O que fazemos de diferente para nos manter vivos por dentro quando todas as circunstâncias nos levam direto para o inferno?
Após a história, começei a tentar ensinar as crianças a falarem a nossa língua, apesar de eu não achar tão diferente assim. Os gestos e articulações quebravam um galho para nos ajudar a nos comunicar.
Olho o universo a minha volta, que parecia o cenário de um filme.
As crianças correndo em câmera lenta na minha cabeça. Gargalhadas ecoando em meus ouvidos:─ Quer um café? ─ salto ao ouvir sua voz tão de perto e pego a xícara que ele me estendia.
─ Obrigada. ─ digo sem jeito.
Você só me acha uma idiota, por saber que meu coração leva uma pontada de agulha quando você me olha?
Eu sou tão fácil de interpretar ou sou só um livro que ninguém se interessa em ler? ─ Sr. Blythe você é apenas mais um idiota que eu idealizo, nunca passará disso.─ Estão felizes hoje. ─ se apoia na parede atrás de nós, ao meu lado. ─ O crédito é todo seu. ─ olho disfarçadamente para seus braços malhados cobertos por uma camiseta branca de mangas longas e arregaçadas e noto sua respiração se intensificar no mesmo ritmo que a minha.
─ Eles são abençoados, Gilbert. ─ suspiro virando minha visão para frente. ─ A inocência ainda é a dádiva mais preciosa que poderíamos ter. ─ meu sorriso se desmancha. ─ Pena que não é eterna.
─ Anne... ─ olho para seu semblante. Se o conhecesse bem diria que ele estava machucado. Duas almas cansadas de existirem, se reconhecem a milhas de distância, apesar que agora compartilhamos o mesmo ar. ─ Você tem uma alma de criança. Um espírito libertador, uma imaginação extraordinária, e digo isso com todo meu coração. ─ ele estava virado para mim, com a cabeça apoiada na parede de madeira. Seus olhos singelos me examinaram com cuidado, e parecia que minha alma tinha saído do corpo.
Ele se aproxima um pouco mais, sutilmente e consigo sentir sua respiração quente acariciar minhas têmporas que estavam fervendo. Ele sorri, encarando meus lábios, em seguida meus olhos que não paravam de encarar os seus, nem mesmo se eu quizesse. Eu poderia morrer ali em pé, e guardar meus pêsames para a eternidade em seu beijo, pois naquele momento eu sentia muito por não poder negar que minha alma queria abraçar a sua, pelo menos até que tudo voltasse a ficar bem novamente.
─ Imaginar só te traz decepções solitárias. ─ sinto meu coração bater mais forte a cada vez que ele me olhava.
─ Então apenas viva... ─ sussurra com a voz rouca me olhando fixamente.
Apenas viva...
─ Mas e se... ─ minha voz falha.
─ Viver é um risco, que você escolhe ou não aceitar. ─ indireitamos a postura ao mesmo tempo, dando um longo suspiro, em perfeita sintonia.
─ Mas não é tão fácil assim... ─ dizemos juntos, nos olhando fixamente, provavelmente pensando a mesma coisa:
E se você não sentir o mesmo?
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...