Viro mais um copo de saquê. Ele desce queimando e é amargo - meu pai costuma dizer que o gosto da bebida diz muito sobre como está a sua vida. A minha, definitivamente, está amarga. Suspiro, algo que não faço com frequência, mas eu não conseguiria permanecer sozinho naquele apartamento, cercado apenas pelos meus pensamentos. Então, vim parar aqui, neste bar, afogando minhas mágoas na bebida e tentando, a todo custo, não pensar no quão idiota eu fui. Além de corno, minha ex engravidou do meu ex-amigo.
Como se não bastasse, o ex-namorado da minha atual namorada reapareceu... e ele é infinitamente mais bonito do que eu. É difícil não me comparar com um cara como ele - alto, loiro, forte, tudo aquilo que, geralmente, atrai a atenção de uma mulher.
- Que merda! - exclamo em voz alta. - Tudo isso é tão estúpido que chega a ser ridículo eu estar assim... - Sorrio sozinho, zombando da minha própria desgraça. - Fazer o quê? Acho que nasci pra ser trouxa e corno!
- Por que está resmungando tanto, meu jovem? - uma voz masculina dirige-se a mim.
- Porque minha vida é uma tremenda bagunça - respondo, com a fala já meio embolada.
- E de quem não é? - Olho na direção do dono da voz: um homem de cabelos grisalhos, aparentando seus trinta e poucos anos, com um sorriso sereno e uma cicatriz marcante sobre o olho esquerdo. - Posso me sentar? - Faço um gesto afirmativo com a cabeça.
- Bem... acho que minha vida não se compara à de muitos outros. Sou "sortudo" demais para dizer o contrário - digo, enchendo mais um copo de saquê e virando-o de uma vez.
- Acho que entendi seu ponto - comenta ele, apoiando a mão no queixo. - Isso vai acontecer mais vezes do que você pode contar, meu caro. Relacionamentos são complicados - diz, enquanto retira algo de sua mochila. - Não sou muito bom nesse ramo, então prefiro isto aqui - acrescenta, mostrando um livro de capa grossa e alaranjada.
- Esse livro tem as respostas que procuro pra minha vida? - pergunto, sarcástico.
- Não exatamente... mas oferece maneiras de melhorar algumas coisas - responde, sorrindo.
- Imaginei que você fosse o tipo de cara que prefere viver na imaginação... mas não sabia que um livro resolveria meus problemas - ofereço-lhe um copo de bebida, que ele aceita.
- Bem, Jardim dos Amassos pode até não ser um livro muito bem visto, mas me ajudou em alguns aspectos relacionados a... "relacionamentos". Você me entende.
- Esse não é o meu caso. Meu problema não é o sexo, mas sim o fato de que, além de corno, agora há um cara extremamente mais confiante do que eu, que surgiu do nada e que é o ex da minha namorada - suspiro. - Ele veio do outro lado do mundo só para vê-la... como competir com isso?
- Isso é deveras interessante... mas já passou pela sua cabeça o motivo de ele ser ex e não atual? - volto minha atenção para ele. - Acho que não. Pois deveria pensar nisso - acrescenta, enquanto serve mais um pouco de saquê no copo e o vira de uma vez. - Está vendo aquele casal ali? - aponta para uma mesa um pouco afastada, onde um homem de cabelos negros, aparentemente da mesma idade que ele, sorri alegremente para a mulher ao seu lado, uma moça de cabelos castanhos claros na altura dos ombros.
- Sim... quem são eles? - pergunto, interessado.
- Meus melhores amigos. Estão juntos há mais ou menos dez anos - responde, olhando para os dois. - E, acredite se quiser, ele ainda não fez o pedido de casamento - diz, sorrindo com os olhos.
- Por quê? Eles parecem gostar muito um do outro... isso é algo tão natural...
- Exatamente. Eu não sei o que se passa na cabeça deles. Para falar a verdade, hoje é um dia em que costumo ficar em casa, com os meus livros - diz, passando os dedos pela testa. - Eles me chamaram para beber, mas, cá entre nós, eu não estava muito afim de assistir ao casal animado - concordo com a cabeça. - Já que tomei a liberdade de me sentar à sua mesa, poderia ao menos saber seu nome?
- Sasuke Uchiha - respondo. Ele me lança um olhar surpreso e sorri levemente.
- Que baita coincidência! Meu amigo também tem o sobrenome Uchiha - olho para ele e depois para o homem afastado. Apesar de não parecer, o sobrenome Uchiha até que é relativamente comum. Não como outros, mas poucas famílias o compartilham, então não me surpreende encontrar alguém que o tenha, além da minha própria família. - Eu me chamo Kakashi Hatake.
- Acho que já ouvi esse nome antes... - comento, e não é mentira. Coloco mais uma dose de saquê no meu copo, esvaziando a garrafa. - Senhor, mais uma garrafa de saquê! - peço em voz alta, e viro o copo.
- Acho que sim... sou escritor - diz, meio envergonhado, passando a mão direita pelos cabelos.
- Isso explica o fato de se dar melhor com os livros - suspiro. - Quais livros você escreveu?
- Não são muitos... uns cinco - O senhor do bar chega com a garrafa de saquê e decido servi-lo um copo. - Escrevo livros infantis, embora não seja exatamente meu gênero favorito.
- Eu sou fotógrafo. Caso um dia precise de fotos, sou a pessoa certa - minha voz sai bem arrastada.
- Sobre o seu problema, acho que deveria refletir um pouco... e não tirar conclusões precipitadas. Tenho certeza de que sua namorada não pensa da mesma forma que você - sorri. - Foi muito bom falar com você, mas... já fui descoberto pelo casal - levanta-se e deixa a mesa.
E essa... é a última coisa de que me lembro.
Acordo em um quarto diferente. Levanto-me, olho ao redor. Minha cabeça lateja. A porta se abre e, por ela, aparece Shisui.
- Bom dia. Como você está se sentindo? - pergunta, segurando uma caneca de café.
- Nada bem - respondo, sentando na beirada da cama. - Como vim parar aqui? - pergunto. Ele sorri de lado.
- Bem, você estava muito bêbado, tanto que o dono do bar teve que pegar seu celular e ligar para o Itachi - minha expressão se fecha. Eu não acredito nisso. - Pega, tá quente. Isso vai ajudar com a ressaca.
- Obrigado - pego a caneca de sua mão. - Ela sabe que estou aqui? - pergunto, mais por precaução.
- Ela quem? - pergunta, confuso.
- Dona Mikoto.
- Sim.
- Puta merda! - exclamo, colocando a mão no rosto. - Foi mal... eu só... Ela vai me matar por ter feito isso.
- Relaxa, eu não vou deixar que ela faça isso - ele sorri, e eu também. Admito que fui um babaca por ter falado besteiras sobre ele. - Vou indo nessa - diz, saindo do quarto.
- Como eu vim parar aqui...? - suspiro. - Sasuke... você precisa parar de fazer tanta merda!

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𝓕𝓸𝓽𝓸𝓰𝓻𝓪𝓯𝓲𝓪
Roman d'amourVocê acredita em amor a primeira vista? Sasuke uchiha não, ele nunca foi o tipo de cara que sonhava em encontrar o amor da sua vida numa esquina, muito menos a primeira vista. Digamos que ele é até um pouco fechado em relação á sentimentos amorosos...