─ Você sabe que pode contar comigo não é? ─ com minha visão turva e quase não conseguindo abrir os olhos, ouço uma voz familiar. ─ Anne. ─ uma mão se estende até mim, e consigo reconhecer seu rosto angelical em meio a claridade que insistia em pairar em seu rosto. ─ Anne o que foi? Anne? ─ meu nome ecoava na voz de Cole repetidamente, sem parar.
─ Anne! ─ me levanto em um pulo, sentindo meu coração quase sair pela boca. Olho assustada para Gilbert que estava agaichado em minha frente, sem entender nada. ─ Você tem um sono pesado hein?! ─ suspira uma risada, já se levantando.
Eu estou ficando louca.
Saio do saco de dormir, ainda sonolenta, olhando em volta, percebendo onde realmente estava.
As crianças ainda dormiam.Olho pela janela porém logo recuo, para não permitir que os raios fortes daquela manhã ensolarada, me deixassem cega.
Observo o relógio pregado na parede logo ao lado e me assusto: 06:04 da manhã.Caminho cambaleando até a enorme mesa, junto a Gilbert, que servia um café fresco com toda a tranquilidade do mundo:
─ Você estava tendo um pesadelo? ─ ele diz e derrepente sinto um arrepio percorrer minha extremidade, me despertando de meus pensamentos.
─ Não! ─ pelo menos eu acho que não. Puxo uma cadeira e me sento de frente a ele.
─ Estanho... ─ diz, como sempre parescendo um misto de emoções. O que se passa na cabeça desse garoto hein? ─ Você fala dormindo sabia? ─ tenta conter um sorriso, passando a língua sob os lábios, porém falha miseravelmente e ri como um idiota.
─ Não, eu não falo. ─ o fuzi-lo com os olhos fixos naquele rosto ridiculamente bem desenhado. Eu odeio os meus hormônios por acharem ele estremamente atraente. ─ Cala boca Gilbert, não tem mais o que fazer não? ─ reviro os olhos dando uma mordida em um pedaço de torrada na qual ele acabara de colocar geleia.
─ Estou vendo que você acorda de mau humor. ─ termina o seu café em um único gole, enchendo a boca.
─ Você não viu nada. ─ não o olho nos olhos, não poderia manter contato visual nesse momento, ou eu iria socar o seu lindo maxilar.
Por que eu estou reparando nisso?
─ Está se sentindo melhor? ─ diz se acomodando na cadeira a minha frente, me olhando pascientemente.
─ Sim. ─ digo confiante e ajeito a postura, tentando me manter firme. ─ Com certeza tive só um engoo, deve ter sido a sopa de Mathew. ─ forço um sorriso.
─ Eu não sou médico Anne, por isso não queria deduzir nada. ─ ele diz parescendo meio desconcertado, evitando me encarar. ─ Até por que, é a sua vida, não gosto de me interferir. ─ engole em seco.
─ Então você não é do tipo atirado? ─ inclino meu corpo para mais perto da mesa, apoiando os ombros sob a mesma, descansando minha bochechas na palma das mãos, afim de prestar atenção meticulosamente em sua desculpa.
─ Eu acho que não. ─ franze a testa, sorrindo. ─ E você parece ser bem nervosa, então... ─ me da uma boa analisada com o olhar, seu julgamento rápidamente analítico sobre minha cara de destruição daquela manhã me parecia um teste de sobrevivência. Mas eu não sentia nenhum desconforto em estar em sua presença, na verdade pouco me importo se ele gostava ou não de mim. Tudo parecia muito fácil.
─ Essa foi sua primeira impressão? ─ o olho incrédula, porém não posso negar que ele acertou de primeira. ─ Incrivelmente você não errou.
─ E qual sua primeira impressão de mim? ─ mexe as sobrancelhas de um jeito engraçado.
─ Depois diz que não é atirado. ─ me divirto, tirando uma com a sua cara. ─ Na verdade essa foi a primeira coisa que achei. Atirado. Quando você me perguntou se eu era casada. ─ dou um gole na xícara de café.
─ Só estava curioso. ─ levanta as mãos em rendição.
─ Tenho cara de ser casada? ─ agora era eu que não continha a curiosidade.
─ Não. ─ ele diz simplesmente. ─ Perguntei só para ter certeza.
─ Fofoqueiro. ─ reviro os olhos, me levanto da mesa e vou até as crianças. Ouço ele suspirar um sorriso atrás de mim. ─ Muito bem. Bom dia crianças! ─ anúncio em voz alta, colocando as mãos na cintura, me sentindo "a dona da casa".
─ Eles não entendem a nossa língua. ─ o observo pelo canto do olho, perfeitamente posicionado a minha esquerda. ─ Eles falam Alemão. Só Taylor fala nossa língua. ─ diz contente, arrumando a postura, se sentindo vitorioso por ter mais conhecimento que eu. ─ Diga, Guten Morgen. ─ o encaro rapidamente, percebendo um sorriso tosco em seus lábios. ─ É "Bom dia" em Alemão, caso não tenha entendido, cenourinha. ─ sussurra no pé do meu ouvido.
Soco seu braço, e só agora reparo que ele era incrivelmente musculoso.
─ E se você me chamar assim de novo, eu juro que eu mesma te fuzilo! ─ levanto meu queixo para encara-lo diretamente, tentando parecer o mais furioza que minha expressão me permitia.
─ Ai. ─ ele geme, passando a mão no braço. ─ Vou inventar nomes piores se você me agredir.
─ Você é extremamente desagradável, Gilbert. ─ bufo, sem paciência. ─ Então... Guten Morgen, crianças!
─ Guten Morgen! ─ eles respondem em unissono, meio sonolentos.
─ Vamos lá, vamos lá! ─ digo batendo palmas. ─ Vamos tomar... ─ olho para Gilbert que ainda estava com a mão no braço e com uma cara desagradável. ─ Como se fala "Tomar café", em Alemão?
─ Eu não sei Anne, eu não falo Alemão. ─ ele diz como se fosse óbvio, caminhando para perto da mesa ao meu lado, e pega algumas crianças no colo para ajeita-las na enorme mesa de madeira escura.
Porém acredito que as crianças me entenderam, e logo todas se sentaram na mesa. Isso vai ser moleza.
─ Aqui está. ─ entrego um pão para o garotinho a minha frente, que diz algo que eu não entendo, acho que foi um obrigado.
Derrepente, Gilbert e eu damos um salto na cozinha, e logo corremos para o quintal da casa, atordoados pelo barulho de algo provavelmente de vidro se estraçalhando no chão.
─ Taylor. ─ Gilbert suspira ao ver o garoto com terra por todo o corpo, ao lado de um vazo de plantas completamente destruído. ─ Eu sabia que um dia você finalmente quebraria esse vazo. ─ marcha em direção ao garoto, se dando por vencido, o puxando pelo braço e dando tapas em sua roupa na tentativa falha de tirar aquela sujeita.
─ Sem chance, Gilbert ele vai ter que tomar um banho. ─ me aproximo dele, com um olhar de indignação por ver ele tão calmo.
Gilbert apenas me encara como se perguntasse: por que você é sempre tão estressada?E a resposta era simples.
Ouço o barulho de uma panela cair bruscamente, vindo de dentro da casa.
Nos olhamos no mesmo instante, suspirando juntos, quase como um espelho.Bem, ai está a resposta.
Não, isso não vai ser nem um pouco fácil.
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...