8↳ 𝐦𝐨𝐨𝐧𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭

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Madrugada de uma quarta-feira, em pé na varanda, tremendo conforme a brisa suave invadia meu corpo, torcendo para que o café preto esquentasse minhas mãos.

O sono que não vinha, dando espaço para as memórias que eu preferia enterrar no fundo da alma.

─ Deixou seu casaco lá dentro. ─ meu coração congela, ao sentir suas mãos em meus ombros, colocando amigavelmente o meu casaco de veludo apenas de forma que cobrisse minhas costas. Ele se desdem ao meu lado, apoiando os cotovelos na sacada da varanda. ─ Aqui é bem frio esse horário.

─ Eu percebi. ─ solto um suspiro.

Ficamos em silêncio, só se podia ouvir nossa respiração e os grilos cantando em sintonia.

─ Então... ─ ele quebra o silêncio. ─ Qual é a sua história? ─ me lança um sorriso.

─ Minha história? ─ sorrio, franzindo a testa.

─ Quem é você Anne Shirley? ─ suplica, com a voz rouca, em um sussurro. Seus olhos pesam em mim.

Respiro fundo, observando a gloriosa lua cheia que nos iluminava:

─ Anne, com "e" primeiramente. ─ ele ri, acentindo com a cabeça. ─ Bom, resumindo...

─ Pensei que gostasse de contar histórias, não resumi-las. ─ me interrompe, lançando um olhar malicioso.

─ Essa não é uma história que eu costumo contar. ─ digo simplesmente, encarando minhas mãos. ─ Anne Shirley Cuthbert, foi órfã até os 11 anos. Foi adotada pelos irmãos Cuthbert. E depois de ter finalmente encontrado seu lugar em Avonlea, tudo desmoronou. ─ ele me encarava com toda a atenção do mundo.

─ O que aconteceu? ─ diz quase inaudível.

─ Tive um casamento arranjado com meu melhor amigo Cole, a fins de negócios. ─ sorrio fraco. ─ Mas ele morreu de câncer poucos meses depois.

─ Meu pai morreu de pneumonia. ─ diz encarando a lua, e seus olhos castanhos ganham um brilho imensurável, ou seria o reflexo de suas lágrimas? ─ E depois disso, eu vim fazer esse voluntariado.

─ Fugindo da realidade não é? ─ sorrio, sentindo um leve desconforto na barriga.

─ E quem não quer? ─ diz com entusiasmo.

Era bom ter alguém que me entendia.

Ouvimos o barulho de Delphine resmungar de dentro da casa, e entramos no mesmo instante.

Fui até a mesa e peguei uma mamadeira vazia, colocando o leite morno que havia na jarra, dentro dela.

─ Anne, você precisa ver isso. ─ diz Gilbert, com o sorriso mais sincero que eu já pude contemplar em seu rosto.

Me deposto dos dois, e observo Delphine com a língua para fora, sorrindo para Gilbert que brincava com um ursinho de pelúcia na frente dela.

Ele me olha rapidamente, e seu semblante de felicidade ao voltar seus olhos para a garotinha, só me fez perceber o quão genuíno o amor poderia ser.

Olhava em volta, contemplando aquele, que me parecia ser meu último momento de paz, e eu não queria voltar nunca mais a realidade.

Ao lado do homem que eu não suportava, e ao mesmo tempo que me tirava o chão, eu me senti, por mais idiota que isso parecesse, completa.

𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora