas decisões, até torce contra. Sinto muito terminar tudo desse jeito, mas não tenho outra escolha.

- Como assim? Alice e nossos planos? - rio com sarcasmo.

- Que nossos planos Diego? Foi tudo pensado no que os nossos pais queriam pra gente... todo esse tempo e eu só fui me deixando levar, mas isso foi longe demais.

- Isso? Isso é nossa vida Alice, o que deu em você? Só passou algumas semanas fora e está totalmente mudada!

- Pelo contrário, essa sempre fui eu, só era medrosa demais pra assumir... Eu tenho que ir. Sinto muito Diego por tudo.

- Tem um homem no meio né? Você não iria falar essas coisas se não tivesse outra pessoa! - ele gritou me deixando surpresa.

- É claro que não tem! - Mas então ele puxou meu celular do bolso da frente do meu short e começou a olhar - Ei, o que está fazendo? Me devolve!

- Eu sabia! Olha que foto mais romântica! - ele virou a tela do meu celular e eu vi a foto minha e de Liam em Paris - Como pôde fazer isso? Eu te amo, você era tão doce!

- Não, eu era idiota, que fazia o que todo mundo queria, mas eu cansei de ser assim... agora me devolve meu celular! - gritei mas ele se afastou de mim, tentei tomar de volta o celular mas ele me impediu.

- Devolver pra quê? Pra você voltar correndo pra ele? Quem ele é afinal?

- Não interessa quem ele é, isso nao é da sua conta! Me devolve o celular Diego!

E como um menino mimado, Diego jogou meu celular no chão e depois começou a pisar em cima, quebrando ainda mais, eu gritava com ele mas não adiantava, o estrago já estava feito. O empurrei com toda força que tinha e ele acabou tropeçando e caindo sentado, corri para dentro de casa furiosa, fui para o quarto e terminei de juntar minhas coisas com pressa e quando ia descendo para ir embora vi minha mãe.

- Mãe, é verdade que você pediu pra o Diego marcar a data? - ela ficou surpresa mas logo se recompôs.

- É claro filha, estava na hora... e eu imaginei que essa vida andando pelo mundo ia cansar você, olha só, está até com olheiras!

- Você é inacreditável, mãe você era modelo, vivia pelo mundo... - ela passou a mão no meu rosto e me olhou como se eu fosse uma tola.

- Mas larguei tudo para casar e aqui estamos nós... fui feliz. - me afastei.

- Se viver uma vida sob as ordens do papai e não ter vontade própria é felicidade então temos visões muito diferentes.

- Alice Benoit! Isso não é jeito de falar.

- Vocês são hipócritas, é isso que são, papai deixou a França ainda jovem e veio pra cá,  você saiu de casa pra ir modelar por aí... por que me julgam tanto? Porque não posso fazer o mesmo?

- Alice, chega desse assunto... cadê o Diego?

- Ele já foi, terminei com ele.

- Você é louca de deixar um rapaz como ele, poderia viver uma boa vida com ele.

- Uma boa vida de mentiras e farsas? Fingindo uma felicidade pras suas amigas do clube? Fingindo uma vida perfeita nos eventos sociais? - gritei e senti um ardor no meu rosto - Você me bateu mãe?

- Você está muito insolente Alice... não vivo uma vida de mentira, amo seu pai!

- Pois não é o que parece, e nem sei se ele sente o mesmo, passa o dia inteiro fora e ainda trabalha no escritório a noite e você fica só com o cartão de crédito de consolo! Não quero essa vida pra mim, não mesmo. - peguei minhas coisas e ia saindo pela porta - Sabe, duas semanas atrás eu estive em Paris, vovó Madeleine ficou orgulhosa, pelo menos alguém da família se sente feliz por mim... Ah e o resto das coisas que ficaram no quarto, pode doar ou jogar fora.

Como estava sem celular, tive que procurar por meus amigos, mas usando a lógica eu saberia que eles estariam perto do aeroporto, como sempre temos que nos registrar em algum hotel perto, depois de procurar em dois hoteis, finalmente encontrei onde eles estavam, apelando muito para ter acesso a essas informações.

Me registrei no hotel, já era noite e nem sei exatamente que horas são. Peguei o elevador e a raiva foi dando lugar a mágoa que eu sentia da minha família e ao cansaço físico e mental. Só quando eu vi dois pares de olhos azuis me olhando foi que eu percebi que tinha ido até o quarto de Liam. Ele percebeu meu estado e passou de sorridente para preocupado em dois segundos.

- Alice, o que aconteceu?

E então sem dizer nada me joguei em seus braços.

Amor à Bordo Onde histórias criam vida. Descubra agora