Prólogo ↵

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༺ 7 𝒅𝒆 𝑴𝒂𝒊𝒐 𝒅𝒆 1941 ༺

𝐀𝐧𝐧𝐞 𝐒𝐡𝐢𝐫𝐥𝐞𝐲

─ Se abaixa! ─ eu nunca vou conseguir apagar o seu primeiro sinal de alerta. Refletidos em seu olhar desnorteado, e seu corpo que institivamente saltou de perto da janela, me empurrando para longe, na tentativa de nos proteger do vidro que explodiu antes mesmo de ele conseguir terminar a frase.

Estremeço, sentindo algo borbulhar em minha testa. Meus nervos pulsavam, me causando uma adrenalina absurdamente incontrolável que não podia ser retida apenas com a minha própria força de vontade de levantar do chão.

─ Anne, sai daqui! ─ eu nunca havia visto Gilbert Blythe chorar, e aquilo institivamente me trouxe uma angústia, ao olhar para baixo e perceber sua mão impulsionando a própria barriga, totalmente encharcada de sangue, e ele parecia não se importar, lutando com cada milímetro de força que ainda o restava. ─ Se proteja! ─ essa foi a última vez em que eu consegui ouvir claramente a sua voz, que mesmo em meio ao desespero, ainda conseguia ser doce e me causava um efeito instantivo. Me lembro perfeitamente em ter parado por um segundo para olha-lo, com o corpo ao chão e somente a cabeça levantada, talvez essa seja a última vez em que eu o veja, pensei instantaneamente.

E num milésimo de segundo, sinto um sopro, rápido, preciso e forte, que talvez viesse a quilômetros de distância, fazendo minha cabeça tombar no chão espesso de madeira, com tanta força que juro que parecia que ela iria se rachar no meio.

E olhando para a expressão de Gilbert em um grito abafado, a pouco menos de 4 metrôs de distância de mim, senti em meu ouvido borbulhar um líquido. As palavras dele agora zuniam dentro da minha cabeça e eu pensei que nesse momento eu poderia facilmente enlouquecer.

Gilbert arrastava seu corpo com dificuldade para me alcançar.
As crianças estavam abaixadas e encostadas nas paredes ao nosso redor, tapando os ouvidos com as mãos.

Ele coloca a palma da mão em meu ouvido, e com os olhos inundados de lágrimas eu o vejo fungar um choro, enquanto tentava consertar o que tinha acabado de acontecer.

─ Anne, eu... ─ diz com a voz trêmula em meio ao zunido da minha cabeça. ─ Me desculpe. ─ eu olhava para seus olhos, perdidos e molhados e só conseguia pensar, por que isso vai acontecer justo com a pessoa que eu mais amo?

─ Eu te amo tanto. ─ digo em meio a um choro angustiante e coloco minha mão sob a sua. ─ Nunca se esqueça!

─ Eu sempre te amei, Anne. ─ beija minha testa, e sinto seus lábios macios e úmidos repousarem por um segundo.
Como eu queria um beijo seu...

O caos se instalava a nossa volta, destruindo cada sonho, cada lar, cada alma que insistia em permanecer existente.
O mundo estava perdido, ele sempre esteve, mas agora eu tinha certeza de que qualquer vestígio de esperança que eu tivesse em mudar o mundo, seria massacrado pela minha longa e inesperada história de trágico romance.

𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora