Capítulo 32.

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Respirei fundo e, como eu não podia sair da sala, esperando ordens de Fury, acompanhei Mary até um canto da sala e encostamos na parede, uma de frente para a outra. 

Mary tinha envelhecido bastante, mas eu não sabia dizer se devido ao estresse dos últimos dois dias com Elena desaparecida, ou dos últimos dois anos, cuidando dos netos e tendo que lidar com a prisão do filho. 

De qualquer forma, senti pena das olheiras fundas e dos olhos vermelhos e inchados. Me encarando e cruzando os braços, Mary começou a falar. 

-Sabe, Nathalie... Eu só queria entender o porquê. 

Desviei o olhar, tentando manter a paciência. 

-Você sabia que ele se apaixonou, não é? - Mary passou a mão pelos cabelos loiros e descabelados. - Eu sabia que ele estava metido com coisa errada, mesmo que eu não quisesse admitir e tenha preferido ignorar. Mãe sempre sabe! Talvez você ainda não entenda, mas toda mãe conhece o filho como a palma da mão...

Dei um leve sorriso involuntário, pensando no bebê que estava dentro de mim. Será que um dia, eu conheceria ele tão bem a ponto de saber se ele estava apaixonado, como minha mãe, ou se ele tinha feito algo errado, como Mary? 

-Se a senhora sabia, Dona Mary, por quê não o impediu? 

Mary sorriu. Um sorriso triste e melancólico. 

-Sabe... Você está grávida, não está? - Não respondi. Ela suspirou e sorriu. - Sim, você está. Mais bonita, mais gorda... Nathalie, se eu pudesse te dar um conselho sobre esse neném, seria: Faça o seu melhor. Ensine o melhor caminho. Faça de tudo para que ele seja a melhor pessoa do mundo todo, enquanto ele estiver crescendo, mas... Depois, quando ele estiver grande o suficiente para tomar as próprias decisões... Não as impulsivas, de adolescentes, mas as decisões que vão afetar a vida dele... Se ele se desvirtuar, tenha em mente que a culpa não foi sua. Não pode ser. Você fez de tudo, mas... Mas quando ele souber o que fazer da própria vida, então é com ele! 

Mary enxugou uma lágrima. E talvez, apenas talvez, eu tenha enxugado outra. 

-Já sabe o sexo? 

Neguei. 

-Eu tô de onze semanas... Só a partir da semana que vem, e tivermos sorte. - Fiz uma pausa, observando Fury brigar com um Agente. - Mas eu acho que... Eu apostaria em uma menina. 

Mary sorriu. 

-Eu... Bem, confesso que eu tive tanta raiva de você, Nathalie. Tanta... 

-Não culpo você. - Cortei, evitando revirar os olhos. - Mas era o meu trabalho... 

-Eu entendo. - Mary sorriu e segurou minhas mãos. - Mas é que eu não consegui evitar o pensamento que se você não tivesse aparecido na vida dele... Tudo ia estar bem. E eu sinto muito! Quero dizer... É uma grande bobagem! Você não teria que ter aparecido pelo condominío se Edward não tivesse se desvirtuado do caminho em que eu tinha planejado que ele trilhasse. 

Concordei com a cabeça, tentando dar um sorriso leve. Mary suspirou. 

-Vocês vão encontrar a Elena, não vão? Os irmãos delas estão tão preocupados que quase não comem, o namorado parecia que ia sofrer um AVC e ele tem vinte anos... E eu... Ela é minha netinha, Nathalie! Eu a amo... 

Mary começou a chorar. Um choro agoniado e com medo. Venci o orgulho e puxei Mary para um abraço. 

-Eu prometo que vou tentar de tudo para trazer a Elena de volta e inteira, Mary. É por isso que eles estão correndo desesperados assim... 

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