Quando menos esperava, eu estava sendo levada por um corredor completamente branco e sem vida, e várias pessoas vestidas de branco estavam vindo em minha direção.
Tudo se passava em câmera lenta, eu conseguia observar o desespero de Moody, as enfermeiras falarem alguma coisa na qual eu não escutava direito, e no fim do corredor, eu vejo Bash. Foi literalmente como uma luz no fim do túnel, ver seu semblante sempre tão amigável avistando o meu rosto.
Ele correu em minha direção ajudando a me tirar da cadeira de codas, e me colocar em cima da cama branca, e fechou a porta rapidamente, deixando Moody, e duas enfermeiras junto a nós dentro do quarto.
— Anne, preciso ver como você está, se me der licença. — ele diz, e eu entendo o recado. Eu já não sentia mais o meu corpo, eu só sentia dor, e uma tremenda agonia percorrer toda a minha estremidade. — Ela vai ter o bebê agora. — ele diz para a outra enfermeira.
— O que? — gritei com o vestígio de forças que consegui encontrar. Minha mente já estava misturando o que era real ou não. — Bash ela vai ficar bem? — digo por entre os dentes, quase sem fôlego.
— Sim, ela vai ficar. — ele coloca as luvas de plástico e olha no fundo dos meus olhos. — Quero que faça força o máximo que puder, e segure a mão dele o mais forte ainda. — ele aponta para Moody.
— Ah... tudo bem então. — Moody responde meio inserto, estendendo sua mão para mim.
— Você consegue Anne! — Bash diz, enquanto eu apertava a mão de Moody tão forte que sentia que em algum momento a quebraria.
— Está vindo, olhe! — Bash diz para Moody, o fazendo parar por um momento e olhar a situação.
— Ai meu deus... — ele diz antes de desmaiar no chão ao meu lado. Eu queria muito rir, mas a situação não me favorecia, mas Bash não exitou em rir mesmo que disfarçadamente.
E então eu ouço o choro dela. Foi o som mais doce que eu já ouvi.
— Está tudo bem pequena. — Bash a segurou em seus braços, a enrolando na toalha, limpando o seu rosto delicadamente. — Ela é linda, Anne. — ele se aproxima de mim e a coloca com cuidado em meus braços.
Eu não consigo explicar essa sensação. Foi como se eu nunca tivesse sido infeliz em toda a minha vida.
Como se todos os problemas não importassem mais.
Como se o tempo tivesse parado ali.
E parecia que Cole estava ali, eu sabia que estava.
Eu a via em seu rosto. Em seus olhos tão pequenos, mas não cheios de vida.— Olá pequena princesa da neve... — sinto meus olhos inundados de lágrimas, enquanto passava os dedos delicadamente pelas suas bochechas rosadas, e acariciava seus cabelos tão ruivos quanto os meus.
— Bom, eu vou cuidar dele. — Bash diz, se aproximando de Moody que estava jogado no chão. — Ei cara, acorda! — ele sacode o garoto, que desperta assustado.
— Não fui eu! — ele grita, acordando do desmaio. Leva alguns segundos para ele retornar a consciência, quando ele finalmente olha para mim. — Anne... — ele se levanta e se aproxima de mim. — Ele é tão lindo...
— É uma menina, Moody. — eu sorrio do jeito que ele disse com tanta certeza de que era um menino.
— Uma menina... perdão. — ele gagueja. — Ela é a sua cara.
Poupei qualquer julgamento que fosse sobre mim mesma naquele momento, enquanto olhava para seu rostinho tão calmo, que realmente parecia um anjo.
Era um amor que eu não imaginava que pudesse sentir. Eu não imaginava que era capaz de tanto.
— Já decidiu o nome? — Moody perguntou sorridente.
— O nome dela é Angel. — sorri apreciando os detalhes do rostinho dela. Eu não queria solta-la nunca mais.
Até que Bash se aproxima de mim, me fazendo a última pergunta na qual eu queria ouvir:
— Gilbert está vindo? — ele sorriu ao meu lado, mas seu semblante de felicidade logo se desfez ao perceber meu olhar encontrar o seu sem nenhum vestígio de esperança. — Quer dizer... — ele coça a garganta, engolindo em seco. — Eu pensei que ele estivesse com você, já que depois de me entregar as crianças ontem a noite, ele me disse que iria atrás de você. Ele saiu desesperado pela madrugada.
Ele conseguiu. Ele protegeu as crianças.
Mas nesse momento, a atmosfera parecia ter desabado ao meu redor, e tudo mais uma vez havia caído por terra.
Esse tempo todo estávamos nos desencontrando? Onde ele deve estar agora?
— Para onde ele foi Bash? — segurei em seu braço com uma das mãos, suplicando por uma explicação, um sinal, qualquer coisa que me fizesse encontra-lo.
— Ele pode ter ido para as ruínas. — Moody diz com o olhar pesado, dando passos largos até mim, e sua mente parecia não querer aceitar o que iria falar adiante. — Mas se ele for pego na divisa esse horário, ele pode estar...
— Ele pode estar morto. — completei a frase com as palavras que eu mais temia, sentindo minhas forças se sesarem, largando meu corpo frágil como uma pétala sozinha e sem destino. Após sentir em meu peito a possibilidade que eu nunca quis cogitar.
Minha visão se fechou em uma clareira de neve, apagando todos os meus sentidos imediatamente, nem sequer me dando a chance de me despedir de ninguém.
Sinto meus olhos se fecharem sem a minha permissão, e em um segundo eu simplesmente não estava mais ali.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...