O homem no qual eu preferia que enfiasse a cara num buraco para assim eu não ve-lo nunca mais, marchava com passos firmes no chão sem encarar ninguém, enquanto adentrava a casa frágil e designada.
Bash estava com Delphine ainda em seus braços com um sorriso estampado no rosto, mas sua feição rapidamente se desfaz ao olhar para Gilbert que estava espumando de raiva, com os olhos semicerrados, fitando o chão quase como se com o poder da mente pudesse o destroçar.─ Isso chegou pra você. ─ estendo a mão, o entregando a carta que acabara de receber a minutos atrás, mas não o olho nos olhos.
Ele apenas a pega de minha mão num movimento brusco e preciso, rodeando seus olhos para le-la, e já com os dedos posicionados para abri-la, Bash o interrompe:
─ Gilbert. ─ ele diz em um tom baixo, inseguro, como se estivesse com medo da resposta do garoto. ─ Estava conversando com Anne, e achamos que seria bom se eu... pudesse adotar Delphine, assim vocês teriam um trabalho a menos. ─ ele diz tão rápido que quase não consigo entender direito o que ele quis dizer.
Gilbert junta as sobrancelhas, abaixando a carta, ao encarar Bash meio receoso, e em seguida olhar para Delphine que brincava com as próprias mãos.
Ele era completamente fascinado pela garotinha, e eu também a amava, porém Gilbert havia criado um laço com a pequena.Ele me olha por um breve momento, travando seu maxilar, o que eu já havia percebido que só acontecia quando ele estava tenso. E ele parecia de alguma forma tentar me dizer "desculpa" apenas por telepatia, tentando fazer com que eu entendesse o recado. Ele limpa a garganta antes de responder:
─ Vai ser difícil para mim. ─ encara o amigo, mordendo os lábios tensos. ─ Mas vai ser bom para a minha pequena, então tudo bem. ─ dá um sorriso aliviado mas ao mesmo tempo, solitário e triste, por deixa-la. ─ Só... se puder vir aqui para eu vê-la...
─ É claro que vou. ─ Bash o interrompe, batendo em seu ombro amigavelmente.
Não vi Winnifred, deveria estar do lado de fora, ou poderia ter ido embora.
Nós dois nos despedimos de Delphine e Sebastian, e era nítido o quanto eu e Gilbert estávamos desconfortáveis com a presença um do outro.
Era quase como se o ar estivesse pesado ao nosso redor, quando Bash saiu da casa, nos deixando naquele silêncio quase que sufocante enquanto eu tentava ignorar a presença de Gilbert e focar somente nas crianças que estavam cansadas e choravam pedindo colo desesperadamente.
Mas nada era tão perturbador do que sentir aquele clima pesado que havia se instalado diante daquela casa, que a algumas horas atrás, era mais como um refúgio confortável daquela realidade insâna que estávamos vivendo.Gilbert estava na cozinha preparando leite para o restante delas, enquanto eu estava as arrumando na sala de estar, tentando intrete-las porém sem muito sucesso.
Eu estava esgotada, cansada emocionalmente, e fisicamente. Minha cabeça explodia lembrando de como tudo mudou em menos de um mês em que eu resolvi tentar consertar a minha vida. E pelo visto eu só estava a deixando cada vez pior.Gilbert vai até a sala e se agaicha, entregando os copos de leite quente para as crianças a nossa frente, sem manter contato visual comigo, e nem eu com ele.
Ele se levanta rapidamente num impulso de sair dali. E eu me lembro rapidamente das palavras que ele tinha me dito mais cedo, fazendo meu peito se apertar e me sentindo um pouco culpada também de certa forma.
Peguei os copos vazios de leite e fui em direção a cozinha colocando-os dentro da pia, onde Gilbert estava ali servindo um café fresco para ele mesmo.
Ligo a torneira a fim de lavar a pouca louça que tinha, quando ele derrepente, vem para mais perto de mim.─ Deixa que eu lavo. ─ diz com a voz baixa, olhando em meus olhos, enquanto ia se aproximando cada vez mais, esperando que eu recuasse, mas não recuei.
─ Não. Eu lavo. ─ digo com a voz firme, levantando o rosto para encara-lo nos olhos, podendo perceber seu rosto se juntar em uma expressão confusa e talvez um pouco indguinada.
─ Pode deixar que eu cuido disso Anne, deve estar cansada de tanto falar. ─ ele tentava competir aquele minúsculo espaço que nos separava, se apossando da pia pequena.
─ Falar o que Gilbert? ─ o olho indguinada, ainda sem tirar o corpo dali, tentando me manter firme.
─ Nada. ─ ele revira os olhos, ligando a torneira e começando a esfregar a bucha num copo. A lateral de seu rorpo estava ligeiramente colada com o meu, e eu empurrei meu quadril no seu, o fazendo cambalear um pouco para o lado, já sem paciência com aquele assunto desconexo. ─ Vai mesmo me derrubar? ─ ele diz em um tom um pouco alterado, semicerrando os olhos.
─ Se você não sair da minha frente. ─ digo no mesmo tom que ele, e em seguida empurrei seu ombro para que saísse por completo de perto de mim.
─ Sai você! ─ ele coloca o copo que lavava na pia, empurra seu ombro no meu, me afastando com certa brutalidade. Felizmente meus pés estavam fixos no chão e eu praticamente não sai do lugar.
─ Me tira daqui então! ─ o desafio, arrumando as mexas soltas de meus cabelos para trás da orelha, ainda o olhando nos olhos, sem nem sequer piscar.
Ele puxa o ar pelos pulmões e em um ato rápido, me levanta pela cintura, fazendo suas mãos molhadas me darem um certo arrepio. Ele me conduz até perto da janela e me solta e eu quase caio no chão por tentar me livrar dele.
Estapeio seu braço com raiva, empurrando seu corpo para longe do meu, e ele cola nossos corpos me encurralando na parede atrás de nós. Sinto sua mão fria e gelada entrar em contato com meus braços desnudos e pálidos, causando um choque em meu corpo quente, tomado pela raiva que sentia daquele garoto.─ Qual é o seu problema? ─ ele sussurra com o rosto perto demais, e com os olhos fixos nos meus, como se pudesse arrancar alguma coisa de mim.
─ Você. ─ digo aproximando meu rosto ainda mais, por milímetros não encostando nossos narizes, e sinto o ar faltar em meus pulmões, quando consigo ver suas íris esverdeadas e suas pupilas levemente dilatadas. Seu olhar estava fixo na minha boca e eu relutava para não encarar a sua, mas eu estava fraca. Sentia meu corpo implorar por aquele contato, e eu daria tudo para sentir o sabor dele. Sinto seu coração se acelerar cada vez mais encostado no meu peito, e ele parecia ofegante, assim como eu. Ele coloca a mão em meu queixo, levantando meu rosto para olha-lo fixamente. E por um segundo eu jurei para mim mesma que queria que ele me agarrasse e matasse essa atração incessante que eu sentia desde o momento em que o conheci. Por mais que eu odiasse admitir que no fundo, Bash estava certo.
— Eu não te entendo. Você me olha desse seu... jeito e me faz parecer uma idiota por achar que talvez você tenha um coração dentro dessa sua pose de machão que não se compromete. — o olho com uma certa angústia e sinto meu peito arder e minha garganta secar.
Ele respira fundo antes de dizer:
— Anne você é a pessoa mais importante que eu tenho agora. — ele diz com a voz trêmula, encarando meus olhos. — Sinto muito por ter feito você duvidar disso.
— Eu sinto muito também.
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...