19↳ 𝐨𝐧𝐞 𝐥𝐚𝐬𝐭 𝐧𝐢𝐠𝐡𝐭

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1 mês, se passou diante de nós como um sopro.
3 meses, como o decair da primavera intensa, que aflorece diante de nós sem dar nenhum sinal de alerta.
8 meses e a flor florescia em meu ventre, desabrochando sem espera, ansiosa.
E no nono mês eu conversava com ela, lhe contando todos os sonhos que eu tinha guardados no meu coração. E ela parecia me entender, ou pelo menos eu gostava de pensar que sim.

Minha princesa Angel.

5 de Maio de 1941 ༺ ─ dois dias antes.

Minhas costas doiam como se eu carregasse o peso de um saco de arroz penturado em meu corpo. Achar uma posição confortável para se passar a noite era uma missão quase impossível.
E eu perturbava o garoto de cabelos negros todas as noites, com minhas longas e diversas idas ao banheiro as 4 horas da manhã.

Me olhando no minúsculo espelho enferrujado do banheiro, encarando minhas olheiras, que como Gilbert dizia estava ficando com cara de mãe, tentando me manter de pé sem dormir ali mesmo.

─ Vem. ─ ele aparece como um fantasma na porta aberta, todo descabelado e com a cara amassada. ─ Dorme na minha cama, eu não aguento mais ver você assim. ─ diz com a voz rouca, de quem acabou de acordar.

Por mais que eu não quizesse, ele tinha razão. Gilbert era pior que pilolas para me fazer dormir.

Caminho até seu quarto, vendo ele ajeitar os 5 travesseiros que ele havia arranjado para mim. Ele os posicionava como se fosse uma muralha para alguma criança não cair da cama.

─ Você está com dor? ─ resmunga ainda sonolento, cossando os olhos. Eu não respondo, apenas sorrio fraco e ele incrivelmente me lê. ─ Ok, vem cá.

Sigo até sua cama e me sento em meio aos travesseiros com os pés ainda para fora.

─ Aonde dói? ─ sinto sua voz perto de meu ouvido e estranhamente me arrepio.

─ Nos ombros. ─ sussurro, fechando os olhos.

Ele passeia os dedos delicadamente sob meus ombros, descendo até minhas costas massageando delicadamente.

─ Você está muito tensa. ─ beija meu pescoço rapidamente. ─ Quer deitar? ─ ele diz e eu me viro para ele. ─ Você está morrendo de sono. ─ suplica com os olhos preocupados, e põe a mão em meu rosto.

Assinto com a cabeça e me deito em um dos travesseiros.

Ele puxa um cobertor e me cobre até os ombros, se ajeitando ao meu lado, apoiando a cabeça em uma mão.

Gemo de dor, ao sentir Angel chutar.

─ Ela está agitada? ─ diz passando a ponta dos dedos em meu rosto cansado. ─ Posso ver? ─ diz, e eu concordo com a cabeça.

Ele passa sua mão quente em minha barriga esposta e gelada e ela da um chute no mesmo instante.

Ela era apaixonada por ele.

─ Calma meu amor, agora é hora de dormir. ─ acaricia minha barriga, e em seguida abaixa o cobertor até minha cintura. ─ A mamãe quer dormir. ─ dessa vez beija-a com cuidado, e me olha sorrindo. ─ Desculpa, eu só queri...

─ Pode continuar, sabe que ela é apaixonada por você. ─ ele sorri e distribui vários beijos em toda minha barriga. E incrivelmente Angel parecia ter dormido, ou pelo menos se acalmado um pouco. Apoio minha cabeça em seu ombro descansando ali mesmo. Eu me sentia em casa. — Gilbert acha que nós vamos conseguir tudo para fazer a festa amanhã? — sussurro, suspirando fundo, meio apreensiva.

— Eu creio que já temos quase tudo. — ele acaricia meu braço com o polegar delicadamente. — Não se preocupe, vai ser a melhor festa que eles vão ter. — ele beija a minha testa por um segundo.

— Eu espero que seja um dia bom. — digo meio sonolenta e cansada.

— E vai ser, graças a você. — eu levanto o rosto para encara-lo e ele sorri, passando a mão pelo meu rosto. Beija minha bochecha com cuidado e arrasta o cobertor para nos cobrir do frio que estava naquela noite.

Estar com Gilbert depois desses longos meses não tinha sido uma tarefa fácil, mas serviu para me provar que não importa o que você fez, ou o que você foi, sempre haverá alguém que irá gostar de você apenas por ser quem você é.
E apesar de nós discutirmos quase sempre, ele nunca sequer pensou em me deixar para trás, eu me sentia cuidada por ele todos os dias em que eu estive ao seu lado.
Ele sempre soube ser um amigo de verdade.

E incrivelmente eu dormi sem muito esforço naquela noite, nos braços daquele homem, no qual eu não fazia idéia que seria capaz de salvar a minha vida.

𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora