Madrugada de uma quarta-feira, em pé na varanda, tremendo conforme a brisa suave invadia meu corpo, torcendo para que o café preto esquentasse minhas mãos.
O sono que não vinha, dando espaço para as memórias que eu preferia enterrar no fundo da alma.
─ Deixou seu casaco lá dentro. ─ meu coração congela, ao sentir suas mãos em meus ombros, colocando amigavelmente o meu casaco de veludo apenas de forma que cobrisse minhas costas. Ele se desdem ao meu lado, apoiando os cotovelos na sacada da varanda. ─ Aqui é bem frio esse horário.
─ Eu percebi. ─ solto um suspiro.
Ficamos em silêncio, só se podia ouvir nossa respiração e os grilos cantando em sintonia.
─ Então... ─ ele quebra o silêncio. ─ Qual é a sua história? ─ me lança um sorriso.
─ Minha história? ─ sorrio, franzindo a testa.
─ Quem é você Anne Shirley? ─ suplica, com a voz rouca, em um sussurro. Seus olhos pesam em mim.
Respiro fundo, observando a gloriosa lua cheia que nos iluminava:
─ Anne, com "e" primeiramente. ─ ele ri, acentindo com a cabeça. ─ Bom, resumindo...
─ Pensei que gostasse de contar histórias, não resumi-las. ─ me interrompe, lançando um olhar malicioso.
─ Essa não é uma história que eu costumo contar. ─ digo simplesmente, encarando minhas mãos. ─ Anne Shirley Cuthbert, foi órfã até os 11 anos. Foi adotada pelos irmãos Cuthbert. E depois de ter finalmente encontrado seu lugar em Avonlea, tudo desmoronou. ─ ele me encarava com toda a atenção do mundo.
─ O que aconteceu? ─ diz quase inaudível.
─ Tive um casamento arranjado com meu melhor amigo Cole, a fins de negócios. ─ sorrio fraco. ─ Mas ele morreu de câncer poucos meses depois.
─ Meu pai morreu de pneumonia. ─ diz encarando a lua, e seus olhos castanhos ganham um brilho imensurável, ou seria o reflexo de suas lágrimas? ─ E depois disso, eu vim fazer esse voluntariado.
─ Fugindo da realidade não é? ─ sorrio, sentindo um leve desconforto na barriga.
─ E quem não quer? ─ diz com entusiasmo.
Era bom ter alguém que me entendia.
Ouvimos o barulho de Delphine resmungar de dentro da casa, e entramos no mesmo instante.
Fui até a mesa e peguei uma mamadeira vazia, colocando o leite morno que havia na jarra, dentro dela.
─ Anne, você precisa ver isso. ─ diz Gilbert, com o sorriso mais sincero que eu já pude contemplar em seu rosto.
Me deposto dos dois, e observo Delphine com a língua para fora, sorrindo para Gilbert que brincava com um ursinho de pelúcia na frente dela.
Ele me olha rapidamente, e seu semblante de felicidade ao voltar seus olhos para a garotinha, só me fez perceber o quão genuíno o amor poderia ser.
Olhava em volta, contemplando aquele, que me parecia ser meu último momento de paz, e eu não queria voltar nunca mais a realidade.
Ao lado do homem que eu não suportava, e ao mesmo tempo que me tirava o chão, eu me senti, por mais idiota que isso parecesse, completa.
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...