Elas disputavam lugares e brigavam para decidir quem iria se servir primeiro, enquanto eu e Stacey olhavamos assustadas e um pouco chocadas para a cena da guerra:
— Já chega! — Tillie fechou o punho na mesa, a fazendo tremer. — Ou vocês comam sem fazer essa muvuca, ou não vão comer hoje! — ela grita, visivelmente nervosa. — Bando de canibais.
Todas ficaram em um silêncio mútuo, e após alguns segundos de constrangimento, começam a se servir de vagar, e agora, com medo do que Tillie seria capaz de fazer.
Eu pego um prato e me sirvo, meio paralizada com os olhares de todas elas me sufocando, captando cada movimento mínimo que eu executava.
Não havia mais lugar na mesa para eu e Stacey, então seguimos para a entrada, onde toda a briga aconteceu e me sentei em uma cadeira próximo a janela.Janela... e se não ouvesse uma janela quando tudo isso aconteceu? Nós estaríamos salvos?
Uma queimação começou a percorrer o meu estômago, enquanto minha mente me sacrificava com lembranças infinitas e perturbadas me fazendo voltar até o dia em que tudo o que eu amava havia sido tirado de mim, sem nenhum aviso prévio.
Vestígios do meu último momento de sanidade.
Derrepente, como um sopro, sinto um arrastão tão rápido perto de minhas mãos, que por causa do meu estado de transe ao olhar pela janela, eu não tive a rapidez de conseguir segurar o prato de comida que estava apoiado em minhas mãos, que agora estava ao chão, juntamente de toda a comida, que esparramou sobre a madeira empoeirada.
Mas eu soube que aquilo não poderia ter sido sem querer, quando finalmente levantei meu olhar pesado para cima, encontrando as íris azuis cintilantes e desprezíveis que o olhar da mulher loira carregava.— Se não vai comer, então deixe para quem quer. — ela diz ironicamente. — Eu disse que isso ainda não acabou. — sussurra por fim, virando as costas.
Eu fiquei ali, estática como uma idiota que não sabia se defender. Na verdade, pouco me importava se ela estaria disposta a fazer dos meus últimos dias um inferno.
Porque tudo o que realmente importava para mim, não estava naquele lugar sujo e sem alma. Ele estava em outro lugar, um lugar onde eu não faço a mínima idéia de onde é. Um lugar distante e perigoso, onde ele estaria dando a sua vida a prova de fogo para salvar outras vidas que já viraram pó.
Porque Gilbert Blythe era esse homem. O homem que daria tudo que tinha para salvar quem ele pudesse, por mais que isso custasse sua própria vida.
E olhando para aquela janela que me deixava ainda mais apavorada, eu vejo mais uma vez aquela maldita fumaça preta, mas agora eu consigo sentir o seu cheio. Um cheiro de queimado horrível, e extremamente forte, que começou a invadir os meus pulmões sem culpa alguma. E naquele momento meu corpo implorava para que toda aquela guerra sem sentido acabasse de uma vez por todas. E meus olhos azuis agora não eram mais os mesmos, porque aquela cor demonstrava o quanto eu estava destruída, perdida, sem a única coisa que ainda me mantinha de pé.
Minha esperança.
E com as lágrimas derramando sem parar, eu me lembrei das únicas pessoas que eu queria proteger naquele momento, e que eram as que mais estavam propícias aquele destino.
— Minhas crianças...
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...