27↳ 𝐬𝐡𝐞 𝐰𝐢𝐥𝐥 𝐛𝐞 𝐟𝐢𝐧𝐞

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A carruagem parou, e só agora havia percebido que já estava amanhescendo, quando uma flexa de luz invadiu o meu rosto bradamente.
Moody suspirou fundo ao meu lado, e eu avistei o seu semblante de alívio ao finalmente chegar ao nosso destino.

Eu nunca havia visto o campo de repouso dos guerreiros antes. Era um lugar deserto e sem vida, e a areia era levada pelo vento se espalhando por toda a parte, tornando tudo ainda mais torturante. Haviam várias tendas de madeira, postas uma do lado da outra, e vários soltados entravam e saíam delas repentinamente.

Moody me ajudou a descer da carroagem, segurando minha mão com firmesa, me fazendo finalmente pisar no lugar onde provavelmente ele já passou. E aquilo de certa forma me confortava, me fazia percorrer meus olhos por toda parte, tentando decifra-lo no meio de milhares de soltados exatamente iguais.

— Eu vou ter que ir para o meu posto agora Anne, se incomoda? — ele questiona com um olhar preocupado, e eu nego com a cabeça. — Certo, não estarei longe. E suponho que esse Gilbert também não esteja.

Sorri involuntariamente, sentindo meu peito descarregar o peso que antes segurava.

Caminho pelo chão solado de areia, sentindo meus sapatos fazerem um rastro a cada passo que eu dava. Observo os homens robustos marcharem de um lado para o outro, até que derrepente uma memória me veio em mente:

Era quase noite de um dia comum, e eu e Gilbert tínhamos acabado de arrumar as crianças para dormir. Até que eu percebi que ele tinha uma cicatriz em seu braço:

O que é isso? — perguntei apontando para a marca.

— Foi do meu pai. — ele responde.

— Como assim? Ele te machucou? — meu coração congela.

Não. Eu fiz isso tentando salvar meu pai de uma briga com um amigo dele. — ele suspira fundo. — Ele devia um dinheiro para ele, e acabou passando do prazo de pagar. Eles brigaram feio, e ele ameaçou o meu pai com uma faca. Então eu parti para cima do cara, mas ele conseguiu me atingir. Por sorte não morri de emorragia, demorei muito para chegar no hospital.

Lembro muito bem dele se aproximar de mim e suspirar pesadamente, encarando meus olhos que ardiam diante dos seus.

— Eu posso não ser muito bom de briga, mas eu faria de tudo por quem eu amo. — ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha.

— Faria isso por mim? — sussuro.

— Eu morreria por você.

Derrepente sinto um braço atrás de mim, e me desperto de meus pensamentos, virando para trás no mesmo instante.
O homem me encara por alguns segundos desconfiado, e sinto o ar faltar em meus pulmões:

— Espera aí... você é a garota que cuidava das crianças judeias. — ele estreita os olhos surpreso e com um certo ódio. — Temos uma judéia em terra proibida! — ele grita, segurando meu braço firmemente. — E ainda por cima está esperando um verme, que vergonha!

— Não eu não sou... — tento me manifestar mas sou puxada a força até uma tenda. — Moody! Socorro!

Ele me empurra para dentro da tenda, me empurrando tão forte, que eu caio no chão, por sorte consigo proteger minha barriga.

— Ela é a judéia que eu te falei. — o homem loiro que me trouxe diz ao moreno ao seu lado, que me olhava com nojo.

— Vamos resolver isso então. — o moreno diz engatilhando sua arma, a apontando em minha direção. E mais uma vez tenho um dejavu do dia do bombardeio.

— Eu vim atrás de Gilbert Blythe! — grito em meio as lágrimas, e eles me olham confusos e desacreditados. — Aqui... eu tenho uma carta dele. — pego a carta do bolso da jaqueta e abro-a, estendendo minha mão para que eles a pegassem.

O loiro pegou-a de minha mão, e a leu rapidamente.

— É uma carta oficial do exército... — ele diz olhando para o moreno, e em seguida estendendo a carta para o alto para olha-la melhor. — E não é falsa.

— Billie o que está fazendo? — Moody entra correndo dentro da tenda, ofegante e olha para os dois que parecem constrangidos. — Ela não é judéia seu idiota! Ia mata-la! Ela está grávida, você é cego? — ele gritou visivelmente descontrolado com a situação. — Nós não matamos inocentes! Nós defendemos quem nos atacam! — eu conseguia ver as veias saltadas no pescoço de Moody, enquanto berrava para os dois soltados, que encolhiam os ombros como crianças quando são advertidas pela mãe.

Um chute.

Um chute muito forte que começou a se intensificar a cada segundo que se passava.

Eu gritei, colocando a mão em minha barriga, sentindo a dor se espalhar entre minhas costas.

— Anne você está vem? — Moody se agaicha desesperado e segura em minha mão.

Sinto um líquido sair de meu corpo, e vejo que ele também percebeu.

Arregalo os olhos com a respiração ofegante, apertando sua mão o mais forte que conseguia.

— Por favor encontrem o Gilbert! — eu gritei o mais alto que pude, e acho que nunca havia gritado assim em toda a minha vida.

— Tragam uma carroagem! Nós temos que ir para o hospital! Agora! — Moddy gritou, fazendo provavelmente todos que estavam por perto ouvirem seu grito insessante de desespero.

Ele me pegou no colo tão rápido que mal pude perceber, com uma força vinda dos deuses, e uma agilidade tão precisamente rápida ao me tirar da tenda e me deitar dentro da carroagem, que eu juro que ele tinha algum poder sobrenatural.

A carroagem começa a correr tão depressa que mal consigo ver as árvores passando ao nosso redor, mas avisto o campo repleto de tendas se distanciar a medida que os segundos passavam, me fazendo pensar mais uma vez aonde ele estava, durante esse momento tão infortuno da minha vida.

— Nós já vamos chegar, aperte minha mão o quanto quiser. Você vai ficar bem, Anne. — Moody diz olhando em meus olhos pesados e meu rosto completamente tomado pelo suor.

Ela vai ficar bem...

𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora