Eu estava em frente à um prédio onde havia vários escritórios como dizia na placa, inclusive o da Continental Airlines. Eu estava nervosa demais, respirei fundo algumas vezes e entrei.
O andar da Continental era o quinto, me apresentei na recepção e uma moça gentil me mostrou o caminho, na sala de espera havia mais três mulheres e um rapaz esperando, sentei e tentei conter meu nervosismo. Quando fui chamada para entrar na sala de entrevista, eu era a última, um homem que aparentava ter mais de quarenta anos apareceu na porta, ele me olhou de cima abaixo e sorriu de modo simpático, entramos na sala e ele sentou pegando meu currículo.
- Seu currículo é muito bom Alice, você fala inglês e francês fluentemente?
- Sim, eu pratico desde nova e já viajei para alguns países.
- Você tem uma beleza diferente das outras que entrevistei, você é brasileira mesmo?
- Sou sim, nasci aqui mas meu pai é francês. - ele sorriu gentilmente.
- Entendi... bom, vamos dar continuidade.
O restante da entrevista correu como o de sempre, respondi todas as perguntas com segurança e o senhor pareceu satisfeito com minhas respostas. Quando achei que ele iria encerrar tudo, olhou novamente meu currículo e depois me olhou sério.
- Alice, nós da Continental precisamos formar uma equipe o quanto antes, vamos incluir uma rota de voos para o Brasil vindos de Nova Iorque, então as contratações precisam ser imediatas.
- Entendo.
- Ter um brasileiro na equipe seria excelente, o piloto, co-piloto e mais três comissárias já foram contratados, chegam aqui amanhã... Sinceramente eu recebi bons currículos, mas gostei de você, do seu jeito e seu currículo é realmente muito bom... enfim você está contratada.
Segurei os braços da cadeira com força, sem acreditar que tinha acabado de ser contratada, eu iria ser aeromoça de verdade. Era realmente surreal, o senhor na minha frente levantou e estendeu a mão para mim sorrindo, com muito esforço eu levantei e também estendi minha mão ainda tremendo.
- Bem vinda a Continental Airlines Alice! Andreia a recepcionista vai te encaminhar até a sala de uniformes para você pegar o seu, ela também vai te entregar o manual da companhia e o contrato pra você assinar, certo?
- Ahn... certo. Muito obrigada mesmo.
Saí da sala me sentindo fora de órbita, era tudo muito estranho. Cheguei na recepção e Andreia desligou o telefone e me olhou sorrindo.
- O senhor Arthur me avisou, bem vinda à Continental... venha comigo.
Segui Andreia por um corredor até uma sala onde havia vários uniformes pendurados e um alfaiate costurando algo. Provei alguns até achar um que me serviu perfeitamente, me olhei no espelho e algumas lágrimas escorreram por meu rosto.
- Você vai receber dois uniformes, e se por acaso, precisar de um novo ou precisar de fazer algum conserto ou ajuste terá que pagar.
Depois de pegar meus uniformes, segui para uma outra sala onde tirei fotos para fazerem meu crachá, assinei todos os papéis necessários e saí do escritório. Eu estava feliz da vida, fui até o shopping comprar algumas coisas de que iria precisar, meia calça, produtos de higiene pessoal e um sapato novo.
Cheguei em casa e praticamente pulei de alegria, eu estava prestes a realizar meu sonho, mas lembrei de que precisaria contar pra todos e isso não seria nada fácil. Sentei na cama e tentei me preparar para a tempestade que iria enfrentar.
No jantar meus pais conversavam normalmente e eu esperei até a sobremesa para contar a novidade.
- Então gente, eu preciso contar uma coisa.. - eles me olharam e minha mãe sorriu.
- Você e Diego marcaram uma data? Finalmente!
- Não mãe... Não marcamos a data do casamento. - respirei fundo - Eu me candidatei pra uma vaga de comissária na Continental Airlines, e ontem eu fui contratada.
- O quê? Que história é essa Alice? - meu pai gritou e levantou irritado - Você não vai! Não vai virar uma serviçal... isso é insanidade!
- Não, não é! Eu vou e ponto final, é o meu sonho, sempre foi.
- Ah tá bom... você está no penúltimo semestre da faculdade, precisa pensar melhor nisso, você ainda é só uma criança! Você não vai!
- Pai, eu vou fazer vinte e quatro anos, sempre fiz o que vocês queriam, sempre uma filha perfeita, sempre sorrindo, agora já chega, eu quero fazer minhas próprias escolhas.
Eu estava irritada por meu pai me tratar dessa forma, ele deu uma risada sarcástica, minha mãe continuava em silêncio, ela parecia não acreditar em tudo isso.
- O Diego sabe dessa sua aventura? Dessa palhaçada toda? - ele perguntou
- Ainda não, mas vou contar amanhã.
- Espero que ele coloque um pouco de juízo nessa sua cabeça, você está brincando com tudo o que te demos, toda a boa educação, faculdade cara que a propósito você ia muito bem e até gostava! - me levantei da mesa irritada
- Pai, eu te amo... sei que sempre fez o melhor por mim, mas só estava fazendo direito porque era o que você queria, não eu. Não estou desdenhando de nada, pelo contrário, sou e sempre fui grata por tudo o que vocês me deram, mas eu preciso seguir a minha vida e minhas vontades.
- Você nasceu pra ser servida e não o contrário, nós não tivemos você pra te ver estragando sua vida desse jeito Alice!
- Estou vendo que você não vai aceitar as minhas escolhas mas preciso que ao menos respeite, como eu disse já sou bem grande pra isso.
- Eu vou pra o meu escritório trabalhar, não quero ser interrompido.
Meu pai saiu da cozinha e eu olhei pra mamãe que parecia um pouco decepcionada, me sentei do seu lado de novo e olhei para ela.
- Mãe, diga que pelo menos entende... É o meu sonho.
- Eu entendo Alice, mas também entendo o seu pai, ele tinha planos pra o seu futuro.
- Exatamente mãe, são os planos dele, não meus. Preciso seguir os meus sonhos, não quero viver na sombra do meu pai pra sempre.
Ela não falou mais nada e ficamos em silêncio, até eu me cansar e ir para o meu quarto.
Na manhã seguinte fui até a faculdade trancar o curso, depois passei no escritório da Continental, pegar meu itinerário e o crachá.
Marquei de almoçar com o Diego e explicar tudo, mas foi mais difícil conversar com ele do que eu pensei que seria, Diego concordou com meu pai e não queria que eu fosse. Mas nada me convenceu do contrário, eu já me sentia comissária de bordo e iria fazer dar certo, custe o que custar.
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Amor à Bordo
ChickLitAlice Benoit uma moça rica, com um lindo noivo, estudante do curso de direito resolve deixar tudo isso para trás e correr em busca de seu sonho de infância, ser uma comissária de bordo, mas irá descobrir que seus sonhos voam mais alto do que ela ima...