26↳ 𝐦𝐲 𝐨𝐧𝐥𝐲 𝐰𝐢𝐬𝐡

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A brisa suave da primavera acariciava minhas têmporas, sussurrando em meu ouvido o início de uma madrugada longa e estranha, me despertando sem pressa do meu sono pesado.

Eu estava deitada no chão, apenas em cima de um pano fino e áspero, em uma posição nada confortável. Incrivelmente consegui dormir, apesar das circunstâncias, porém não durou muito.

Um cavalo. O barulho de uma carroagem.

Me sento com dificuldade, e consigo observar com clareza a visão da lua cheia que ofuscava do lado de fora da casa, como se me alertasse que aquele seria o momento ideal, para dar um fim a aquilo tudo.
Uma carroça estava posta do lado de fora, apenas com um homem dentro dela, que parecia estar descarregando algumas entregas pesadas.

E foi ali que eu encontrei a minha única saída.

Todas as meninas dormiam como pedras, cansadas de tudo o que esse lugar ocasionava em suas cabeças sólidas e totalmente perdidas.

Me levanto com dificuldade, sem saber ao certo como eu estava tendo forças para me manter de pé, visto que eu não comia a mais ou menos 2 dias.

O luar se derrama pelo chão, brilhando o suficiente para que eu consiga enxergar o caminho até a porta de saída. E eu ando na ponta dos pés como se estivesse prestes a matar alguma vítima, e mesmo assim o piso de madeira se rangia em baixo de mim, mas para a minha infortuna sorte, ninguém se acordou.

E após finalmente chegar até a porta, minha mente se esclareceu no momento certo: Eu preciso de um disfarce.

Olho para todos os cantos da casa e avisto um chapéu em cima da mesa da cozinha, junto com uma jaqueta verde musgo, que parecia pertencer a um homem. Não penso duas vezes e me visto, logo correndo sem fazer barulho, abrindo a porta o mais devagar que eu pude, a fechando atrás de mim.

Dou de cara com a carruagem, e o homem vestido com roupas do exército estava prestes a sair, se ajeitando no banco.

— Senhor, espere! — digo, correndo desajeitada até ele. — Poderia me dar uma carona? — pergunto ofegante.

— Eu vou para muito longe minha senhora. — ele responde com um sorriso sem graça.

— Onde?

— Para a fronteira de batalha. — ele me olha, esperando minha resposta.

— É exatamente para onde eu vou. — sorrio de orelha a orelha. — Eu não posso te pagar, mas juro que é por uma causa justa. Eu preciso encontrar uma pessoa. — eu seguro a mão que ele havia me estendido, e me sento ao seu lado.

— Seu marido? — ele diz com os olhos fixos no caminho, após dar as rédeas para que o cavalo andasse.

Fico alguns segundos pensando sobre aquela pergunta, mas finalmente respondo.

— O amor da minha vida. — eu nunca havia sido tão sincera em relação a alguma coisa como a aquela resposta.

— Vamos encontrar o seu amor então. — ele sorri simpático.

Andamos por um longo período, sem falar nada, apenas observando a estrada deserta e escura, que era iluminada apenas com um lampião que ele tinha pendurado na carroça.

— A quanto tempo se conhecem? — ele quebra o silêncio se dirigindo a mim.

— Bom... quase um ano. Mas é como se fosse a vida inteira. — suspiro fundo.

— Eu também tive um amor. — ele diz com um sorriso estampado em seu rosto.

— Qual o nome dela? — enclino a cabeça para olha-lo.

— Ruby. — ele sorri, suspirando fundo.

— E qual é o seu nome?

— Moody, e o seu? — diz ainda sem tirar os olhos da estrada.

— Anne. — minha respiração sai mais pesada do que eu imaginava, ao me lembrar de quando me apresentei para Gilbert pela primeira vez. E era inevitável não sorrir ao me lembrar dele, mas ao mesmo tempo, sua lembrança doía em mim, mais do que uma facada no peito, ao pensar na mera possibilidade de algo ter acontecido com ele.

— Nós vamos nos casar assim que tudo isso acabar. — ele sorriu mostrando os dentes, e dava para ver o seu entusiasmo ao falar de Ruby. — Eu prometi a ela. — ao terminar a frase, meu sorriso se desfez.

Como eles podiam manter promessas em meio a uma guerra?

— Isso é incrível... parabéns pelo noivado. — respondo ainda meio desconsertada.

— Mas me conte mais sobre ele, sobre vocês. — ele me olha pelo canto do olho.

Dou um longo suspiro, sentindo o ar faltar ao nosso redor, e engulo em seco antes de tentar com dificuldade achar as palavras certas para descrever ele. Para descrever o meu o meu anjo da guarda.

— Ele não parece ser real. — suspiro fundo, e sorrio ao perceber que finalmente estava conseguindo admitir aquilo para mim mesma. — Ele é um pouco atirado, sem vergonha... não perde uma oportunidade de me irritar. — sorrimos em uníssono, e eu continuei. — Ele era a pessoa mais humilde que eu conheci. O tipo que eu achava que nunca iria encontrar. Ele fazia de tudo por todos a sua volta, e não conheço uma pessoa que tenha passado por ele sem ser transformada de alguma forma. Ele me transformou, me fez perceber que eu valia a pena... que eu sempre iria conseguir alcançar o que eu quizesse, mesmo que para mim parecesse impossível. Ele nunca deixou de acreditar em mim. — sinto uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto. — Ele nunca me julgou por ter tido um filho e não ter um marido, ao contrário disso... ele me ajudou a perceber que ser mãe não era uma coisa ruim como eu pensava. E sempre esteve do meu lado cuidando de cada ferida, cada mísera dor de cabeça ou enjôo... ele nunca desistiu de mim. — sinto a mão gélida de Moody apertar a minha com firmeza. — Eu o amava, mas nunca havia percebido isso antes. Eu semprei o amei, mas fui burra demais para ter dito enquanto eu tinha tempo, enquanto eu ainda o tinha comigo... e eu nunca vou me perdoar por não ter dito o que eu sentia para ele.

— Eu tenho certeza que ele te ama muito, Anne. — Moody apertou a minha mão enquanto encarava o meu rosto molhado. — Nós vamos encontra-lo. — ele assegura com convicção. Eu admiro a positividade de Moody com todas as coisas, mesmo que elas pareçam impossíveis.

— Eu preciso encontrar Gilbert Blythe, nem que seja a última coisa que eu faça.

𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora