─ Eu falei pra você não por mais sal! ─ diz Gilbert estérico ao meu lado, com Delphine em seu colo.
─ Você não me disse nada! ─ rebato no mesmo instante, colocando os pratos sujos dentro da pia, o fuzilando com os olhos.
─ Você não presta atenção! ─ pigarreia, agora com um tom mais alterado.
─ Eu estou prestando atenção em 7 crianças, e você em 1 bebê! ─ jogo o pano de prato em cima do fogão sem querer, e ele pega fogo.
─ Anne! ─ grita Gilbert, e em um ato brusco, joga a jarra de água que bebebos do poço, no fogão, apagando-o no mesmo instante. A fumaça começa a subir, me fazendo pigarrear. ─ Abra as janelas. ─ ele pede tossindo.
Abro as janelas com o resto de paciência que eu não tinha e me viro para olha-lo, com raiva.
─ Não me olhe assim. ─ ele diz, agora mais calmo. ─ Parece que você está em outro mundo.
Passo a mão pelos meus cabelos desgranhados, esgotada, e corro para desligar a panela de sopa que estava borbulhando.
─ Não estou afim de conversar agora, Gilbert. ─ digo ao perceber ele me olhando sem sequer piscar.
─ Anne... ─ diz com seu olhar pesado, porém para quando ouvimos o barulho de uma arma ser engatilhada.
Parecia muito perto, perto demais.
Gilbert me olha contorcendo os lábios, não se podia ouvir nem o barulho de nossas respirações.─ Gilbert. ─ sussuro olhando para janela, e ele segue meu olhar no mesmo instante.
Um soldado com uma arma, rondando a região.
─ Espere aqui. Não faça barulho. ─ sussurra pausadamente, enquanto apertava minha mão com força.
Ele vai em direção a janela e a fecha devagar, em seguida puxa a enorme cortina amarela, e se vira para as crianças.
─ Eu vou precisar da ajuda de vocês agora. ─ diz ainda sussurrando se inclinando para perto da mesa. ─ Vocês vão ter que ficar bem quietinhos agora, se não o...
O interrompo, pois sabia que ele iria dizer "o lobo mau", e iria ser ainda pior:
─ Estamos brincando de surdo e mudo. Quem for a criança que ficar mais quietinha vai ganhar uma surpresa. ─ digo animada, e Gilbert sorri piscando para mim.
E funcionou.
Gilbert caminha rapidamente para a porta de entrada, com Delphine em seu colo e abre a portinha que dava acesso para espionar as visitas.
Ele fica por alguns segundos observando, e sinto que meu coração vai explodir.
─ Foi embora. ─ suspira aliviado, fechando os olhos. ─ Mas melhor continuar sem chamar atenção.
─ Vocês estão de parabéns, todos ganharam. ─ digo e as crianças sorriem. ─ Porém vamos ficar em silêncio para o tio Gilbert fazer a Delphine dormir ok?! ─ eles concordaram com a cabeça.
Gilbert se aproxima e se senta perto da janela, espionando novamente.
─ Gilbert me desculpe eu...
─ Não se desculpe. ─ me interrompe. ─ Eu é que deveria ter prestado atenção. ─ sorri de lado, ajeitando Delphine em seu colo.
Encaro meus pés por um segundo, antes dele soltar a bendita frase que eu sabia que iria perguntar:
─ Você vai fazer o teste? ─ sinto sua voz vacilar um pouco.
─ Eu tenho medo... da resposta. ─ meu olhar pesa e derrepente sinto minha garganta ficar seca. ─ Vou fazer isso logo, se não eu vou morrer. ─ digo em disparada, correndo para pegar o teste que estava em cima da geladeira, e percebo seu espanto.
─ Anne! ─ antes de correr para o banheiro ele me chama. Me viro para olha-lo e vejo seu semblante de felicidade, por incrível que pareça ele estava sorrindo. ─ Se for uma criança irritada como você, eu estou ferrado. ─ ri como um idiota.
─ Cala boca, idiota. ─ sorrio.
─ Mas sério... ─ sinto seu olhar queimar a minha pele. ─ Estamos juntos nessa.
Era estranho, porém recofortante ter o seu apoio. Até porque ele não precisava ajudar uma garota grávida de um filho que não era seu. Poderia estar nos braços daquela Winnie agora mesmo. Mas ele não se importava em trocar fraudas o dia inteiro.
O que eu posso falar dele? Que é o homem dos meus sonhos?
Dou um sorriso fraco em resposta e sigo para o banheiro.
Me sento no vaso, com o teste em mãos, e um filme se passa pela minha cabeça.
E agora?
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...