Nós duas entramos dentro da carroagem, onde nos sentamos com a ajuda dos dois homens que nos guiaram, sem dizer uma palavra sequer, após o comando de Dr. Phillips.
Stacey estava apreensiva ao meu lado, balançando sua perna na tentativa de aliviar seu visível nervosismo.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem. — coloco minha mão sobre a sua e sorrio fraco para ela. Por mais que eu não acreditasse nas minhas palavras, parecia o certo a se fazer.
O caminho de terra e repleto de buracos, tornava a viajem cansativa. Na verdade tudo aquilo se passava como se fosse uma eternidade em minha cabeça.
Até que presumi que finalmente chegamos ao tal lugar mais seguro, assim que a carroagem parou de uma vez, nos obrigando a nos segurar para não voarmos para o banco da frente.
O rapaz vestido com a roupa do exército e altamente armado, abriu a porta, ajudando Stacey a descer segurando firmente em sua mão, e em seguida eu.
Porém o homem estranhamente se aproxima de mim, e percorre a mão pela minha barriga derrepente, como se tivesse o total direito de fazer aquilo.
Eu me sinto totalmente inofensiva perto dele, sinto que não tinha o direito de achar aquilo ruim, até porquê ele estava armado.
Olho para o lado me sentindo totalmente desconfortável com aquilo, e vejo uma fumaça espessa e grossa saindo de algum lugar, não muito distante dali. Meu corpo altamente entra em choque, ao imaginar o que poderia ser aquilo, e um nó se formou em minha garganta, porque eu sabia o que era.
— Eles fedem ainda mais quando queimam, não é? — ele diz, com um sorriso perverso em seus lábios estreitos, com um olhar malicioso, me causando náuseas.
— Tire suas mãos imundas da minha filha. — digo por entre os dentes, mas alto o suficiente para que ele ouça com clareza, e no mesmo instante, empurrei a sua mão para longe de mim.
Sigo Stacey o mais rápido que eu pude, e tento ignorar o que havia acabado de acontecer.
Os outros dois homens que antes nos guiram até a carroagem, seguem na nossa frente, e caminhamos até a porta de entrada da casa, que parecia abandonada.
— É só entrar, as outras já sabem que vocês são novas. — diz o senhor mais alto e forte ao meu lado, com sua pose impenetrável, sem mover um musculo fora do lugar.
— As outras? — junto as sobrancelhas olhando para Stacey, que também não entendia mais nada.
— Sim. — ele diz simplesmente, já colocando a mão na maçaneta velha e enferrujada, escancarando a porta. Ele faz um sinal com a cabeça, nos avisando que poderíamos entrar sem problema nenhum, e assim fazemos. Nós duas estramos, como se estivéssemos pisando em ovos, sem saber ao certo o que fazer, ou o que falar, ou como reagir. A verdade é que aquela lugar era assustador, e assim que eu avistei umas vinte mulheres, todas grávidas, algumas mau tendo roupas para se vestir, eu me senti sufocada. Era como se eu visse a imagem do inferno, ou alguma cena miserável de punição, porque aquelas condições não tinham nada de seguras. — Tenham uma boa tarde. — o soldado diz após fechar a porta ao nosso lado, não me dando a chance sequer de protestar contra aquilo.
Dei um longo suspiro, olhando para elas que apenas nos abservavam da cabeça aos pés.
Stacey se aproximou de mim, e segurou em meu braço com firmeza, como se estivesse me mando algum tipo de aviso.
— Olha só quem chegou, a dupla das patetas. — uma mulher protesta com um tom de irônia, e todas riram em conjunto a ela. — Olhem só parecem dois sacos de ossos. — elas todas riam dos comentários ridículos da mulher de olhos azuis.
Meu sangue ferveu, porém Stacey estava trêmula de medo e vergonha ao meu lado, como se pudesse afundar a sua cabeça num buraco.
Mas a raiva tomou conta de mim por um segundo, quando caminho dois passos para frente e ajeito meus ombros fala encara-la diretamente, mesmo ela sendo mais alta que eu:— Pelo jeito que você me olhou diria que ficou apaixonada. — digo irônica com o peito estufado de orgulho, e todas as outras gargalharam ao meu redor, até mesmo Stacey não conseguiu segurar o sorriso, cobrindo a boca disfarçadamente.
— O que você disse? — ela arregala os olhos, bufando pelo nariz, quase como se pudesse me matar com um simples olhar. E bem, ela queria me matar.
— Engraçado, acho que a falta de um banho acabou afetando sua inteligência também? — digo com a voz mansa, o que a vez ferver, era quase como se eu visse sair a fumaça de seus ouvidos.
— Olha aqui sua...
— Qual é Josie, deixe as duas em paz. — a garota morena disse para ela, a fazendo revirar os olhos e se sentar na cadeira um pouco longe de nós. — Não liguem para ela. Sou Jane, prazer. — ela estende a mão amigavelmente para mim e eu retribuo.
— Anne Shirley. — forço um sorriso, ainda sentindo a adrenalina daquela discussão me percorrer por inteira. — Essa é Muriel Stacey. — aponto para Stacey que estava ao meu lado.
— Espero que se deem bem aqui, apesar de não ser um lugar muito agradável. — Jane diz visivelmente cansada.
— O almoço está pronto! — anuncia em voz alta, uma garota que apareceu derrepente de outro cômodo da casa. — Vocês devem ser as garotas novas. Sou a Tillie. — ela nos lança um sorriso simpático.
E antes mesmo que nós pudessemos falar alguma coisa, todas correram para a mesa de jantar, empurrando umas as outras desesperadamente. Mas alguém esbarrou em mim com tanta força, que se não fosse Stacey para me segurar eu provavelmente cairia para trás.
— Isso ainda não acabou. — Josie sussurra perto de meu rosto com os olhos vidrados em mim.
— Que comecem os jogos. — sussuro sem recuar o olhar de suas órbitas, a vendo se virar e seguir até a mesa, com sua barriga perfeitamente desenhada e sua postura impecável, mesmo vestindo trapos velhos e encardidos.
Isso tudo havia apenas começado.
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𝐻𝑎𝑝𝑖𝑛𝑒𝑠𝑠 𝑖𝑠 𝑎 𝐵𝑢𝑡𝑡𝑒𝑟𝑓𝑙𝑦 ↳ 𝐬𝐡𝐢𝐫𝐛𝐞𝐫𝐭
Fanfiction↝ No início da 2° Guerra Mundial, Anne Shirley, que acabara de perder seu marido, agora se prepara para morar na Inglaterra, através de um trabalho voluntário, cuidando de crianças órfãs, na tentativa gloriosa de tentar superar tudo o que lhe havia...